RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - A turbulência está chacoalhando o ambiente no Flamengo. O clima é tenso e traz à tona a possível demissão do técnico Paulo Sousa. O departamento de futebol coloca uma cortina de fumaça, mantém a programação normal e tenta contornar a situação enquanto não define o futuro.

Enquanto isso, o clube enfrenta o Red Bull Bragantino nesta quarta-feira (8), no estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista, às 20h30 (de Brasília), pela décima rodada do Campeonato Brasileiro.

Sousa se mantém no cargo com respaldo, principalmente do presidente Rodolfo Landim, que detém o voto soberano nas decisões do clube. As principais frentes do futebol: Marcos Braz (vice-presidente), Bruno Spindel (diretor executivo), Fabinho (gerente de futebol) e Juan (gerente técnico) também estão ao lado do treinador. No entanto, internamente, a sensação é de que a paciência está chegando ao limite.

A pressão, no momento, vai além dos bons resultados contra Bragantino e Internacional (sábado), ambos fora de casa. A necessidade de Sousa provar a capacidade de extrair o melhor futebol para o elenco é o tema principal do debate. A atuação na derrota para o Fortaleza, lanterna do Brasileirão, no Maracanã, reforçou o clima de "poucos amigos" para o técnico na Gávea.

Mas uma demissão do técnico anunciado no final de 2021, com status de homem que reformularia o futebol do Flamengo, ainda passa por alguns entraves.

QUEM ASSUMIRIA

A sobrevida tem um motivo além do que resta de confiança no trabalho português. A saída de Sousa implica a necessidade de ter um técnico para assumir imediatamente. O Flamengo não tem uma comissão técnica permanente —ou seja, não há um substituto direto para ele. Por isso, o time precisaria ir ao mercado em busca de um substituto o quanto antes.

No primeiro dia de trabalho de Sousa, em 10 de janeiro, o auxiliar-técnico permanente Mauricio Souza foi demitido do clube. A saída aconteceu justamente por conta da chegada da nova comissão técnica. Na ocasião, inclusive, Mauricinho treinava a equipe para o início do Carioca, que no fim foi comandada por Fabio Matías, ex-treinador do sub-20.

Desde então, o Flamengo não possui um responsável para a eventual transição em uma troca de comando. Sem Fabio Matías, que se despediu do clube para assumir o sub-23 do Red Bull Bragantino, o Rubro-Negro teria Mário Jorge, atual técnico da base, como primeiro da fila para assumir o profissional.

Pressionado como nunca, o português se vê na corda bamba e precisando cruzar a linha tênue entre resultado e desempenho em campo. A pressão, no momento, vai além de conquistar três pontos e o técnico entende que precisa apresentar a melhor performance do elenco. Em meio a isso, em coletiva, o treinador falou sobre as críticas.

"Sei a importância de termos coragem de não agradar em alguns momentos. Como sei que Deus nunca nos deu espírito de covardia. É nos momentos difíceis que temos que ser mais convictos e certos", disse após a derrota para o Fortaleza.

Se o futebol do Flamengo decepciona, parte dessa dificuldade se explica pela própria missão encomendada a Sousa no momento de sua contratação. Caberia a ele reformular "os processos" —termo muito caro ao treinador— no Ninho do Urubu. A diretoria entendia que alguns vícios e etapas do trabalho no CT precisavam ser atacados. Sousa gradativamente colocou o projeto em prática, gerando desgaste e desconexão com parte do elenco.

Uma reviravolta para o time em campo, dessa forma, também seria benéfica para a diretoria de futebol que investiu capital político em sua escolha —uma aposta dobrada após as bombásticas declarações de Jorge Jesus ao colunista do UOL Renato Maurício Prado, dizendo que estava de braços abertos para o Rubro-Negro.

LONGE DO RIO

A sequência de viagem e a estadia fora do Ninho é vista como uma segunda sobrevida de Sousa. A maratona de jogos no Rio aconteceu justamente no período em que o técnico recebeu mais críticas, e teve as partidas em casa para aliviar a pressão. No entanto, as quatro vitórias em cinco confrontos não foram o suficiente para o treinador ter a segurança no cargo.

No holofote, Sousa está refém das próximas atuações do Flamengo. Enquanto isso, o respaldo da diretoria parece estar com os dias contados e, internamente, a permanência para o restante da temporada fica cada vez mais complicada.

Paulo Sousa assinou o contrato até dezembro de 2023. A multa rescisória, no entanto, é diferenciada neste primeiro ano de vínculo. Até dezembro de 2022, o montante é referente aos salários que faltam para cumprir nesta primeira parte do vínculo. Ou seja, o valor reduz mês a mês, mas o Flamengo ainda teria de desembolsar alguns milhões de reais em caso de demissão. Lembrando que o técnico pagou de seu bolso a rescisão com a federação polonesa (300 mil euros, ou R$ 1,9 milhão à época).

Na segunda (6), a cúpula de futebol esteve presente no Ninho do Urubu para acompanhar o dia de reapresentação. Braz, Spindel, Fabinho e Juan marcaram presença, monitoraram de perto e reforçaram que o planejamento da semana será mantido. Cabe destacar que não houve nenhuma reunião de cobrança, seja com a comissão técnica ou com os jogadores. Quem esteve no centro de treinamento relatou que o dia normal.

Desta forma, Sousa seguiu o cronograma. Comandou o treinamento e planeja para os compromissos da semana. A delegação viajou nesta terça (7) para Atibaia, onde será sede até sexta, antes de embarcar para Porto Alegre. Neste período, o Flamengo encara o Bragantino, na quarta (8), e o Internacional, sábado (11).

Nesta quarta, um provável Flamengo tem Hugo Souza; Ayrton Lucas, Gustavo Henrique, Rodrigo Caio e Matheuzinho; Arão, João Gomes, Éverton Ribeiro; Andreas Pereira, Vitinho (Pedro) e Gabigol.

Já o Red Bull Bragantino deve ir a campo com: Cleiton; Aderlan, Lomónaco, Natan e Luan Candido; Raul e Lucas Evangelista; Artur, Praxedes e Helinho e Ytalo.

Estádio: Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista (SO)

Horário: 20h30 (de Brasília) desta quarta (8)

Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO)

VAR: Wagner Reway (PB)

Transmissão: Premiere