A passagem da Copa do Mundo pelo Brasil mudou o conceito de estádios de futebol. O que já era comum em países europeus, chegava ao nosso país: as Arenas. Padronizadas e confortáveis, eram modelos uniformizados do que se entendia por padrões de qualidade no protocolo FIFA.

Mas trouxeram uma elitização de público, devido aos altos custos operacionais, tornando o valor de ingressos pouco acessível, mesmo para os campeonatos nacionais. Não temos mais torcedor de verdade na maioria dos estádios. Temos muito mais espectadores. Temos quem pode pagar pelo conforto que essas novas praças oferecem e que, naturalmente, está embutido no preço.

Mas como é Brasil, precisávamos deixar alguma coisa com a nossa “cara”, aquilo com jeitinho brasileiro de ser ou de não fazer. Assistir campeonatos internacionais – e não sou da opinião que são melhores só porque são internacionais – gera uma angústia enorme em não entender porque não conseguimos cuidar de nossos gramados. Por que é tão difícil manter uma temporada toda com o gramado no mesmo nível?

Excesso de jogos? Clima, temperatura? Nos dias de hoje não pode haver mais desculpas. A tecnologia está aí totalmente disponível para auxiliar todas as dificuldades. E não é só tecnologia, o conhecimento técnico evoluiu muito e não temos mais aqueles abnegados que cuidavam sozinho de um estádio e gramado, como Zeferino Pasquini fez por toda a vida, com o Estádio do Café.

O jogo da Seleção Brasileira em Cuiabá foi uma lástima de imagem. Um gramado horroroso, mal cuidado, desnivelado e chegou a ter uma reclamação/pedido dos jogadores para que a CBF cuide mais de onde vai colocar o time para jogar.

Se um estádio oferece conforto para o público que paga caro, tem que oferecer um gramado espetacular para que aquele jogo que ele pagou caro possa realmente acontecer. A qualidade técnica da partida não pode ser prejudicada pela falta de elementos que proporcionem aos jogadores atuarem 100 por cento da sua capacidade. E aí vemos finalizações bizarras, erros de passe grosseiros, lesões e queda de qualidade no geral.

O gramado é tão importante quanto a qualidade do uniforme, a iluminação ou o material do qual é feita a bola. Estão interligados. É fato. Mas alguém pode dizer: no tempo de Pelé, Garrincha, Jairzinho, os gramados eram ruins, a bola muito mais pesada e jogava-se em estádios até escuros etc. Sim, mas não vivemos mais naquele tempo. Eles foram gênios com aquelas dificuldades. Hoje é possível ter tudo melhor, e por que não ter?

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do leitor não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina