Ele colocou o judô brasileiro no mapa
PUBLICAÇÃO
sábado, 22 de setembro de 2018
Lucio Flávio Cruz Reportagem Local
Há 50 anos, o judô brasileiro entrava para o mapa mundial pelas mãos e pernas de um londrinense. Em setembro de 1968, Liogi Suzuki conquistava o primeiro grande resultado internacional de um judoca do Brasil. Aos 24 anos, ele se tornava vice-campeão no Campeonato Mundial Universitário, disputado em Portugal.
"Naquela época, os principais judocas do mundo estavam nas universidades. Foi uma competição de alto nível", relembra. Sensei Suzuki nasceu em Lins (SP) e aos cinco anos se mudou com a família para Londrina. Nunca mais deixou a terra vermelha e foi aqui que aprendeu os primeiros golpes de judô, incentivado pelo pai, já praticante da modalidade.
Em 1968, Suzuki cursava ciências econômicas em Apucarana e já era bicampeão brasileiro universitário - ao longo da carreira, seriam mais seis títulos nacionais, além de um sul-americano. Teve que pagar do próprio bolso muitas das despesas para viajar para Portugal. O esforço valeu a pena. Foram quatro vitórias por ippon - o golpe perfeito do judô - até a final contra um japonês.
"Não fui com muitas pretensões, pois sabia que o campeonato era muito difícil. Fui fazendo boas lutas, o clima de otimismo surgiu e consegui chegar à final", conta. Competindo na categoria pena - até 63 quilos -, o judoca reconhece que foi surpreendido na decisão. "O japonês ganhou com dificuldades as primeiras lutas. Acho que ele estava escondendo o jogo. Na semi, venceu fácil um francês. E na final, aproveitou o seu maior porte físico para ganhar", descreve.
LEIA TAMBÉM
- Brasil abre 2ª fase do Mundial de Vôlei com vitória
- Ascensão do Londrina coincide com ajuste na defesa
O pouco reconhecimento que o judô brasileiro tinha até então no mundo era o mesmo que o paranaense recebia no território nacional. Suzuki ressalta que, apesar da importância da conquista, a medalha em Portugal não foi tão comemorada por ser de um atleta fora do eixo Rio-São Paulo. "O judô do Paraná era considerado do baixo clero. Era desconhecido e de pouca tradição. As próprias instituições do judô no Brasil não deram o valor que merecia", lamenta.
A conquista na Europa só confirmou a paixão pela modalidade e a certeza de que o judô estaria sempre presente na sua vida. "Perdi alguns anos de estudo, porque só pensava no judô. Meu pai chegou a me dar um ultimato para escolher o judô ou me dedicar mais aos estudos. Me disse: 'Se não quiser estudar, pega o seu quimono e vai embora'", recorda.
O caminho então foi unir as duas coisas. Cursou uma segunda graduação e se formou em educação física. Foi professor durante 33 anos em várias universidades, entre elas a UEL (Universidade Estadual de Londrina), e abriu a sua própria academia de judô, que em 2018 está completando 50 anos de atividades ininterruptas em Londrina.
Liogi Suzuki reconhece que o judô brasileiro evoluiu muito nas últimas décadas, a ponto de conquistar várias medalhas em Mundiais e Olimpíadas e de brigar de igual para igual com as potências da modalidade. "A essência do judô é o caminho da suavidade, da flexibilidade. Hoje, mudou o conceito. Ele é muito mais truculento e baseado na performance física e tática", compara.
Aos 75 anos, com cinco pontes de safena e duas mamárias, o mestre Suzuki continua em plena atividade e repassando o conhecimento de quem é considerado um dos maiores judocas de todos os tempos do Paraná. "Esta é a forma de continuar prolongando a minha vida. E o meu maior orgulho é saber que a grande maioria dos que passaram por aqui hoje são bons cidadãos e ótimos profissionais", comemora.