SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente afastado da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboclo, busca que o vice Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, assuma novamente o cargo máximo da entidade de forma interina.

Para que Nunes ocupe o posto nos próximos 21 meses (até março de 2023), eles usam como base um artigo do próprio estatuto da entidade.

Caboclo, afastado em razão das acusações de assédio sexual e moral feitas por sua ex-secretária, recorreu ao artigo 61. Este afirma que "substituirá o presidente, no caso de ausência, licença ou impedimento, o vice-presidente que for por ele designado".

Caso Nunes tome posse do cargo, Caboclo acredita que terá mais facilidade para reaver o posto máximo da entidade, após ter sido afastado dele em junho deste ano.

A reportagem teve acesso à ata do 15º Cartório do Ofício de Notas do Rio de Janeiro, em que a tabeliã detalha como noticiou a CBF, em sua sede na Barra da Tijuca, sobre a manifestação de Caboclo.

Caso o presidente em exercício da confederação, Ednaldo Rodrigues, ignore o documento, os advogados do mandatário afastado devem recorrer ao CBMA (Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem), que funciona como uma câmara arbitral escolhida por entidades para resolver conflitos comerciais e eleitorais.

A petição é assinada conjuntamente por Caboclo e Nunes. O vice chegou a presidir a CBF após o afastamento de Caboclo, em junho, mas desde agosto, após decisão do Conselho de Administração (formado pelos oito vices), quem está à frente da entidade é o baiano Ednaldo Rodrigues.

Mais de dois meses depois, Caboclo e Nunes dizem que o Conselho de Administração não tinha permissão para eleger Rodrigues. A dupla também evoca o artigo 73, o qual define que o conselho, composto pelo presidente e os vices da CBF, é responsável somente por decidir sobre deliberações da diretoria, planos estratégicos e políticas gerais da entidade.

Procurada pela reportagem, a CBF não se pronunciou. Sua assessoria de imprensa afirmou, no começo da noite desta quarta, que não havia tomado conhecimento do assunto.

Em setembro, os 27 presidentes das federações estaduais decidiram, por unanimidade, que Caboclo deverá ficar afastado da presidência da CBF por 21 meses.

Com a punição, descontando o tempo já cumprido desde o início do afastamento, em junho deste ano, Caboclo regressará em março de 2023, um mês antes do previsto para o final de seu mandato.

O dirigente afastado provavelmente não terá chance de concorrer a uma reeleição na entidade. O próximo pleito poderá ser convocado a partir de abril de 2022, período no qual ele estará inelegível.

Caboclo estava afastado pela Comissão de Ética da entidade desde o dia 6 de junho, após ter sido acusado por sua secretária de assédio moral e sexual. A denúncia foi protocolada dois dias antes.

No mesmo final de semana do afastamento, o Fantástico, da TV Globo, exibiu diálogo entre o cartola e a funcionária, no qual é possível ouvi-lo questionar se ela se masturbava e se mantinha um romance com outro colega da CBF.

A denunciante ainda disse, em relatório apresentado à Comissão de Ética, que o mandatário teria oferecido biscoito de cachorro para ela e a chamado de cadela.

A pena de 21 meses diz respeito somente às denúncias da secretária. Há outras duas acusações de assédio sexual e uma de assédio moral feita por um diretor da entidade que ainda são investigados pela Comissão de Ética.

Caboclo diz que tem sido alvo de ações orquestradas por Marco Polo Del Nero, seu antecessor, que deixou a CBF acusado de corrupção no caso chamado de Fifagate. A defesa de Caboclo nega que ele tenha cometido assédio moral e sexual.

Coronel da reserva da Polícia Militar do Pará, Nunes ocupou o cargo mais importante do futebol brasileiro de fevereiro de 2017 a abril de 2019. Antes disso, já havia ficado 150 dias na função, em 2016, quando Del Nero se licenciou após ser indiciado pela Justiça dos Estados Unidos.

Ao longo de seus dois mandatos provisórios, Nunes foi apontado como representante dos interesses do grupo comandado por Del Nero.