TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Duas vezes medalhista olímpico, Arthur Zanetti sabia que precisava ousar em Tóquio para buscar a terceira conquista, o que seria um feito inédito nas argolas.

A série que o ginasta de 31 anos apresentou na qualificação resultou na nota 14.900, que o deixaria fora do pódio nesta segunda-feira (2). Era preciso subir o sarrafo e mostrar algo diferente para os juízes.

A opção dele e do treinador Marcos Goto foi executar um outro movimento na saída do aparelho para aumentar o grau de dificuldade. Se acertasse o triplo mortal grupado, pelos seus cálculos, teria tudo para aumentar a pontuação em três décimos e ficar entre os três primeiros.

O grego Eleftherios Petrounias, campeão na Rio-2016, levou o bronze com 15.200 —ouro e prata foram para os chineses Yang Liu e Hao You, respectivamente, com 15.500 e 15.300. Zanetti, porém, se desequilibrou e caiu, encerrando a participação olímpica na oitava posição, último entre os finalistas, com 14.133.

Primeiro a se apresentar nas argolas, ele teve tempo para absorver o baque e chegar muito tranquilo para as entrevistas.

“Temos que sair felizes em tudo na nossa vida. Não é porque errei que tenho que sair triste. Saí feliz porque arrisquei. Ninguém sabe o quanto sofri pra fazer essa saída. Machuquei o pé várias vezes e, se eu não tivesse feito hoje, com certeza ficaria triste”, afirmou. “Pelas notas que venho tirando nas apresentações, ficaria em quarto ou quinto. Aí você me veria triste, porque não arrisquei.”

Durante um ano, o atleta e Goto tentaram mexer na série de diferentes formas para aumentar a sua dificuldade, mas mudar a saída se mostrou a melhor opção, na avaliação deles. “A gente sofre para aumentar um décimo. Lógico, era uma saída arriscada, mas era para o tudo ou nada.”

Zanetti acredita que tenha de 70% a 80% de chances de acertar o movimento numa situação normal. Em Olimpíadas, porém, a pressão é incomparável. “Aí pode rasgar o papel que não serve para nada.”

Tranquilo com a sua performance, o atleta só desabou ao falar sobre o filho, nascido há 11 meses. O ginasta levou um macacão para ter o cheiro de Liam ao seu lado durante o período em que passou fora. Primeiro na preparação, realizada em Doha, e depois para participar dos Jogos.

“É difícil, velho [chora]. Minha maior conquista, sem palavras. Quase dois meses fora de casa, perder a evolução… Agora ele está evoluindo muito rápido e só fico vendo pelo celular."

Entre os melhores por uma década, Zanetti até pensa em aproveitar o ciclo mais curto, de três anos, para ir até os Jogos de Paris-2024. Mas ele ainda não crava essa decisão.

“Olimpíadas é muito bom, mas desgasta muito, principalmente a cabeça, e eu preciso dar uma relaxada agora, na cabeça principalmente. O corpo está tranquilo, mas a cabeça precisa dar uma descansada para pensar depois num próximo ciclo olímpico.”