O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman (foto), foi acusado de ser o elo do esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral
O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman (foto), foi acusado de ser o elo do esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral | Foto: Apu Gomes/AFP



Rio - O presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, Carlos Arthur Nuzman, foi acusado na terça-feira (5) pelo MPF (Ministério Público Federal) de ter ajudado na suposta compra de votos que teria dado ao Rio a condição de cidade-sede da Olimpíada de 2016.

A denúncia foi apresentada à Justiça pela Procuradoria da República no Estado, em investigação conduzida em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público Financeiro da França, que iniciou a apuração em 2015. Os procuradores acusam Nuzman de ter ajudado no repasse, a um dirigente do COI (Comitê Olímpico Internacional), o senegalês Lamine Diack, de dinheiro do suposto esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo então governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

A propina de US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,2 milhões) teria passado por conta em Antígua e Barbuda, no Caribe. Papa Massata Diack, filho de Lamine, teria intermediado a negociação e recebido a propina. Lamine teria influenciado outros votos.

A Procuradoria sustenta que "há fortes indícios de que Nuzman teve participação direta nos atos de compra de voto na escolha da sede dos Jogos de 2016 e no repasse da vantagem indevida destinada a Cabral".

Nuzman foi conduzido à PF para prestar depoimento. Em busca e apreensão realizada em sua residência, no Leblon, a PF apreendeu cerca de R$ 480 mil em dinheiro vivo, divididos em cinco diferentes moedas: real, dólar, euro, libra e franco suíço. Também foram apreendidos documentos e um computador.

Além disso, foi encontrado um passaporte russo, que teria sido obtido por Nuzman como parte de outro esquema de corrupção. Ele está proibido de deixar o País e foi intimado a entregar todos os seus passaportes.

O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, ordenou o bloqueio de R$ 1 bilhão das contas de Nuzman e dos empresários Arthur Menezes Soares Filho e Eliane Cavalcante, controladores da conta Matlock, em um banco em Antígua e Barbuda. Teriam comprado o voto no COI em troca de contratos de até R$ 3 bilhões com o Estado.

Soares controlava a Facility, intermediária na contratação de mão de obra terceirizada pelo governo estadual. A operação foi batizada de "Unfair Play" (jogo sujo, em tradução livre). "É um vexame internacional termos um evento sediado a custo de propina e corrupção", afirmou o procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio.

Foi determinada pela Justiça a prisão preventiva do empresário, conhecido como "Rei Arthur", e de Eliane. Soares Filho está foragido. Teria fugido de Miami, onde mora, em um iate. A Interpol já foi acionada para localizá-lo. A empresária foi presa em seu apartamento em Laranjeiras. São acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

De acordo com El Hage, há indícios de que Nuzman, "Rei Arthur" e Cabral fizeram diversas viagens juntos ao exterior. O objetivo seria articular a compra de votos no COI. Teriam sido pelo menos 15 viagens juntos aos EUA e Europa, entre fevereiro e outubro de 2009.

O COB divulgou nota assinada pelos dois advogados de Nuzman, Sergio Mazzillo e Nélio Seidl Machado. "Foi esclarecido e reiterado que toda a jornada olímpica da cidade do Rio de Janeiro, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei".