SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os cinco times paulistas na Série A do Campeonato Brasileiro tentam convencer o governador João Doria (PSDB) a autorizar a presença de torcida nos estádios de São Paulo a partir de outubro, apesar da pandemia de Covid-19.

Os cartolas de Corinthians, Palmeiras, Red Bull Bragantino, São Paulo e Santos trabalham junto à FPF (Federação Paulista de Futebol) na busca pelo sim do político antes do conselho técnico do torneio nacional, marcado para terça-feira (28).

Na ocasião, representantes das 20 agremiações e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) voltarão a deliberar sobre o tema. A tendência é que a maioria dos dirigentes vote pela volta da torcida a partir da rodada do dia 2 de outubro, a 23ª da Série A.

Pelo plano atualmente estabelecido em São Paulo, a realização de jogos com a presença de público, assim como shows e pistas de dança, será liberada somente a partir de 1º de novembro.

Pelos critérios adotados pelos estados hoje, além dos times paulistas, somente Bahia e Sport não teriam o aval das autoridades sanitárias para receber torcedores no mês que vem.

Após uma reunião com os cinco times, a FPF se comprometeu a solicitar ao governador uma liberação de pelo menos 30% da capacidade dos estádios, mas ainda não obteve parecer favorável.

Doria se mostrou reticente e não pretende recuar. Sua ideia é manter a volta do público em novembro -mês em que a capital paulista sediará prova de F1 em Interlagos, com estimativa de 40 mil pessoas no autódromo em cada um dos três dias do fim de semana da etapa.

"Há um prejuízo esportivo quando as regras não são as mesmas para todos. Esse será o caso se alguns clubes puderem ter seus torcedores no estádio e outros, não", diz o Palmeiras, através de sua assessoria.

Com o veto em São Paulo, o time alviverde, por exemplo, é o único mandante entre os semifinalistas da Copa Libertadores que não pode contar com o apoio dos seus fãs. Seu adversário, o Atlético-MG, assim como Flamengo e Barcelona de Guayaquil (EQU), tem aval das autoridades locais -e a anuência da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Já o Red Bull Bragantino se apoiou em uma autorização da prefeitura de Bragança Paulista para receber 2.504 pessoas contra o Libertad (PAR), na última quarta (22), pela semifinal da Copa Sul-Americana. Todos precisaram apresentar comprovante de vacinação (duas doses ou a dose única) e o exame PCR (negativo) feito a partir de 72 horas antes da partida.

Em nota à imprensa, o governo de São Paulo reiterou que os "eventos que possam provocar grandes aglomerações continuam vetados em todos os 645 munícipios do estado". A prefeitura de Bragança Paulista não acatou tal ordem e afirmou, em seu portal, que o confronto serviu como teste para retomada de diversos eventos.

No último conselho técnico da CBF, no dia 8, representantes de 19 times concordaram com a manutenção do veto sob a alegação de defender a isonomia na competição. Havia também a intenção de impedir o avanço do Flamengo, que obteve decisão favorável, em caráter liminar, do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

Otávio Noronha, presidente do órgão, disse que cabia ao poder público o veto aos torcedores, não à CBF.

Com essa decisão, o time rubro-negro nem sequer participou da reunião com os demais times e a confederação. No dia 15, recebeu o Grêmio pela Copa do Brasil diante de 6.446 pessoas no Maracanã (6.277 pagantes).

Horas depois do confronto, na madrugada de quinta, o auditor Felipe Bevilacqua, do STJD, suspendeu, até a data do conselho técnico (28), os efeitos da liminar concedida ao Flamengo. Bevilacqua acatou um pedido de 17 clubes da Série A e da CBF -Atlético-MG e Cuiabá também não participaram.

Atlético-MG e Cuiabá não quiseram se opor ao Flamengo no STJD porque possuem liminares semelhantes e o aval das autoridades locais. Líder do Campeonato Brasileiro, os atleticanos deixaram claro que, se o time carioca recebesse torcedores contra o Grêmio, fariam o mesmo na rodada seguinte, em Belo Horizonte.

Na tentativa de apagar o incêndio, a diretoria rubro-negra não recorreu ao STJD e encarou o Grêmio de portões fechados no último domingo (19), pelo Brasileiro.

A pouco mais de dois meses do término da temporada, os dirigentes ouvidos pela reportagem apostam que, com mais de dez times aptos a receber o seu torcedor, o argumento da isonomia cairá por terra no conselho técnico da semana que vem.

Outra esperança é que, a partir da liberação oficializada pela CBF, haverá pressão maior sobre os políticos que insistirem na restrição.

"Para a partir do dia 2, somos favoráveis e vamos votar assim. Cada clube tem que resolver o mais rápido possível em suas praças, porque não faz mais sentido governo e prefeito deixarem de liberar", diz o presidente do Atlético-MG, Sérgio Coelho.

Caso seja confirmada a volta em outubro e Doria não atenda ao pedido de 30% da capacidade dos estádios, a FPF planeja solicitar à Secretaria do Desenvolvimento Econômico, que é a responsável pelo Plano SP, que os jogos sejam realizados como eventos-modelo.

Essa modalidade, implantada por Doria em julho, previa inicialmente 30 eventos na capital e no interior, somente dois esportivos entre eles: a corrida de rua Volta SP 10 Km, realizada em agosto com 1.200 pessoas, e o próprio GP São Paulo de F1. O limite de público é reduzido e definido de acordo com a estrutura do local.

Já o deputado estadual Antonio Assunção de Olim (PP), que é presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP) diz que, a pedido de dirigentes e torcedores, levou a demanda ao presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Carlão Pignatari (PSDB).

"É preciso tentar reverter essa decisão. O Carlão ficou de conversar com o Rodrigo Garcia [vice-governador, também do PSBD] para que libere em outubro", diz Olim.

Procurados pela reportagem, Bragantino, Corinthians, São Paulo, Santos e FPF não se manifestaram até a publicação deste texto.