Corrida de Aventura
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 12 de setembro de 2001
Andrés Baró<BR>De Florianópolis, SC
Segunda noite de corrida, o relógio aponta: 23h20. Já passam das quarenta horas de prova. Da lancha dos bombeiros podemos ver as luzinhas das head lamps (lanternas adaptadas à cabeça) brilhando na imensidão do mar escuro. ''São eles!'', grita um dos soldados. Após três horas de remada em caiaques duplos, a equipe Tabajara, com duas mulheres e dois rapazes, chega atônita, à beira do stress mental e físico, em segundo lugar, à área de transição na Praia de Daniela (Florianópolis), onde deixam os caiaques e seguem para a caminhada final, rumo à almejada linha de chegada da primeira corrida de aventura do estado de Santa Catarina, a duríssima Sul Brasilis.
''Esta é uma corrida de roubadas. É uma atrás da outra'', desabafa o capitão da equipe, Ramón. Nervosa e impaciente, a companheira Laís confessa: ''Estou irritadíssima! A prova não acaba mais!!'', resmungava exausta. É isso aí! Desabafo, stress, noites sem dormir, obstáculos pesados, trilhas enlameadas, costões escorregadios, mata fechada... Um roteiro requintado de aventura para o feriado. As equipes que vieram de fora, Argentina e Uruguai, mesmo as de outros estados, certamente conheceram Florianópolis como poucos...
Corrida Pesada
A largada foi pontual: às sete da matina do dia sete de setembro vinte equipes começavam a odisséia no pedal, no município de Antônio Carlos, localizado no continente, numa serra em frente a Florianópolis. Foram 60 Km pesadíssimos, com trilhas super enlameadas levando para todas as direções. Além da força necessária para carregar as bikes nos ombros em vários trechos, entre as inúmeras ladeiras barrentas, o senso de orientação e uma boa leitura dos mapas foram determinantes para definir as primeiras colocações nesta primeira etapa do evento. Teve gente que ficou mais de quatro horas perdida na mata... Com algumas pancadas de chuva, a brincadeira piorou mais ainda. As pastilhas de freio acumularam muita lama, dificultando a pedalada, bem como a simples ação de empurrar a bicicleta. As mulheres foram as que mais sofreram. Breques e marchas jamais foram os mesmos...
A travessia para o continente seria a remo, em caiaques duplos, mas como o vento engrossara na tarde, a etapa teve que ser cancelada, causando diversos transtornos para o prosseguimento da prova. Três equipes conseguiram chegar à ilha, os uruguaios, os argentinos e a equipe Tabajara, com integrantes de Florianópolis e São Paulo. O drama ficou por conta da equipe Ale (SP), que decidiu arriscar-se no mar revolto: após três horas tentando e virando muito o bote, acabaram esperando isolados numa ilha, aguardando por uma hora o resgate, ensopados, morrendo de frio...
Outro ponto esperado foi o PC (posto de controle) do rapel de 45 metros num costão alucinante, na altura da Barra da Lagoa. A descida na corda era rumo a um abismo que terminava numa pequena trilha a poucos metros do mar. O visual desta etapa foi deslumbrante, um lugar isolado, virgem se não fossem pelas trilhas e ''presentes'' deixados pelo gado que pasta solto por ali. O mergulho em apnéia programado para sequência foi cancelado devido à água turva, visibilidade zero. Os competidores tinham que achar um objeto atípico ao cenário subaquático nas imediações do PC 16 - mais tarde ficamos sabendo que tratava-se de um anão de jardim...
Perdidos na orientação
Como uma típica prova de orientação, as equipes foram obrigadas a encontrar dez objetos, prismas, escondidos na floresta (leia-se: reflorestada) do Rio Vermelho. É tudo igual: Pinhos altos e tapete vermelho, solo coberto pela palha seca caída das árvores. Em várias ocasiões, escutavam-se gritos de um colega procurando o outro perdido na mesmice das trilhas. O que dirá de encontrarem os pequenos prismas... Poucas foram as equipes que passaram pelos dez pontos.
