SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) - O chanceler da Áustria, Karl Nehammer, pretende dizer ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, "a verdade" sobre a guerra na Ucrânia "olho no olho", disse um integrante do alto escalão do governo austríaco antes do encontro de Nehammer com o líder russo.

O diplomata viajou a Moscou para ter uma reunião presencial com Putin, se tornando o primeiro líder da União Europeia a se reunir com o presidente russo desde o início da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro.

O ministro das Relações Exteriores da Áustria, Alexander Schallenberg, visitou Kiev para se encontrar com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no sábado (9). Falando antes de uma reunião da UE em Luxemburgo hoje, Schallenberg, disse a repórteres que "faz diferença estar cara a cara e dizer a ele [Putin] qual é a realidade: que este presidente de fato perdeu a guerra moralmente".

"A razão da reunião é que não queremos perder nenhuma oportunidade. Devemos usar todas as chances para acabar com a situação humanitária infernal na Ucrânia... todas as vozes que ajudarão Putin a ver a realidade fora do muro do Kremlin. Não é uma voz perdida", acrescentou Schallenberg.

MINAS E OBSTÁCULOS ANTITANQUES

À espera da ofensiva russa, as forças ucranianas tentavam fortificar suas posições e cavar novas trincheiras na zona rural de Barvinkove, leste do país. Os soldados instalaram obstáculos antitanques nos cruzamentos das estradas e minas em toda área.

A população tenta fugir para zonas mais seguras, enquanto os bombardeios prosseguem: no domingo duas pessoas morreram em Kharkiv (leste), a segunda maior cidade do país, anunciaram as autoridades locais.

"O exército russo continua fazendo a guerra contra os civis, na ausência de vitórias no front", acusou o governador regional Oleg Sinegubov.

Nos arredores de Kiev, ocupados por forças russas há várias semanas, a busca por corpos continua.

"Temos até agora 1.222 mortos apenas na região de Kiev", disse a procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova, em uma entrevista ao canal britânico Sky News, na qual citou 5.600 investigações abertas por supostos crimes de guerra desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.

Ela não revelou se os corpos encontrados eram exclusivamente de civis.

Na cidade de Bucha, ao noroeste da capital ucraniana, que virou um símbolo das atrocidades da guerra, quase 300 corpos foram enterrados em valas comuns, de acordo com um balanço divulgado pelas autoridades em 2 de abril.

Em Buzova, também perto de Kiev, foram encontrados dois corpos, com trajes civis, na saída de uma rede de esgoto, constataram correspondentes da AFP. Uma mulher entrou em desespero ao reconhecer um cadáver: "Meu filho, meu filho", gritou.

"MISSÃO DE RISCO"

No plano diplomático, o chanceler austríaco, Karl Nehammer, que visitou a Ucrânia no sábado, viajará hoje a Moscou para uma reunião com Putin.

Nehammer declarou que tem "a intenção de fazer todo o possível para que sejam adotadas medidas a favor da paz", mas reconheceu que tem poucas possibilidades de alcançar a sua meta.

A viagem a Moscou é "uma missão de risco", mas também uma "janela de diálogo", afirmou, antes de insistir no poder da "diplomacia pessoal".

Também espera falar sobre os "crimes de guerra" em Bucha, que visitou no sábado.

"Bucha não aconteceu em um dia. Durante muitos anos, as elites políticas russas e a propaganda incitaram o ódio, desumanizaram os ucranianos, alimentaram a superioridade russa e prepararam o terreno para estas atrocidades", afirmou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba.

Apesar das acusações, Kuleba disse que continua aberto a negociar com a Rússia.