É Brasileirão!
O Brasil tem potencial para ter um campeonato como o Inglês, por exemplo. Não é fácil e não é rápido, mas é preciso começar a mudança
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segunda-feira, 04 de abril de 2022
O Brasil tem potencial para ter um campeonato como o Inglês, por exemplo. Não é fácil e não é rápido, mas é preciso começar a mudança
Julio Oliveira
O encerramento dos estaduais marca o fim da pré-temporada do futebol brasileiro. O período de experiências, testes, acertos ou erros, mudanças, avaliações e menor pressão acabou. Se os campeonatos regionais não têm mais o mesmo charme com menos público nos estádios e menor interesse, também diminuiu a cobrança por resultados. Os times, muitas vezes, não são os principais e a montagem do elenco para o restante da temporada ainda está acontecendo. E as demissões também. Mas ainda é bom ser campeão e o título entra, sim, para as estatísticas.
E, agora, vem aí o Brasileirão. Todos em busca do título, vaga na Libertadores, acesso e prêmios. Mas a realidade não é essa. O funil para aqueles que estarão lá em cima na tabela em novembro está cada vez mais estreito. O torcedor sempre vai desejar ver seu time na liderança. As diretorias sempre vão prometer troféus. A imprensa sempre vai cobrar o melhor desempenho. Mas quem vai ponderar a realidade, fazer uma projeção realista? O fanatismo impede julgamentos equilibrados ao início de cada torneio.
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Um campeonato com 20 times não pode ter o mesmo objetivo para todos. É impossível. Há três ou quatro que vão disputar o título. Mais uns cinco ou seis que lutarão para ficar entre os dez primeiros. Outros quatro ou cinco que se esforçarão para estar na primeira página da tabela de classificação e aqueles que, desde a primeira rodada, jogarão para não ser rebaixados de série.
A consciência de fazer um bom campeonato começa pela identificação clara de qual grupo está cada time. E aí programar a competição em etapas para administrar bem o torneio desde o início. É utópico pensar que três pontos perdidos na primeira rodada podem ser recuperados depois, já que há outras 37 a serem disputadas. Engano. Pontos perdidos na primeira rodada já foram perdidos e, se estavam na programação como possibilidade positiva, já é um mau começo. Por isso, muitos times adotam as mini metas para poder ter um controle melhor de campanha.
Mas planejamento e realidade só estão nas planilhas até a bola rolar. E o que veremos mais uma vez é mais do mesmo: cobrança sobre times sem condições, pressão sobre técnicos recém-contratados, diretorias com discurso de torcedor e torcedores querendo a vitória a qualquer custo. O futebol moderno pede comportamentos mais profissionais, gestão mais capacitada e investimentos em pessoas cada vez mais técnicas em todas as áreas. Mas a cultura também precisa mudar. Ainda precisamos sair do estágio esporte para o perfil negócio, com melhor estrutura de trabalho para jogadores de todas as divisões e torcedores de todos os clubes, independente de regiões.
Não podemos continuar no modelo “o meu time foi campeão e o resto não importa”. O Brasil tem potencial para ter um campeonato como o Inglês, por exemplo. Não é fácil e não é rápido, mas é preciso começar a mudança. E, se não começarmos a mudar, teremos os “novos clientes” do futebol consumindo cada vez mais o futebol internacional do que o nosso Brasileirão.

