SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma proposta de alteração na regra de transição prevista no estatuto de criação da Libra, que beneficiaria Flamengo e Corinthians, tem sido motivo de impasse nas negociações com os representantes do grupo Futebol Forte e de outros times das Séries A e B do futebol brasileiro que ainda não aderiram à nova liga de clubes.

A reportagem teve acesso a duas versões de documentos que detalham como seria o tempo de transição para a implementação da fórmula de distribuição de receitas como direitos de transmissão e cotas de patrocínio.

A versão inicial do texto, apresentado aos times no início do mês, previa três anos de transição, período no qual "ficará assegurado a todos os clubes que disputarem a primeira divisão do campeonato organizado pela Libra o recebimento de receita ao menos equivalente à média dos últimos 3 anos, da receita de mídia auferida pelo clube no Campeonato Brasileiro".

Uma nova formulação deste trecho prevê que o período citado passaria a ser de cinco anos. A reportagem apurou que, no entendimento dos clubes que ainda não aderiram à Libra, a mudança perpetuaria por mais tempo o desequilíbrio que existe atualmente na distribuição de receitas. A alteração causou um mal-estar, inclusive, em clubes que já fecharam com a Libra.

Qualquer mudança no estatuto precisa ser aprovada em assembleia por unanimidade pelos membros da liga.

Dirigentes de clubes que negociam a entrada na liga ouvidos pela reportagem disseram que isso privilegiaria principalmente o Flamengo e o Corinthians, sobretudo porque esses clubes possuem um valor fixo assegurado no atual contrato de TV com a Globo, que expira em 2024.

Um dos cartolas disse que a mudança vai contra o discurso de que a liga equalizará a distribuição das receitas. E não só mantém como amplia o desequilíbrio.

Além de Corinthians e Flamengo, Palmeiras, Santos, São Paulo, Red Bull Bragantino, Ponte Preta, Vasco e Botafogo são os atuais signatários da Libra.

Dirigentes dos nove que assinaram o documento alegam que a regra mudou para cinco anos porque seria o mesmo tempo de um ciclo de contrato de TV. Eles já previam que isso iria gerar descontentamento, mas resolveram seguir adiante.

No estatuto, a regra de transição ficaria em vigor durante 2025, 2026, 2027, 2028 e 2029.

Outro cartola citou, ainda, que o trecho do texto a respeito da regra de transição faz parte das premissas para a fundação da liga e que, futuramente, ainda precisariam ser aprovado em assembleia por unanimidade.

Desde a primeira reunião, eles têm batido na tecla de que, neste momento, o mais importante é criar um fato, que seria o anúncio da existência formal da liga, para depois discutir detalhes do estatuto.

Já os representantes do grupo Futebol Forte e de outros times das Séries A e B querem resolver todas as pendências antes de assinar qualquer documento.

No início da semana, em reunião realizada no Rio de Janeiro, eles definiram uma nova proposta para aderir a Libra.

No encontro, trataram, principalmente, da divisão de todo o dinheiro que será arrecadada pela liga com direitos de televisão, cotas de patrocínios e outras receitas.

As 25 equipes que se reuniram definiram um modelo no formato 45-30-25. Nesse caso, 45% de tudo o que fosse arrecadado seria dividido de maneira igualitária, 30% de acordo com a classificação final e 25% dentro de uma equação que considera exposição de mídia.

A proposta é assinada pelos seguintes clubes: América-MG, Atlético-GO, Avaí, Ceará, Athletico-PR, Atlético-MG, Coritiba, Cuiabá, Juventude, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Chapecoense, Brusque, CSA, CRB, Náutico, Criciúma, Guarani, Londrina, Operário, Sampaio Corrêa, Sport e Vila Nova.

Esses clubes também demonstram preocupação com um dos aspectos que fará parte do cálculo para se chegar à divisão dos 25% referentes a exposição de mídia.

De acordo com o estatuto, a equação terá cinco pilares: média de público nos estádios; base de assinantes de cada um dos clubes nos pacotes de streaming referentes ao campeonato organizado pela Libra; número de seguidores acumulados e engajamento nas cinco principais redes sociais; audiência na TV aberta; e tamanho de torcida.

A inclusão do engajamento nas redes sociais, porém, preocupa os clubes que ainda não aderiram à Libra por ser um aspecto suscetível a manipulações, como a compra de seguidores, por exemplo.

Já do lado dos clubes que fecharam com a Libra há resistência em abrir mão do modelo 40-30-30, similar ao atual acordo com o Grupo Globo.

No entanto, já há um movimento, também, para a busca por um consenso sobre o assunto para avançar logo dessa fase e começar a negociação para a criação definitiva da liga.