No final da tarde, a segunda da prova, os primeiros grupos, sempre intercalados por uma ou duas horas, alcançaram as margens do setor norte da Lagoa da Conceição. O desafio: cruzá-la a nado e embrenhar-se em trilhas fechadas e, a esta altura escuras, cruzando o morro até o rio Ratones. Mesmo com as roupas de neoprene e coletes salva-vidas, o frio da lagoa minou ainda mais a já comprometida resistência dos atletas. A brava local Juliana Pettersen, da equipe Tabajara, lutava contra o frio, cansaço e com o incômodo mal-estar de uma tendinite no pulso direito: ora nadava de frente, ora de costas, determinada a manter o ritmo até o fim.
Foi na etapa de caiaque no rio Ratones que várias equipes se surpreenderam com a saudação de ilustres anfitriões: atraídos pelas luzes das lanternas, pequenos jacarés acompanharam de perto as remadas dos atônitos competidores... ''É incrível constatar que este tipo de vida selvagem convive tão perto da cidade'', admirava-se o paulista Ramón.
Após 182 Km, 41 horas e 53 minutos a equipe paraguaia cruzava o portal de chegada ao trote... Das vinte equipes que largaram, apenas sete chegaram ao final. Dez desistiram e três foram desclassificadas, chegando incompletas ao final da prova. A equipe Paz na Terra, a melhor colocada com os quatro integrantes catarinenses, ganhou a concorrida vaga para o EMA 2001 AMAZÔNIA, corrida de 550 Km entre as trilhas da maior floresta tropical mundo.
Anderson Roos, competidor do circuito brasileiro de corridas de aventura e diretor desta prova, devido ao êxito do evento, já programa a edição 2002 da Sul Brasilis em Florianópolis. Vamos ver e esperar pela participação de mais equipes paranaenses. A única inscrita, a webtreino.com, acabou desistindo na etapa da natação.
Resultados
Colocação Equipe Origem
1 10 Visite Punta del Este Uruguai
2 17 Tabajara Floripa/São Paulo
3 15 Tiburones Argentina
4 16 By São Paulo(SP)
5 01 Paz na Terra/Sotália Floripa(SC)
Detalhes do Percurso
Foram 182 Km de prova vencidos pela primeira equipe, a uruguaia ''Visite Punta del Este'', em 41h53min. Confira as transições e distâncias de cada modalidade praticada:
- Largada: parque aquático Usina D'água, em Antonio Carlos - 60 Km de Mountain Bike;
- Caiaque: 27 Km entre mangue e travessia do continente para a Ilha de Santa Catarina, Ribeirão da Ilha;
- Trekking noturno: 20 Km no extremo sul, até a Praia da Armação;
- Mountain Bike: 31 Km atravessando novamente para o Ribeirão da Ilha, voltando ao campeche e seguindo para a Joaquina;
- Trekking entre costões: 15 Km passando pela Praia Mole, Galheta, Moçambique até o final do Rio Vermelho;
- Rapel: 45 metros num costão na altura da Barra da Lagoa, intervalo ao trekking entre costões;
- Natação: 500 metros, travessia da parte norte, ainda virgem, da Lagoa da Conceição;
- Trekking mata fechada, noite: 5 Km até o Rio Ratones;
- Caiaque: 13,5 Km, passando pelo mangue do rio, onde foram surpreendidos por jacarés, saindo para o trecho de mar até a praia de Daniela;
- Trekking reta final: 10 Km, caminhada sob a luz da lua entre as praias Daniela, do Forte, Jurerê, canasvieiras e Cacheira do Bom Jesus;
- Chegada: frente ao Hotel Residencial Bom Jesus da Praia
SERVIÇO
Agradecemos a especial hospitalidade das Cabanas do Parque Aquático Usina D'água, no município de Antonio Carlos, fones: [0xx48] 272-1257, site: www.usinadagua.com.br; e do Hotel Residencial Bom Jesus da Praia, em Cachoeira do Bom Jesus, Florianópolis, fone: [0xx48] 266-1708, site: www.hotelresidencialbomjesus.com.br .
