SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Três anos após a Caixa Econômica Federal ter executado a dívida do financiamento para a construção do estádio do Corinthians, em Itaquera, o clube e o banco anunciaram na última segunda-feira (25) um acordo de renegociação do débito.

Para chegar a um novo fluxo de pagamento, a agremiação alvinegra teve que aceitar exigências do banco estatal, entre as quais a inclusão de novas garantias para o contrato, como receitas de venda de atletas e direitos de TV, conforme explicou o diretor financeiro do clube, Wesley Melo.

O dirigente, contudo, ressaltou que o estádio será autossustentável e afirmou não ver risco para os cofres do time.

"Não é que eu esteja montando um fundo de reserva. São garantias que a gente acabou concordando, foi exigência da Caixa. Então, tem lá um percentual das receitas de venda de jogadores e da venda de direitos de transmissão. Se por acaso a gente não honrar as prestações ou os juros, eles poderão exercer essa garantia", disse Wesley ao jornal Folha de S.Paulo.

Sem citar os percentuais das receitas que foram incluídos na negociação, o cartola disse que o fluxo de pagamento é "factível com as receitas da arena". Segundo ele, o dinheiro gerado no estádio é "suficiente para pagar todo o custo de manutenção e o financiamento".

Há no clube a expectativa de que nem será necessário usar toda a receita, sobretudo a das bilheterias, para honrar o débito. Pelo contrato original, todo o dinheiro gerado na arena era destinado ao fundo que administra o financiamento. Agora, o clube também pode utilizar essas verbas em caso de sobra.

A informação sobre a inclusão de novas garantias no acordo entre as partes foi revelada pela presidente da Caixa, Daniella Marques, em entrevista à TV Jovem Pan.

Recém-empossada presidente do banco após o afastamento de Pedro Guimarães, envolvido em denúncias de assédio, Daniella chegou a afirmar que o financiamento da arena alvinegra foi uma "operação de crédito muito malsucedida". Após uma repercussão negativa sobre a fala, ela comentou que o novo acordo "foi um golaço e solucionou a renegociação de obrigações antigas".

Já Wesley disse que "agora é fácil olhar para trás e falar", mas que o plano inicial de pagamento fazia sentido na época da inauguração do estádio, em 2014. Segundo ele, podem ter ocorrido exageros nas projeções de receitas, mas a situação econômica do país foi o maior obstáculo para o clube honrar a dívida. "O Brasil foi muito impactado pela crise mundial em 2016, que afetou todos os negócios."

Desde 2019, quando o banco executou o contrato, as partes negociavam novos termos. Por conta disso, o processo na Justiça teve sucessivas suspensões pedidas pelo clube e pelo banco. O pagamento do empréstimo neste período também ficou suspenso.

Segundo o diretor financeiro, o clube já pagou R$ 165 milhões da dívida, entre juros e o valor do empréstimo.

Agora, ficou acertado que o clube ficará isento de pagar a dívida neste ano e, a partir de 2023, começará a pagar os juros do financiamento. Já o valor principal começará a ser pago em 2025.

"Em 2023 e 2024, vamos pagar só juros, de maneira trimestral, em março, junho, setembro e dezembro. O principal a gente começa a amortizar em 2025, também de forma trimestral", explicou o diretor.

O valor original repassado pela instituição ao clube foi de R$ 400 milhões. Esse montante sofreu correções desde então, e o valor atual é calculado em R$ 611 milhões.

Inicialmente, o prazo para a quitação do débito era 2028. Agora, a data limite é 2041. "Foi uma necessidade do fluxo [fazer esse prolongamento], para garantir um valor com que a gente não se aperte", disse Wesley.

Nem o clube nem a Caixa revelou os valores das parcelas acordadas. O acordo original previa parcelas mensais de R$ 6 milhões.

Parte do empréstimo será paga com a venda do nome do estádio, os chamados "naming rights". Para batizar o palco de Itaquera de Neo Química Arena por 20 anos, a Hypera Pharma topou em 2020 desembolsar R$ 300 milhões em parcelas anuais de R$ 15 milhões. Há uma correção anual pelo IGPM (Índice Geral de Preços de Mercado), e o cálculo atual aponta um pagamento total de R$ 400 milhões.

Construído para receber a abertura da Copa do Mundo no Brasil, o estádio foi inaugurado em maio de 2014. No local foram realizados seis jogos do Mundial.

A reportagem procurou a Caixa, mas a instituição informou em nota que "não comenta os aspectos específicos de processos judiciais ou renegociações em andamento". Ressaltou apenas que a renegociação foi um "acordo histórico".