RIO DE JANEIRO, RJ (UOL-FOLHAPRESS) - Após 2021 um tanto quanto frustrante, o Flamengo focou na pré-temporada em um técnico estrangeiro, trazendo o português Paulo Sousa ainda em clima saudoso do conterrâneo e multicampeão Jorge Jesus. No entanto, foi com um brasileiro e no meio de 2022 que o time reencontrou o rumo e recuperou o protagonismo. A chegada de Dorival Júnior traçou novos caminhos para o elenco que pareceria já ter perdido a liga quando o antecessor estava no comando.

Até aqui são 16 jogos, equivalente a 70% de aproveitamento e com vitórias contundentes em partidas importantes sob o comando de Dorival, que precisou de pouco mais de 50 dias para arrumar a casa. Nas primeiras coletivas, o treinador reforçou que a principal missão era recuperar a confiança do time multicampeão. Sem perder muito tempo, trouxe à tona a boa fase do elenco e deu cara ao Flamengo que lembra às atuações de 2019.

Tomando todo um cuidado para não comparar seu trabalho ao de Paulo Sousa, Dorival Júnior detalhou as medidas que tomou para recolocar o Rubro-Negro nos trilhos.

"Nada do que fale, eu vá fazer uma comparação com o trabalho anterior. Respeito todo o trabalho. Quando você assume o clube, tem consciência do momento da equipe. Respeito os que estavam aqui", iniciou, para depois complementar:

"Você dá um norte aos jogadores. Você mostra isso em vídeos, mensagens, movimentos e em campo. Isso é o trabalho tático. Natural que, com o calendário maluco, a dificuldade é muito grande. Mas todo tempo possível é aproveitado", disse Dorival, em coletiva após vencer o Corinthians por 2 a 0, pela ida das quartas de final da Copa Libertadores, antes de continuar:

"Eles perceberam coisas positivas. Nós fizemos ajustes, principalmente com o Arrascaeta, que é um jogador de grande nível. Se continuar jogando assim, sabemos que coisas incríveis acontecerão. É um trabalho em conjunto. Abordamos todos os aspectos possíveis para melhorar. Eles vêm acreditando, as coisas vêm se abrindo e mostramos apresentações como estamos mostrando."

Dorival prefere ser cauteloso com o momento do Flamengo, mas demonstra felicidade com a obediência tática que a equipe tem apresentado:

"O momento ainda está se consolidando, ainda não é outro. Depende da nossa postura daqui para frente. O Arrascaeta disse algo importante: se não acreditam no que está sendo passado pelo treinador, a gente fica pelo caminho. Fico muito satisfeito porque todos os comportamentos pedidos, agressividade, foi trabalhado aos poucos e está gerando resultado", finalizou.

Com o tempo, Dorival deixa explícito o 'melhor Flamengo' que vê à disposição. A escalação dita titular foi utilizada em cinco oportunidades: Corinthians, Athletico-PR, Juventude, Atlético-MG e Tolima. Curiosamente, a partida de ontem (2) foi a primeira desta formação como visitante. O saldo total é positivo com esta formação: quatro vitórias e um empate.

Foram alguns testes até que Dorival encontrasse o Flamengo ideal. Duplas de zagas foram utilizadas antes que David Luiz e Léo Pereira se consolidassem em boa fase. Nas laterais são feitos revezamentos: Rodinei ou Matheuzinho, Filipe Luís ou Ayrton Lucas. Em muitos momentos, o que faz o técnico definir é o calendário do futebol brasileiro. Dorival 'olha para frente' ao escalar a equipe e, basicamente, o time titular faz um jogo sim e outro não.

A primeira vez foi contra o Tolima e, na partida seguinte, foi poupado contra o Corinthians, pelo Brasileirão. Na sequência, encarou o Atlético-MG, pela Copa do Brasil, mas não jogou contra o Coritiba (Brasileiro). O time ideal voltou a campo contra o Juventude (Brasileiro) foi poupado contra o Avaí (Brasileiro) e retornou contra o Athletico-PR, pela ida das quartas do mata-mata nacional.

Antes de atuar contra o Corinthians, foi poupado contra o Atlético-GO. Cabe destacar que Dorival opta por revezar algumas peças ao invés dos 11 principais. Nestes momentos, os rodízios dos laterais e dos zagueiros e, além disso, alguns jogadores já ganharam oportunidade nessas alterações. Diego Ribas, Lázaro, Marinho e Victor Hugo foram titulares em alguns momentos.

GABIGOL E PEDRO "DERRUBAM" PERGUNTA PADRÃO

Durante muito tempo, os treinadores que passaram pelo Flamengo conviveram com uma pergunta padrão dos jornalistas: Gabigol e Pedro podem atuar juntos? E o técnico Dorival Júnior tem provado que sim. O treinador, aliás, já desembarcou no Ninho do Urubu com o discurso de que a dupla poderia dar certo no time titular, citando como já havia aproveitado Gabigol nos tempos de Santos.

É certo dizer que a junção dos atacantes entre os 11 também foi "facilitada" pela infeliz lesão de Bruno Henrique, que o tirou da temporada. Porém, é fato também que o treinador tem muitos méritos.

Num perfil mais de "garçom" e entrega ao jogo coletivo, saindo mais da área, Gabigol fez Pedro se destacar com gols e boas atuações. O camisa 9, no entanto, vinha incomodado com o jejum sem balançar as redes que já durava seis jogos, algo que foi encerrado com o gol feito ontem, o segundo da vitória por 2 a 0 sobre o Alvinegro paulista.

Durante o período de "seca", Dorival fez questão de passar confiança a Gabigol, frisando que a bola iria entrar no momento que precisassem, o que de fato ocorreu.

PAULO SOUSA

A passagem do português durou quase seis meses com altas expectativas, que não resultaram em realidade dentro das quatro linhas. Com atuações abaixo do esperado e polêmica nos bastidores, Paulo Sousa deixou o Flamengo após 34 jogos e aproveitamento de 67%. O trabalho de Sousa, inclusive, foi lembrado por Arrascaeta em coletiva, após a vitória de ontem (2), que deixou o Rubro-Negro mais perto da semifinal da Libertadores.

"A gente vem em uma evolução muito boa. Entendemos muito rápido o trabalho do treinador, o que ele disse. Cada treinador tem sua forma de jogar. Com o Paulo não fizemos as coisas da maneira como deveria ou não deu certo, mas acontece no futebol, acontece com várias equipes. O mais importante é que a gente nunca desacreditou da força da equipe e foi fundamental todos entenderem a ideia nova. A gente está hoje colhendo os frutos do dia a dia", comentou o camisa 14.