No começo da carreira no hipismo adestramento, em 2008, o cavaleiro João Victor Marcari Oliva tinha sua imagem sempre associada aos pais famosos: o empresário José Victor Oliva e a ex-atleta Hortência, uma das maiores jogadoras de basquete do mundo. As conquistas recentes fizeram com que se firmasse em uma "carreira solo" sobre o cavalo. Na Alemanha, onde mora há quatro anos, ele é "só" o João Victor.

Hoje, ele é o principal nome do adestramento no Brasil, modalidade clássica do hipismo. "Adestramento é o conjunto de movimentos que você tem de apresentar para o juiz. Quanto mais bem executados os movimentos, maior é sua a pontuação", diz o próprio cavaleiro.

O último grande resultado de João Victor foi a classificação para os Jogos Pan-Americanos de Lima. Com o cavalo Biso das Lezírias, ele foi campeão e vice nas duas seletivas com notas altas, acima de 70%. No Pan, ele busca a partir do dia 27, data de sua estreia, sua segunda medalha na carreira - foi bronze em Toronto-2015. Na Olimpíada do Rio, João Victor foi o melhor atleta da equipe brasileira.

O cavaleiro de 23 anos é objetivo e direto. Usa frases sem gordura. Ele é amante das coisas do campo, música sertaneja, fazenda, terra e mato. Até seu jeito de falar vem da fazenda com o sotaque do interior paulista.

Subir ao pódio em Lima significa garantir uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. "Estamos indo com um time forte. Qualquer medalha que a gente conquistar leva o Brasil para a Olimpíada. Nosso foco é esse", explica.

Ele começou a montar aos três anos no rancho dos pais, em Araçoiaba da Serra, município da região conhecida como "cinturão do cavalo", a 130 quilômetros de São Paulo. Aos 12 anos, estreou nas pistas inspirado por Rogério Silva Clementino, funcionário do rancho e primeiro negro a integrar uma equipe olímpica da modalidade no País. A paixão pelos cavalos veio do pai; a disciplina de atleta nasceu da rainha do basquete. O talento é dele mesmo.

A reportagem do Estado encontrou João Victor na Sociedade Hípica Paulista, seu segundo lar. "Ele passa o dia inteiro aqui", conta a mãe Hortência, nome certo em todas as competições do filho.

Um dos fatores para a evolução do cavaleiro foi a mudança para a Alemanha, país referência no hipismo. Ele voltou ao Brasil só para disputar as seletivas para o Pan. "Eu sou tranquilo com esse negócio de saudade. Falo um pouco no telefone e já era. Eu já me acostumei", diz a mãe. "É difícil, mas a gente cria os filhos para o mundo. O João já voou", conta Hortência.

A maior pontuadora da história da seleção brasileira ficou feliz quando o filho optou por uma modalidade bem distante do basquete. "Os filhos seguem os pais. Seguiu o pai. Ainda bem. Seria muito difícil para o João Victor conviver ao lado de uma pessoa que conquistou um nome e muitos títulos. A cobrança seria muito grande. Eu acho cruel isso. No adestramento, não", entende a "rainha".

Mas a modalidade esportiva luta para crescer no Brasil. Volta e meia ele precisa explicar como é o adestramento. "É um esporte caro, né? Você precisa manter um cavalo, que não é um animal barato. Temos poucos lugares para treinar esse esporte. Falta aparecer. Também é um esporte que não é muito fácil de entender. Mas ele fica legal quando você começa a assistir e a entender suas regras."