Doria repete discurso de Bolsonaro favorável à Copa América
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terça-feira, 01 de junho de 2021
ALEX SABINO E CARLOS PETROCILO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governador João Doria (PSDB), após desistir de flexibilizar as regras de isolamento social, voltou a defender nesta terça-feira (1º) a realização da Copa América no Brasil e colocou o estado de São Paulo à disposição como uma das sedes.
Durante entrevista coletiva, Doria foi questionado se mantém a decisão de receber o evento apesar do recrudescimento da pandemia de Covid-19. Membros do centro de contingência e aliados tentaram fazer o político mudar de ideia durante a segunda (31).
"Temos em São Paulo, autorizado pelo governo, os campeonatos estaduais, o Sul-Americano, torneios para os mais jovens. Temos a Copa do Brasil e o Brasileirão. Ora, temos que ser coerentes, temos que parar o futebol em São Paulo, então. Todos os torneios têm que parar", falou Doria. "Agora descriminalizar especificamente a Copa América porque veio de fruto de um entendimento do negacionista de Brasília [se referindo ao presidente Jair Bolsonaro], perderemos o bom senso."
"Se houver essa decisão da CBF, haverá jogos em São Paulo, não vou perder a minha coerência, meu bom senso, em nome da política, por mais adversário que seja o Bolsonaro", completou o governador.
Após a Colômbia e a Argentina desistirem de receber a competição, a Conmebol agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na segunda e informou que o Brasil irá sediá-la a partir do próximo dia 13.
Nesta terça, o presidente da República defendeu a realização da Copa América no Brasil e, assim como Doria, comparou o torneio a outras competições esportivas realizadas no país.
"Trabalho com a coerência, tanto que se são realizados os jogos do Brasileiro aqui, porque impedir a realização de um torneio, simplesmente a Copa América, o que difere um chileno, um equatoriano, do jogador brasileiro. São todos seres humanos. Todos tem que estar protegidos, se puderem, vacinados. Fazer testagem", falou Doria.
Assessores do governador estão preocupados com a repercussão negativa de o país, com mais de 463 mil óbitos em decorrência do coronavírus, estar disposto a realizar o torneio.
Doria, embora firme no propósito de São Paulo ser uma das sedes, não deixou de criticar o presidente Bolsonaro. Ambos são possíveis candidatos à Presidência em 2022.
"Todos sabem sobre a minha posição em relação ao negacionista Bolsonaro, um governo que abandonou os brasileiros. Comprou cloroquina, não comprou vacina. Promove aglomerações, chama de maricas e covardes quem usa máscara e fica em casa. São Paulo foi o primeiro estado a fazer quarentena, a tornar obrigatário o uso de máscara", falou o governador.
Além do risco para a sua imagem, o centro de contingência alertou o governo paulista sobre o aumento de casos de infecção por coronavírus nas últimas semanas. Por causa do avanço da doença, inclusive, Doria já havia recuado na flexibilização das regras de isolamento social, na quinta (26), e prorrogou a fase de transição do Plano São Paulo até o dia 14 de junho.
Paulo Menezes, coordenador do centro de contingência contra o coronavírus, disse na ocasião que o adiamento era a medida mais prudente. "Tivemos avaliação de que não seria ainda o momento de poder avançar como havia sido pensado na semana anterior", falou Menezes. "Houve um aumento na incidência de casos. Semana passada estávamos com 370 casos por 100 mil a cada 14 dias. Hoje, temos 418 casos por 100 mil, um aumento de 10%."
O médico Dimas Covas, diretor do Butatan, disse ao canal Globo News na tarde desta segunda que a realização da Copa América no Brasil não é aconselhável.
"Estamos nesse momento num terreno de incertezas, incertezas em relação às variantes, em relação à progressão da pandemia no Brasil, acho que é uma medida que precisa ser muito estudada, avaliada. Na minha opinião não seria oportuno diante dessas incertezas", falou Covas à Globo News. "A pandemia no Brasil está sofrendo no momento uma aceleração. A promoção de viagens, contatos, aglomerações não é apropriado nesse momento."