SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - Na avaliação do Palmeiras, o silêncio foi o que garantiu o sucesso na contratação do centroavante uruguaio Miguel Merentiel, 26 anos, anunciada nesta quarta-feira (18).

Ciente da imagem que o clube desperta no mercado sul-americano —bem-posicionado financeiramente, com orçamento generoso para gastar—, a diretoria alviverde tem procurado manter suas investidas de modo discreto. Ainda mais depois de algumas negociações frustradas nos últimos meses. Para fechar com Merentiel, essa discrição teve a reciprocidade dos empresários do jogador e da diretoria do Defensa y Justicia (ARG), seu ex-clube.

Marcelo Tejera, agente do uruguaio, chegou a São Paulo para tratar da transação há aproximadamente uma semana. O jogador, é claro, estava no radar do clube há mais tempo, amparado pelas análises de seus especialistas. Segundo fontes do clube ouvidas pelo UOL Esporte, as conversas tiveram início há cerca de 20 dias.

Essas fontes do departamento de futebol também afirmam que se surpreenderam com o valor pedido pelos representantes do jogador, considerado baixo: US$ 1,5 milhão (R$ 7,5 milhões aproximadamente) por 80% dos direitos econômicos.

Merentiel desembarcou na capital paulista na madrugada de segunda para terça-feira, dia em que fez os exames médicos na Academia de Futebol, sem que tal informação vazasse minimamente, o que é encarado internamente como uma conquista.

A contratação também é avaliada como uma vitória do modelo Anderson Barros de negociar. Figura avessa aos holofotes, o diretor de futebol foi quem conduziu as tratativas na Academia.

A escolha pelo nome também seguiu o modus operandi idealizado pelo diretor, que primeiro, juntamente com o departamento de análise, identifica características que se encaixem no que o clube deseja. Depois, leva os nomes para o conhecimento e aprovação de Abel Ferreira e sua comissão técnica. Para só então abrir conversas, com o alvo já definido.

Foi o que aconteceu nos casos do volante Jailson e do zagueiro Murilo. O defensor, que veio do Lokomotiv (RUS) por R$ 14 milhões (80% dos direitos), aliás, já teve até sondagens para retornar ao futebol europeu, mas não tem qualquer chance de ser liberado pelo Verdão.

PRÉ-TEMPORADA

Apesar de só poder entrar em campo a partir de 18 de julho, na abertura da janela de transferências, Merentiel é esperado na Academia de Futebol para o início dos trabalhos já em junho.

Assim como fez com Dudu no ano passado, o Palmeiras vai poder aclimatar o seu futuro camisa 9 com mais de um mês de pré-temporada, muito embora a situação do uruguaio seja bem diferente da de Dudu.

Ao contrário do camisa 7, que vinha de um tempo longo parado depois de atuar em um campeonato já tecnicamente fraco, como é a liga do Qatar, de seu ex-clube Al Duhail, Merentiel vinha em plena atividade na Superliga Argentina e na Copa Sul-Americana.

Segundo duas fontes, Abel Ferreira ficou satisfeito com a chegada do jogador. Conforme declarou na entrevista coletiva, após a vitória por 1 a 0 sobre o Emelec (EQU), pela Libertadores, Merentiel vem preencher parte da lacuna deixada com as saídas de Luiz Adriano, Deyverson e Willian Bigode.

A avaliação da comissão técnica e da diretoria é de que Merentiel tem estilo semelhante ao de Rony —veloz, que ataca os espaços em profundidade. Mas, ao contrário do camisa 10, o uruguaio é de fato um centroavante, e a expectativa é de que ele possa aumentar a eficiência do ataque palmeirense em conclusões ao gol. Afinal, mesmo que já tenha declarado amar Rony, Abel também sempre lembra em coletivas o fato de se tratar de um ponta improvisado como homem de referência.

ATAQUE

Embora deva mesmo vestir a camisa 9, Merentiel não encerra a busca do time por um centroavante de renome. Mas jogadores como Castellanos, do NY City FC, e Alario, do Leverkusen, por exemplo, que já tiveram investidas do clube, estão cada vez mais distantes.

Entre outras razões, como o desejo de ambos de jogar na Europa, pelo fato de as negociações terem se tornado extremamente públicas, o que encarece e dificulta as tratativas. Foi por exemplo o que aconteceu também com o atacante João Pedro, do Al Wahda (EAU).

Anderson Barros chegou a telefonar para o atleta, algo que evita ao máximo fazer, para tentar desenrolar a questão, tamanho era o interesse do clube em sua contratação. Mas tanto o dirigente quanto o Palmeiras ficaram muito descontentes com o fato de os agentes do jogador terem revelado no mercado que conversavam com o Alviverde.

Novos nomes podem, sim, aparecer na pauta do Palmeiras. Mas, preferencialmente, para o clube, no mais completo silêncio.