Quantos sonhos você realizou em 2022? O ibiporãense, e federado por Londrina, Rodrigo Montini, 36, realizou vários, mas deixou para o último dia do ano uma das principais conquistas: participar da corrida internacional de São Silvestre, em São Paulo, que neste sábado (31) chega à 97ª edição. “Desde que era criança assistia na televisão e muitos falavam sobre conhecer a Brigadeiro (Luís Antônio, avenida que tem a principal subida do trajeto). Sempre falei para minha esposa que iria correr”, conta.

Montini só não imaginava que seria de muletas. “Corri várias corridas (com muletas) em Ibiporã e região. Treinei muito com meu professor Orlando de Souza – ultramaratonista - e decidi que seria dessa vez. Foi um ano de recomeço e por que não realizar mais um sonho? Tenho pedido para Deus me dar forças”, destaca. São 15 quilômetros de percurso.

O atleta sofreu uma trombose grave na perna esquerda em 2016 e teve que fazer a amputação abaixo do joelho. Foi um período em que ficou debilitado e a situação acabou piorando duas semanas depois, sendo obrigado a voltar ao hospital. “Fiquei entre a vida e a morte. Fui de 60 para 48 quilos. Tive que fazer uma nova amputação, dessa vez acima do joelho.”

Foram dias difíceis para quem gostava de praticar esportes se ver de uma hora para outra numa cama e com dúvidas sobre o futuro. Foi na família que encontrou o alicerce para seguir em frente. “Sempre tive minha família ao lado, esposa, as duas filhas, mãe, irmãos e sogra. Diante desse apoio, cerca de quatro meses após a amputação assimilei que tinha que viver e procurei no Facebook sobre instituições para deficientes físicos”, recorda.

Durante as buscas encontrou a Assama (Associação dos Deficientes por Amputação de Maringá). Entrou em contato, conheceu o projeto e em 2017 passou a fazer parte da entidade, jogando futebol de muletas. “Fiquei dois anos jogando com eles, participei de campeonatos. Mas, infelizmente, era distante e tive que parar de ir para Maringá (Noroeste)”, explica.

PERNAS PRECIOSAS

Quatro meses depois entrou para o Instituto Pernas Preciosas, de Londrina, e conheceu aquela que seria sua grande paixão: a corrida de rua. “O projeto de Maringá fez eu ter o amor que tenho pelo esporte paralímpico e o Pernas Preciosas me apresentou a corrida de rua, em que faço parte da equipe de atletismo. Nos últimos anos participei dos Parajaps (Jogos Abertos Paradesportivos do Paraná)”, valoriza.

Além de se dedicar às corridas de rua, Rodrigo Montini tem levantado a bandeira da inclusão. “Defendo a acessibilidade e busco mostrar que tudo é possível, que todos podem praticar esportes, mesmo com perdas. O esporte me levou a conhecer a verdadeira vida, em ter vontade de viver. Deus me deu uma segunda chance de viver”, destaca o atleta, que neste ano ainda enfrentou o desafio de conciliar o trabalho, treinos, corrida, atuação da igreja e o curso universitário de educação física.

VIVER DO ESPORTE

Enfrentando o mesmo dilema que muitos atletas pelo Brasil, ainda não consegue viver apenas do esporte. Além disso, foi desligado há duas semanas da empresa onde trabalhava e de onde tirava a maior parte da renda para ajudar no sustento da casa. “Se todas as corridas pensassem nos atletas com deficiência teríamos um cenário diferente, dinheiro para comprar tênis, cadeira de rodas. Minha principal luta não é por troféu, mas por acessibilidade”, afirma. Montini conseguiu patrocínio de uma empresa de consultoria ambiental para participar da São Silvestre.

‘APOSENTAR’ AS MULETAS

Estar na principal corrida de rua do País também pode representar o fechamento de um ciclo e o início de outro para o morador de Ibiporã. Há pouco mais de um mês, ele alcançou outro sonho, de ter uma prótese de corrida. O presente foi dado pelo Instituto Pernas Preciosas em parceria com outra entidade, chamada Renovar. Em fase de adaptação, a meta para 2023 é abandonar as muletas e começar a correr com a prótese.

“Espero conseguir ‘aposentar’ minhas muletas na São Silvestre e no ano que vem continuar evoluindo como atleta e viver do esporte, usando meu exemplo para resgatar vidas”, sentenciou, repleto de esperança. A prova começa a partir das 7h45.

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