Thomaz Bellucci vai começar 2020 de técnico novo. Após treinar quase a temporada inteira com Thiago Alves, o ex-número 1 do Brasil começou a ser treinado pelo argentino Juan Pablo Brzezicki, que já foi 94º do ranking e não conquistou títulos de ATP. Apesar disso, o tenista aposta no sucesso da parceria e diz já colher frutos do trabalho.

Nesta entrevista ao Estado, além de revelar a troca de treinador, Bellucci faz uma avaliação positiva sobre sua carreira - prestes a completar 15 anos de profissional - e garante não desanimar diante dos resultados aquém do esperado nos últimos dois anos.

"Tenho orgulho de tudo o que conquistei. Independente de onde estou hoje, conquistei muita coisa na minha carreira. E estou preparado para subir novamente", disse o tenista de simples mais bem-sucedido do Brasil desde Gustavo Kuerten, com quatro títulos de nível ATP e o 21º lugar do ranking em seu currículo - é o atual 321º.

Perto de completar 32 anos, ele diz não pensar em aposentadoria. Projeta ao menos mais cinco temporadas no circuito. "Ainda tenho muito o que render", afirma. E segue focado na meta que estabeleceu nos últimos anos: voltar a figurar entre os 100 melhores do mundo, o que não acontece desde outubro de 2017. Confira a entrevista abaixo:

Depois de uma série de lesões no ano, você está 100% fisicamente?

Sim, estou bem. Acho que estou no meu melhor momento físico do ano. No começo da temporada, tive uma lesão, voltei e me machuquei de novo. Não tive muito tempo para me preparar da melhor maneira. Acabei jogando torneios logo na sequência da lesão. Mas agora tive duas ou três semanas de preparação. Infelizmente, não fui bem nos torneios nos EUA, mas acho que foi mais pela parte técnica do que pela parte física.

Como avalia a sua temporada?

Não foi como eu queria, não. Foi bem abaixo das minhas expectativas. Eu queria voltar ao Top 100 e jogar os torneios grandes neste ano. Teve um período em março e abril em que eu vinha jogando bem, ganhado confiança. Mas aí tive aquela lesão feia no tornozelo. E isso me tirou muita confiança. Depois tive uma contusão nas costas. Com as duas lesões, foram quase quatro meses sem jogar. Foi uma temporada bem aquém do que eu esperava, mas de uma certa maneira foi um ano de aprendizado. Aprendi muitas coisas tanto de autoconhecimento quanto das coisas que preciso fazer daqui em diante para recuperar o caminho de volta.

Nestes últimos dois anos, você sofreu queda no ranking e precisou disputar torneios de menor expressão, como challengers. Depois de disputar a chave principal de Grand Slams e enfrentar tenistas do Top 10, como é competir em torneios menores, de menor infraestrutura?

Realmente não é fácil de jogar estes tipos de torneios que venho jogando. A estrutura é muito inferior aos da ATP, que eu costumava jogar. A quadra, a logística, tudo fica aquém do que a gente precisa. Mas você acaba tendo que se adaptar. Sei que é uma fase que tenho que passar. Não estou em posição de ficar escolhendo onde vou jogar. Tenho que encarar esses torneios como uma transição e tentar passar por eles o mais rápido possível. E, com certeza, quando eu consegui passar, vou estar mais forte, mais preparado para os torneios maiores.

Como está o planejamento para 2020?

Começamos a planejar tudo agora. Comecei um trabalho há poucos meses com o Juan Pablo Brzezicki. É um cara muito legal, que eu já conhecia como jogador. Eu estou gostando bastante do trabalho. Ele sempre foi um exemplo dentro de quadra, um cara que lutava muito, dava sempre o melhor dele. E está conseguindo me passar muitas coisas legais. Estamos montando um planejamento bom para o ano que vem, na parte técnica, física e mental. Com a minha idade, estar 100% fisicamente é um ponto fundamental. Precisamos ter muito cuidado com o desgaste dos jogos, das viagens. Estou no circuito há muitos anos, precisamos fazer tudo com inteligência. Estamos bem otimistas de que o ano que vem será bem melhor que este ano.

Tem alguma meta específica para a próxima temporada?

É inevitável falar que o meu objetivo é voltar ao Top 100 o mais rápido possível. Sei que agora isso está um pouco longe. A partir de agora temos que olhar mais a curto prazo, jogo a jogo. Hoje em dia preciso retomar a confiança, o ritmo de jogo e acho que o ranking vai ser uma consequência disso. O mais importante agora é estar tranquilo de que é questão de tempo para eu voltar para onde eu estava, de saber que estou preparado para subir novamente.

Em 2020, você vai completar a marca de 15 anos como tenista profissional. Consegue fazer uma avaliação desta trajetória?

Se eu fosse olhar para trás e ver de onde comecei, provavelmente não acharia que conquistaria tudo o que conquistei como jogador. Não é fácil ficar dez anos entre os 100 melhores do mundo. Devo ter ficado uns cinco anos no Top 50. É muito difícil fazer isso com a competitividade que tem hoje e manter isso por tantos anos. Jogava o tempo todo Masters 1000, Grand Slams, onde você enfrenta o tempo todo rivais do Top 10, 20, 30. E eu consegui manter meu ranking jogando contra todos estes caras. Poucos brasileiros conseguiram fazer isso. Tenho orgulho de conseguir isso na minha carreira. Olho para trás e vejo tudo o que conquistei e isso me traz alegria. Independente de onde estou hoje, conquistei muita coisa.

O que você poderia ter feito de diferente em sua carreira? Tem algum arrependimento?

Quando eu olho para trás, sei que dei o meu máximo em tudo. Claro que cometi alguns erros na minha carreira, como acontece com qualquer ser humano. Ninguém é perfeito. Mas foram erros que não me causaram arrependimento. Acho que foram bons para o meu amadurecimento. O tênis é difícil porque você começa jogando muito cedo, tendo que tomar decisões em momento da sua vida em que você não está maduro o suficiente. Então, algumas destas decisões talvez não tenham sido as mais corretas. Mas todas foram feitas de coração para conseguir chegar ao meu rendimento máximo. Nunca medi esforços ou investimento para investir na minha carreira. Sempre fui um cara que contratei os melhores que tinha no mercado para me ajudarem. Nada que eu fiz eu faria diferente.

Você vai terminar 2019 com 32 anos. Nesta idade, muitos tenistas já começam a planejar a vida pós-carreira. Você pensa nisso?

Acredito que ainda esteja longe de eu me aposentar. A longevidade dos tenistas aumentou bastante. Espero aumentar de 15 anos para 20 anos no circuito. Ainda tenho muito o que render. E por isso ainda não penso muito no depois. Em outros momentos, acabei pensando muito nisso, o que me atrapalhou dentro da quadra. Tirou muito o meu foco e foi um erro que cometi, que eu não quero cometer mais. Tenho que ir passo a passo agora e focar 100% na carreira como jogador. Daqui a alguns anos, quando eu parar, eu entro de cabeça em um novo projeto, em alguma outra coisa que eu goste. Mas hoje em dia estou 100% focado na minha carreira como jogador.