Naquela manhã de 25 de novembro de 2020, muitos argentinos garantem que até o circunspecto semblante humano no centro do Sol de Maio (referência a Apu Inti, divindade inca), na faixa branca da bandeira nacional, chorou quando soube da notícia.

Diego Armando Maradona Franco se foi aos 60 anos, deixando 46 milhões de órfãos.

No épico funeral do campeão mundial, a descrença reinante após 34 anos de jejum se converteu, de forma orgânica durante a dor do luto, em uma inexplicável energia de redenção.

Ao elevar-se a outro plano, o mito haveria de usar seus novos superpoderes para fazer chover dourado na seca de glórias, de permitir que o futebol resgatasse a ideia de que o país poderia ter sim uma identidade vencedora.

Dois anos depois, quando o zagueiro do Sevilla Gonzalo Montiel venceu o duelo com Lloris e garantiu o tricampeonato, o Maradona abstrato e empoderado - ato contínuo - ressurgiu nas mentes e corações como o amuleto que faltou nos oito Mundiais anteriores.

A estrela de Maradona não brilhou solitária no Catar. Com a roupa do mito, Messi, com seus abençoados pés, escreveu um conto sublime no Catar, comparável a um personagem que recobra a consciência após um longo coma, um despertar depois de quatro Copas perdidas para levantá-la pouco antes de seu prazo de validade expirar.

No 3 x 3 no Lusail Stadium, uma terceira estrela brilhou no deserto, iluminando um jogo tão grande, cheio de respostas. Uma delas justamente sobre quem está apto a receber cetro e coroa do gênio em despedida.

O autor de todos os gols franceses, Kylian Sanmi Mbappé Lottin, que faz 24 anos esta semana, sabe que o futebol do século 21 vai precisar dele para ser a paixão mundial que fez todo mundo se emocionar neste domingo inesquecível.