Futebol, violência e torcida
PUBLICAÇÃO
domingo, 25 de fevereiro de 2024
Julio Oliveira
O encontro de gerações em uma conversa faz surgir o saudosismo. Quase natural fazer comparações de épocas, por mais diferente que seja o assunto. O passado era melhor? A “tal” época era melhor? Não dá pra dizer. Certeza apenas que o tempo é mais rápido em suas atualizações e isso nos leva a comparações mais constantes.
O futebol é um bom exemplo dessas crises de época. “No meu tempo tinha fulano, beltrano.....”. Quando a frase começa com “no meu tempo” o assunto sai do lógico, independente da década. Fica irreal. Comparações que envolvem mais do que cinco anos de diferença hoje não é mais possível.
E não mudou só dentro de campo. O futebol era só entretenimento para uma sociedade que via no esporte a possibilidade de viver momentos de alegria e fuga. Era o lazer. Era a identificação de conquistas e memórias que se misturavam com as histórias da vida. Torcer para um time era se identificar com um patrimônio e se sentir parte dele.
O futebol continua sendo entretenimento, mas menos forte na capacidade de influenciar uma sociedade, e passou a sofrer com essa mesma sociedade que está levando para o futebol suas fraquezas. A violência dos dias atuais em estádios e arredores não é de torcidas. É da sociedade. Não há torcedores violentos. Há pessoas violentas se apropriando do futebol pela impunidade de um Estado que “acredita” que esta violência é de torcidas e não da sociedade civil.
O futebol-entretenimento virou futebol-negócio. E o público consumidor mudou, é mais exigente na qualidade e menos paixão. Alguns clubes já observaram isso e procuram, periodicamente, fazer ações que envolvem maior aproximação resgatando temas como racismo e violência contra a mulher, caminho para atrair novamente o bom torcedor.
Num tempo de engajamento, falta o Estado entender que a violência dos estádios é um problema civil e não isolado, e a sociedade olhar para “torcedores violentos” como pessoas que, em outros dias, dividem o mesmo tempo de vida. Separar problemas é não enfrentar. A torcida única nos estádios já é uma realidade e o debate para que seja permanente, um perigo. Assim, neste tempo “rápido”, logo teremos a violência eliminando o torcedor de futebol.

