PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS) - Tão logo foi divulgado o laudo que não confirma ofensa racista de Rafael Ramos a Edenilson durante o confronto entre Inter e Corinthians, em maio, pelo Campeonato Brasileiro, o jogador do Internacional se manifestou. Em seu perfil no Instagram, o meio-campista publicou uma foto, desabafou e mudou a imagem do perfil e seu nome para "Macaco" —a injúria racial que afirma ter escutado do lateral português.

"Não iriam nos calar? Já nos calaram. Se ofendidos, aceitem, engulam a seco. Finjam que não escutaram, é uma luta desleal, é uma luta inconclusiva", publicou o jogador junto a uma foto em que ele aparece comemorando gol com gesto antirracista. Mas há um X tapando sua boca.

No perfil, as alterações foram ainda mais fortes. Além de colocar como identidade uma foto de um homem negro com mãos brancas tapando sua boca, mudou seu nome para "Macaco Edenilson Andrade dos Santos".

A manifestação do jogador é consequência de laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) que atendeu pedido da Policia Civil do Rio Grande do Sul. Segundo o trabalho, entregue nesta quarta-feira (8), à Polícia Civil, as imagens apresentadas não foram suficientes para concluir o que o lateral do Corinthians teria dito ao meio-campista do time gaúcho.

Edenilson, na última segunda-feira (6), voltou a reforçar sua versão dos fatos em depoimento ao TJD-SP. Rafael Ramos argumenta que o jogador do Inter "entendeu errado" o que ele disse durante o segundo tempo do jogo válido pelo Campeonato Brasileiro.

RELEMBRE O CASO

Internacional e Corinthians jogaram no dia 14, em Porto Alegre. Em campo, o meio-campista Edenilson, do time da casa, acusou ao árbitro Braulio da Silva Machado uma injúria racial por parte de Rafael Ramos. O protesto foi registrado em súmula, documento que serviu como base para prisão em flagrante do jogador português, antes mesmo de o jogador do Inter prestar queixa.

Na súmula, Braulio descreveu assim o que ouviu dos jogadores: "Aos 31 minutos do segundo tempo, no momento em que a partida estava paralisada, fui informado [por Edenilson] que seu adversário [Rafael Ramos], havia proferido as seguintes palavras para ele: 'Foda-se, Macaco'. Neste momento paraliso a partida e chamo os jogadores envolvidos para relatarem o que havia acontecido. Rafael Ramos afirma que houve um mal-entendido devido ao seu sotaque (português) e diz ter proferido as seguintes palavras: 'Foda-se, caralho'."

No Instagram, Edenilson disse que "sabe o que ouviu" e que "foi a primeira vez que isso aconteceu" com ele. "Me incomoda o fato de ficar chamando atenção de outra forma que não seja jogando futebol: ser xingado pelo tom da minha pele", disse. "Procurei o atleta para que ele assumisse e me pedisse desculpas, afinal, todos erramos e temos o direto de admitir, mas o mesmo continuou a dizer que eu havia entendido errado. Eu não entendi errado."

O jogador voltou a se manifestar sobre o caso depois da partida contra o Independiente Medellín, quando marcou dois gols e comemorou com gesto antirracista. Segundo ele, foi julgado por muitas pessoas por fazer a denúncia.

Rafael Ramos, que teve fiança paga ainda durante a noite da partida no Beira-Rio, afirmou que a denúncia feita por Edenilson teria sido "puramente um mal-entendido". "Estou aqui de consciência e cabeça limpa para explicar o que acontece. No fim do jogo fui ter uma conversa com ele, tivemos uma conversa tranquila. Expliquei o que tinha acontecido, ele explicou o que tinha entendido. Expliquei a verdade. Ele mostrou receio de passar por mentiroso, e expliquei a ele que ele não é um mentiroso, que apenas entendeu errado. Apertamos a mão, e desejo boa sorte a ele", afirmou.

A investigação da acusação de injúria racial é conduzida pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, que já pediu no início da semana imagens do momento em que Rafael Ramos teria cometido o crime contra Edenilson.

No dia 18 de maio, o Plenário do Senado aprovou projeto de lei (PL 4.566/2021) que aumenta as penas por crime de injúria racial em eventos esportivos. Atualmente, o Código Penal estipula a pena de um a três anos de detenção. O texto pede elevação do período para dois a cinco anos. O PL foi direcionado à Câmara dos Deputados.