Conmebol abre processo por xenofobia contra volante do São Paulo
Bobadilla foi acusado de xenofobia por Miguel Navarro, do Talleres (ARG), terça-feira (27), após jogo pela Copa Libertadores
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Bobadilla foi acusado de xenofobia por Miguel Navarro, do Talleres (ARG), terça-feira (27), após jogo pela Copa Libertadores
LEO BURLÁ, CAROLINA ALBERTI e EDER TRASKINI - Folhapress

São Paulo - A Conmebol abriu um processo disciplinar contra o volante Bobadilla, que foi acusado de xenofobia por Miguel Navarro, do Talleres (ARG), ontem, após jogo pela Copa Libertadores.
O caso será examinado a partir dos elementos disponíveis e não significa uma presunção de culpa. O paraguaio foi acusado por Navarro de proferir as seguintes palavras: "venezuelano morto de fome".
O episódio se enquadra no Artigo 15 do Código Disciplinar da Conmebol, que prevê suspensão de "pelo menos dez partidas ou por um período mínimo de quatro meses".
Na tarde desta quarta-feira (28), o clube paulista informou que "está acompanhando atentamente a apuração dos fatos" e "providenciará que Bobadilla seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance".
ENTENDA O CASO
O paraguaio foi acusado por Navarro de proferir as seguintes palavras: "venezuelano morto de fome". O jogador do Talleres chorou bastante em campo e quis deixar o gramado, mas não havia mais substituições a serem feitas.
Navarro foi à Polícia e ao Jecrim (Juizado Especial Criminal) ainda dentro do Morumbis registrar um Boletim de Ocorrência contra Bobadilla. A Polícia chegou a buscar o paraguaio no vestiário são-paulino, mas ele já havia deixado o estádio.
Bobadilla é aguardado pela Polícia para prestar depoimento sobre o caso. A Polícia convocou uma coletiva de imprensa para hoje para falar sobre a ocorrência.
Os policiais também ouviram dois jogadores do Talleres, Lautaro Nahuel Bustos e Marcos Ezequiel Portillo, como testemunhas. Além disso, as autoridades colheram o depoimento do árbitro responsável pela partida, Piero Maza Gomez.
No elenco do São Paulo, Nahuel Ferraresi, amigo próximo de Bobadilla, também é venezuelano. Navarro afirmou que tanto Ferraresi quanto Arboleda teriam ficado do lado dele ainda no gramado.
Depois do ocorrido em campo, o árbitro da partida orientou Bobadilla a descer para o vestiário logo após o apito final para evitar mais confusões. Ele ainda estava no vestiário quando os demais atletas desceram, mas não mais depois do depoimento, que ocorreu cerca de 20 minutos após o término do duelo
Bobadilla intimado
Bobadilla foi intimado a prestar depoimento na Drade (Delegacia de Polícia de repressão aos delitos de intolerância esportiva) e é aguardado nesta sexta-feira (30). A informação foi confirmada pelo delegado Rodrigo Correa Batista, responsável pelo caso.
"Ele foi intimado a comparecer na próxima sexta-feira no período da tarde. Esperamos que ele compareça e preste sua versão sobre os fatos. Ontem pós-jogo iniciados os procedimentos, procuramos pela direção do clube e não encontramos alguém que pudesse responder. Ficou informado que ele se apresentaria hoje, mas não veio, nem qualquer advogado indicado por ele. Por isso, foi expedida essa intimação e entregue no São Paulo para ele comparecer", informou
O CRIME
"A auditiva dele é fundamental para a polícia. Precisamos entender o que ele tem a dizer em sua defesa. Hoje, ele figura como investigado. É um crime que prevê pena de 2 a 5 anos de reclusão, inafiançável e imprescritível. Precisamos confrontar a versão dele com os demais elementos que já constam, sobretudo depoimentos testemunhais. Também pedimos imagens ao São Paulo para confrontar as imagens, identificar outros jogadores que estavam no momento da conversa que podem ter ouvido e colaborar com a investigação. Xenofobia é a conduta, discriminação de procedência nacional que está prevista na injúria racial. Ele está na condição de investigado e pode ser indiciado no inquérito policial como autor do ato criminoso," completou o delegado.
OS PRÓXIMOS PASSOS
"Depende do que ele vai alegar. Ele pode alegar alguma tese, álibi, que demande alguma providência diferente. Precisamos ouvi-lo e confrontar com o que temos para aí sim traçar a dinâmica da investigação. Uma eventual ofensa contra ele por parte de outro jogador não exclui a responsabilidade dele. Se for constatado isso, a pessoa que ofendeu ele será responsabilizada também nos termos que ele falou. Precisamos saber se ele confirma essa frase que foi dita contra o Navarro".
BOBADILLA PODE SER PRESO?
"Se condenado, é uma pena que vai até cinco anos. Cabe ao poder judiciário em decorrência da investigação policial. Ele pode até ser preso na investigação, mas depende de alguns elementos que comprometem o decurso da investigação, entre outros fatos. Mas acreditamos que isso não vai acontecer. É um atleta profissional, de um grande clube, e acreditamos que na sexta ele vai comparecer aqui para cumprir com a parte dele e falar o que tem a dizer para aclarar a investigação.
O UOL questionou o São Paulo sobre a intimação e o clube não tinha recebido o documento até a publicação desta matéria. Em nota, o Tricolor se colocou à disposição das autoridades.
Bobadilla não prestou depoimento ainda no Morumbis pois já havia deixado o estádio quando a Polícia foi procurá-lo no vestiário. O paraguaio foi um dos primeiros sair do gramado e o depoimento de Navarro só ocorreu cerca de 20 minutos depois do apito final.
O jogador se manifestou nas redes sociais, pediu desculpas e afirmou que não teve a intenção de discriminar ninguém. Ele não negou a acusação feita por Navarro.
O UOL ouviu que o paraguaio vai prestar todos os esclarecimentos que forem pedidos a ele. Em sua manifestação, Bobadilla afirmou que também foi ofendido durante a discussão.

