SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Conselho Deliberativo do Cruzeiro aprovou na noite de segunda-feira (4) a venda da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) do clube ao grupo encabeçado pelo ex-jogador Ronaldo. A votação se deu em clima hostil e a embates jurídicos.

Desde o anúncio do princípio de acordo, em 18 de dezembro do ano passado, a equipe do ex-atleta tem analisado a situação financeira da agremiação. Segundo ele, apareceram dívidas que inicialmente não competiriam à SAF, cenário que o fez ameaçar desfazer o negócio.

Para manter a promessa e assinar o contrato definitivo, Ronaldo exigiu mudanças no negócio, como vincular a Toca da Raposa I e a Toca da Raposa II (centros de treinamentos das categorias de base e da profissional, respectivamente) à SAF. Ele também exigia a aprovação imediata do pedido de recuperação extrajudicial ou judicial do clube para que antigas dívidas sejam renegociadas.

O argumento do ex-jogador para os pedidos foi o de que não estava anteriormente previsto que cerca de R$ 200 milhões em dívidas tributárias recaíssem sobre a SAF. Por isso, ele queria mais garantias.

"Essa nossa proposta é para assumir essa dívida, com essa pequena garantia, que são as duas Tocas para a SAF, de modo que a gente garante que não teríamos esse risco de penhora, de perder as duas Tocas, que são nossos locais de trabalho", disse o ex-jogador.

Essas eram as principais condições para o empresário levar o acordo adiante. E as mais difíceis para aprovação no Conselho, uma vez que dependiam de 90% do sim do órgão. Após negociação e disputas judiciais, houve o sim.

A reunião quase teve de ser suspensa. Horas antes do encontro, marcado para as 18h30, o juiz Bruno Lino, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), concedeu liminar pedida por José Eustáquio Lucas Pereira, conselheiro do Cruzeiro, para cancelar votação.

O departamento jurídico do clube foi acionado para tentar derrubar a ação e alcançou o objetivo após mais de quatro horas do horário previsto para o início da reunião.

Na chegada ao local da votação, conselheiros foram abordados por dezenas de torcedores que cobravam votos a favor de manter o negócio com Ronaldo. "Se o conselho não aprovar, o pau vai quebrar", gritavam os cruzeirenses.

Enquanto a reunião ocorria, era possível ouvir o barulho de bombas explodindo do lado de fora.

De acordo com membros da Mesa Diretora do Conselho Deliberativo do clube, a intenção da reunião não era desfazer o contrato, mas rever as exigência feitas pelo empresário.

"A Toca II, por exemplo, não tem nada a ver com dívida fiscal, só a [Toca] I está alienada. A Toca II ficar com ele (com a SAF) acho legal, mas precisa haver alinhamento", disse Nagib Simões, membro da Mesa.

Simões se referia a uma dívida tributária do clube com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). No acordo, a Toca da Raposa I foi colocada como garantia.