TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - A escalada da Covid-19 em Tóquio na primeira semana das Olimpíadas, com recordes diários de casos na cidade e no país, colocou o governo japonês ainda mais sob pressão e alerta. Não há, porém, dados que vinculem até o momento o evento esportivo ao aumento dos diagnósticos.

Há três semanas, a anfitriã dos Jogos Olímpicos registrou 882 casos. Nesta sexta-feira (30), sete dias depois de sua abertura oficial, foram 3,3 mil, terceiro dia consecutivo acima do patamar de 3.000. Pela primeira vez o Japão tem 10 mil casos em um mesmo dia.

O governo anunciou que as cidades de Saitama, Chiba, Kanagawa e Osaka se incorporam a Tóquio no estado de emergência a partir do dia 2, e outras pode ser incluídas em breve, como Hokkaido, Ishikawa e Kyoto.

A 52 quilômetros de Tóquio, Chiba sedia competições nas Olimpíadas, como o surfe, que teve o brasileiro Ítalo Ferreira conquistando a medalha de ouro. De acordo com os dados oficiais, a cidade registrou, somente nesta sexta, 753 casos de Covid-19.

Segundo o ministro da Saúde, Norihisa Tamua, o país entrará agora numa "fase assustadora e diferente de antes".

Os japoneses, em sua maioria insatisfeitos com a realização das Olimpíadas durante a pandemia, têm levado uma rotina normal pelas ruas da cidade.

Após cumprir um período de 14 dias de restrição de circulação, em razão da pandemia, a reportagem da Folha tem aval para usar transporte público e circular pela cidade.

As estações de metrô e as ruas de Tóquio continuam cheias, apesar do estado de emergência decretado no último dia 12, e o comércio funciona normalmente, sem muito controle em termos de aglomeração.

O decreto de emergência orienta bares e restaurantes a não venderem bebida alcóolica e a fechar as portas às 20h. Mas nem todos cumprem as recomendações. A medida vale até o dia 22 de agosto e deve ser prorrogada. Especialistas locais apontam uma certa fadiga da população em respeitar os protocolos.

Chefe da equipe que assessora o governo na pandemia, Shigeru Omi declarou à imprensa local que o país está sim enfrentando nova crise e que não há dúvidas de que os casos vão aumentar e pressionar o sistema de saúde.

Ele cita três fatores que podem influenciar esse cenário: a variante delta, as férias de verão e as Olimpíadas em Tóquio.

Um dos principais entusiastas dos Jogos Olímpicos em Tóquio, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, reconheceu a situação crítica e afirmou que o governo tomaria as medidas necessárias para estancar a escalada de casos.

O número de mortos no Japão por causa da Covid-19 não é algo tão expressivo no contexto local (15,1 mil em 892 mil casos), mas as autoridades têm sido cobradas a reagir em meio a um processo de vacinação lento (apenas 27,6% da população tomou duas doses) e dificuldade em convencer os japoneses a cumprir protocolos, principalmente de distanciamento social.

Diante de um quadro mais delicado do que uma semana atrás, o comitê da organização de Tóquio-2020 tem adotado um discurso de se desvincular desse crescimento de casos detectados na cidade.

Segundo informações do comitê, 220 testes positivos vinculados às Olimpíadas foram detectados até agora desde o dia 1º de julho. Desses, 26 são de hóspedes da Vila Olímpica, 12 jornalistas e apenas 4 voluntários.

Ao todo, 40 mil pessoas desembarcaram na cidade para o evento, de acordo com dados oficiais. Desde então, 346 mil testes de Covid foram feitos dentro de uma rotina de exames constantes nos credenciados

Uma espécie de "bolha olímpica" foi criada para tentar separar os participantes dos Jogos dos moradores locais durante a competição esportiva, que termina no dia 8.

Quem chega para participar das Olimpíadas, por exemplo, só pode sair da "bolha" após 14 dias de restrições e um teste negativo de Covid. Como a maioria dos envolvidos desembarcou às vésperas do evento, a percepção é de que não há tanto contato com a população local.

As autoridades temem que os estrangeiros sejam via de transmissão do vírus na cidade, principalmente da variante delta.

Reportagem da Folha de S. Paulo mostrou que bastaram poucos dias de Jogos para perceber que os protocolos anti-Covid na "bolha" já deixam a desejar.

Os sinais de relaxamento são vistos durante as competições nas arenas e envolvem atletas, jornalistas e outros credenciados para o evento, incluindo dirigentes de confederações.

Em recente reunião com os chefes das delegações olímpicas, o comitê local dos Jogos alertou para as falhas de comportamento. Ameaçou inclusive retirar credenciais de quem descumprir as regras sanitárias.

A imprensa japonesa cobrou o COI (Comitê Olímpico Internacional) após o presidente da comissão olímpica do país-sede, Yasuhiro Yamashita, ser flagrado sem máscara no Budokan, ginásio de competição do judô, conversando com assessores. A dispensa do protetor facial tem sido comum da parte dele, segundo a mídia local.