SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quando Novak Djokovic, 34, relembrar a história da sua segunda conquista em Roland Garros, ela estará carregada de emocionantes memórias. Para chegar lá, foi preciso vencer ninguém menos que Rafael Nadal em um jogo épico nas semifinais e virar duas partidas em que perdia por 2 sets a 0. Uma delas na decisão deste domingo (13), diante de Stefanos Tsitsipas.

Após ver o grego de 22 anos abrir vantagem com um jogo muito sólido em sua primeira final de Grand Slam, o sérvio engatou uma reação que só parou no último ponto da quinta parcial, quando fechou a partida em 3 sets a 2 (6/7, 2/6, 6/3, 6/2 e 6/4), após quatro horas e 11 minutos em quadra —tempo idêntico ao da semi.

Com o 19º troféu de Slam na carreira, Djokovic encosta no recorde masculino de 20, dividido por Nadal e Roger Federer. Vencedor do Australian Open em fevereiro, ele terá a primeira chance de igualar a marca em Wimbledon, no próximo mês.

O sérvio ainda se tornou o primeiro homem a acumular ao menos dois títulos de cada Slam na era profissional do esporte (iniciada em 1968).

Roland Garros sempre foi o evento mais difícil para ele, que acumula quatro vices em Paris. Mesmo quando bateu Nadal pela primeira vez no saibro francês, nas quartas de final de 2015, acabou derrotado por Stan Wawrinka na decisão. Seu primeiro título, em 2016, foi obtido sobre Andy Murray.

Neste domingo, ele até deu chances para Tsitsipas brilhar, como já havia feito quando saiu dois sets atrás do italiano Lorenzo Musetti, 19, nas oitavas de final, mas novamente se recuperou a tempo. Ele também foi o primeiro a conquistar um Slam após duas viradas desse tamanho na era profissional.

"Foi novamente uma atmosfera elétrica. Nove horas de tênis em menos de 48 horas", afirmou. "Física e mentalmente foram muito, muito difíceis para mim esses três dias. Eu acreditei nas minhas capacidades e no meu jogo. É um sonho que se tornou realidade."

O primeiro set ganhou contornos emocionantes na reta final. Tsitsipas, que praticamente não pontuava nos games de serviço de Djokovic, teve um set-point no saque do adversário com 4/5. O sérvio salvou e quebrou o serviço do grego na sequência, mas teve a quebra devolvida ao sacar para fechar em 6/5.

No tiebreak, Tsitsipas abriu quatro pontos de vantagem, mas viu Djokovic virar e ter um set-point. Ele se manteve firme para salvar a chance do rival e confirmar a sua na sequência, fechando o desempate em 8 a 6.

Havia dúvidas sobre como os dois tenistas reagiriam às reviravoltas do fim da parcial anterior, e apenas o grego manteve o bom nível no segundo set. Muito sólido (nove bolas vencedoras e apenas dois erros não forçados), conseguiu duas quebras de saque para fechar em 6/2.

Foi quando Djokovic, uma fortaleza mental, tomou o caminho do vestiário e voltou com o modo número 1 do mundo ligado. Diante da dificuldade de Tsitsipas em encontrar respostas para a sua reação, venceu os dois sets seguintes por 6/3 e 6/2.

Dois filmes podem ter passado pela cabeça do grego antes do início do quinto set. Um de sexta-feira (11), quando ele abriu vantagem de 2 a 0 contra Alexander Zverev, permitiu o empate, mas retomou o controle sobre o jogo. Outro da semifinal diante de Djokovic no ano passado, quando o sérvio largou com 2 a 0, deixou Tsitsipas empatar, mas prevaleceu na reta final.

Quem sorriu ao fim da sessão deste domingo foi mesmo Djokovic, que precisou de uma quebra para fechar em 6/4. A partida de alto nível técnico teve muito mais bolas vencedoras (56 de Djokovic e 61 de Tsitsipas) do que erros não forçados (41 e 44, respectivamente).

Ao grego, bastante apoiado pelo público presente na quadra Philippe Chatrier, ficam as lições de uma dolorida primeira experiência nesse nível. Na premiação ele estava visivelmente decepcionado e recebeu palavras de apoio do campeão.

“Apesar da minha derrota hoje, tenho fé no meu jogo. Com a mesma atitude, se eu não me rebaixar, não há razão para não erguer o troféu um dia”, afirmou mais tarde em entrevista coletiva. “O que eu aprendi hoje é que, não importa o que aconteça, para que a partida seja finalizada, você tem que vencer três sets e não dois.”

Talento e valentia, como mostrou ao salvar um match-point com um arriscadíssimo backhand de paralela na linha, não lhe faltam.

DOBRADINHA DE KREJCIKOVA

Um dia após vencer o torneio de simples, a tcheca Barbora Krejcikova, 25, completou uma jornada histórica em Paris com o título nas duplas. Ela e a compatriota Katerina Siniakova superaram a americana Bethanie Mattek-Sands e a polonesa Iga Swiatek por 2 sets a 0 (6/4 e 6/2) e faturaram o terceiro troféu de Slam da parceria —os outros dois foram obtidos em 2018, em Roland Garros e Wimbledon.

O resultado leva Krejcikova novamente ao posto de número de 1 do ranking de duplas, que ocupou por 12 semanas de outubro de 2018 a janeiro de 2019. Em simples, ela saltou da 33ª para a 15ª posição com a conquista inédita.

A última dobradinha em simples e duplas de Roland Garros havia sido alcançada pela francesa Mary Pierce, em 2000.

TENISTAS COM MAIS TÍTULOS DE GRAND SLAM ENTRE OS HOMENS

1º Roger Federer 20

1º Rafael Nadal 20

3º Novak Djokovic 19

4º Pete Sampras 14

5º Roy Emerson 12

6º Rod Laver 11

6º Björn Borg 11

8º Bill Tilden 10

OS TÍTULOS DE NOVAK DJOKOVIC

Australian Open (2008, 2011, 2012, 2013, 2015, 2016, 2019, 2020, 2021)

Roland Garros (2016, 2021)

Wimbledon (2011, 2014, 2015, 2018, 2019)

US Open (2011, 2015, 2018)