Quando Neymar fez o um-dois com Rodrygo na área, driblou o goleiro croata e mandou a bola pra rede, veio a certeza: não, não seremos eliminados de novo no mata-mata da Copa do Mundo por um europeu. Eram 15 minutos do primeiro tempo da prorrogação.

Brazil's coach Tite reacts during the Qatar 2022 World Cup quarter-final football match between Croatia and Brazil at Education City Stadium in Al-Rayyan, west of Doha, on December 9, 2022. (Photo by Ina Fassbender / AFP)
Brazil's coach Tite reacts during the Qatar 2022 World Cup quarter-final football match between Croatia and Brazil at Education City Stadium in Al-Rayyan, west of Doha, on December 9, 2022. (Photo by Ina Fassbender / AFP) | Foto: Ina Fassbender/AFP

Não seria possível que os fantasmas dos últimos quatro mundiais voltariam a nos assombrar. Afinal, o Brasil teria ainda apenas 15 minutos do segundo tempo e mais algum acréscimo para segurar a vantagem e chegar à semifinal. Mas a triste sina se fez presente na Cidade da Educação, em Al Rayyan.

E de uma forma inimaginável para uma Seleção talhada a administrar resultados conforme sua conveniência. Em um contra-ataque a 4 minutos do fim do jogo, a Croácia empatou com Petkovic e levou a disputa para os pênaltis. Ali estaria selada a nossa sorte. Ou melhor, azar. Na disputa dos tiros livres diretos, a competência croata prevaleceu (4 a 2), como nas oitavas de final, contra o Japão. E uma dúvida, mais que isso, um questionamento pairou entre os brasileiros: por que raios Neymar não bateu, ainda mais quando Rodrygo desperdiçou a primeira cobrança?

A queda do Brasil de novo nas quartas de final, como em 2006 (para França), 2010 (Holanda) e 2018 (Bélgica), representou no mesmo instante a manutenção do tabu de nunca ter vencido uma seleção da Europa em mata-matas desde a Copa de 2002 (em 2014 o 7 a 1 para a Alemanha foi nas semifinais). E significou mais: o fim da era Tite, marcada pelo paradoxo de 80% de aproveitamento em seis anos e dois fracassos retumbantes em Mundiais. Além disso, já vamos para 24 anos sem conquistar o título, maior jejum desde os outros 24 que separaram o tri de 1970 do tetra de 1994.

Também pode apressar o início do ocaso de uma geração liderada por Neymar, que em 2026, no próximo Mundial, terá 34 anos. O maior craque brasileiro pós-Ronaldo termina sua terceira Copa sem conquistas, apesar de ter estabelecido um recorde pessoal com o gol marcado contra a Croácia. Chegou aos 77 com a camisa canarinho, igualando ninguém menos do que sua Majestade, Pelé. Mas a dor de mais um revés o impediu de cravar se continua na Seleção.

É uma pena que esse Brasil de campanha tão incontestável nas Eliminatórias, da alegria das dancinhas, da Pombomania lançada por Richarlison, um herói improvável, saia do Catar com a marca do fracasso. O ciclo para a Copa de 2026, que terá três sedes (Estados Unidos, Canadá e México) e 48 seleções, começa sem um treinador definido, mas com compromissos inadiáveis. Evitar o cenário de terra arrasada, afinal, boa parte dos jogadores que Tite usou tem mercado garantido na Europa, e ao mesmo tempo promover as renovações inevitáveis.

As notícias dão conta de que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, não tem nomes que considera à altura de substituir Tite e que é possível que recorra a um treinador estrangeiro, como defende parte da imprensa e da própria torcida brasileira. Na enquete realizada pelo site globoesporte.com,o espanhol Pep Guardiola, do Manchester City, lidera a preferência dos internautas, seguido pelo português palmeirense Abel Ferreira. Depois vem Jorge Jesus, outro patrício. Até a definição, vamos voltar à rotina, cuidar do nosso quintal e tratar essa ferida que tem nos machucado a cada quatro anos.

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