Há 50 anos, o judô brasileiro entrava para o mapa mundial pelas mãos e pernas de um londrinense. Em setembro de 1968, Liogi Suzuki conquistava o primeiro grande resultado internacional de um judoca do Brasil. Aos 24 anos, ele se tornava vice-campeão no Campeonato Mundial Universitário, disputado em Portugal.

Liogi Suzuki diz que a conquista não foi tão comemorada por ter sido de um atleta fora do eixo Rio-São Paulo: "Não deram o valor que merecia"
Liogi Suzuki diz que a conquista não foi tão comemorada por ter sido de um atleta fora do eixo Rio-São Paulo: "Não deram o valor que merecia" | Foto: Gustavo Carneiro



"Naquela época, os principais judocas do mundo estavam nas universidades. Foi uma competição de alto nível", relembra. Sensei Suzuki nasceu em Lins (SP) e aos cinco anos se mudou com a família para Londrina. Nunca mais deixou a terra vermelha e foi aqui que aprendeu os primeiros golpes de judô, incentivado pelo pai, já praticante da modalidade.

Em 1968, Suzuki cursava ciências econômicas em Apucarana e já era bicampeão brasileiro universitário - ao longo da carreira, seriam mais seis títulos nacionais, além de um sul-americano. Teve que pagar do próprio bolso muitas das despesas para viajar para Portugal. O esforço valeu a pena. Foram quatro vitórias por ippon - o golpe perfeito do judô - até a final contra um japonês.

"Não fui com muitas pretensões, pois sabia que o campeonato era muito difícil. Fui fazendo boas lutas, o clima de otimismo surgiu e consegui chegar à final", conta. Competindo na categoria pena - até 63 quilos -, o judoca reconhece que foi surpreendido na decisão. "O japonês ganhou com dificuldades as primeiras lutas. Acho que ele estava escondendo o jogo. Na semi, venceu fácil um francês. E na final, aproveitou o seu maior porte físico para ganhar", descreve.

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O pouco reconhecimento que o judô brasileiro tinha até então no mundo era o mesmo que o paranaense recebia no território nacional. Suzuki ressalta que, apesar da importância da conquista, a medalha em Portugal não foi tão comemorada por ser de um atleta fora do eixo Rio-São Paulo. "O judô do Paraná era considerado do baixo clero. Era desconhecido e de pouca tradição. As próprias instituições do judô no Brasil não deram o valor que merecia", lamenta.

A conquista na Europa só confirmou a paixão pela modalidade e a certeza de que o judô estaria sempre presente na sua vida. "Perdi alguns anos de estudo, porque só pensava no judô. Meu pai chegou a me dar um ultimato para escolher o judô ou me dedicar mais aos estudos. Me disse: 'Se não quiser estudar, pega o seu quimono e vai embora'", recorda.

O caminho então foi unir as duas coisas. Cursou uma segunda graduação e se formou em educação física. Foi professor durante 33 anos em várias universidades, entre elas a UEL (Universidade Estadual de Londrina), e abriu a sua própria academia de judô, que em 2018 está completando 50 anos de atividades ininterruptas em Londrina.

Liogi Suzuki reconhece que o judô brasileiro evoluiu muito nas últimas décadas, a ponto de conquistar várias medalhas em Mundiais e Olimpíadas e de brigar de igual para igual com as potências da modalidade. "A essência do judô é o caminho da suavidade, da flexibilidade. Hoje, mudou o conceito. Ele é muito mais truculento e baseado na performance física e tática", compara.

Aos 75 anos, com cinco pontes de safena e duas mamárias, o mestre Suzuki continua em plena atividade e repassando o conhecimento de quem é considerado um dos maiores judocas de todos os tempos do Paraná. "Esta é a forma de continuar prolongando a minha vida. E o meu maior orgulho é saber que a grande maioria dos que passaram por aqui hoje são bons cidadãos e ótimos profissionais", comemora.