Briga no Maracanã tem jogo de empurra entre CBF, estádio e PM
Torcedores argentinos foram reprimidos com violência pela polícia, que viu presença de público misto como "dificultador"; Fifa analisa caso
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 22 de novembro de 2023
Torcedores argentinos foram reprimidos com violência pela polícia, que viu presença de público misto como "dificultador"; Fifa analisa caso
Igor Seiqueira, Rodrigo Mattos e Bruno Braz/Folhapress
Rio de Janeiro - A poucos minutos do início do jogo, quando tocava o Hino Nacional Argentino, torcedores brasileiros e argentinos no setor Sul do Maracanã entraram em conflito com arremessos de objetos. Não estavam separados por nenhuma divisória.
A Polícia Militar entrou no meio e passou a brigar com os hermanos com agressões com cassetetes nos torcedores. A briga se agravou, jogadores argentinos foram até o local para ajudar os compatriotas. O jogo atrasou em meia hora enquanto a briga era resolvida.
A explicações posteriores para as cenas de violência que precederam o clássico Brasil x Argentina, terça à noite (21), no Maracanã, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026, constituíram um verdadeiro jogo de empurra entre CBF, organizadores e PM pelas responsabilidades.
Primeiro, a confederação é a responsável pela organização do jogo pela regra da Fifa, que é a dona das Eliminatórias. A versão da CBF é de que contratou a gestão do Maracanã, nas mãos de Flamengo e Fluminense, para fazer toda a operação do jogo. Portanto, não teria tomado nenhuma decisão sobre como os torcedores foram postos sem divisória. A entidade ainda atribuiu à PM o planejamento de segurança do evento.
Em nota, a PM informou "que não havia divisão entre torcidas nos setores do Estádio do Maracanã, por conta da venda de ingressos sem diferença entre as torcidas, o que foi definido pela organização do evento".
Em entrevista à TV Globo, o coronel Ferreira, do Bepe (grupamento de estádios), disse que isso foi "um dificultador para a segurança privada desde o início do problema". E ressaltou que "normalmente torcidas visitantes e da casa são separadas". A gestão do Maracanã informou que o padrão em jogos da Seleção é não haver divisão.
NOTA DA CBF
A questão é que, desde a primeira reunião em 16 de novembro, a organização do jogo já tinha sido feita com setor misto de torcidas no Sul, onde estava previsto ficarem os argentinos. E, nesta reunião estiveram representantes da PM, Ministério Público do Rio, gestão do Maracanã e Ferj (Federação do Rio). Havia um representante do Bepe (policiamento dos estádio), Alexandre Tonassi, neste encontro.
"Outros jogos entre Brasil e Argentina, até de maior apelo, como a semifinal da Copa América de 2019, também foram disputados com torcida mista. Não se trata de um modelo inventado ou imposto pela CBF. Ou seja, todo o plano de ação e segurança foi elaborado e dimensionado já considerando classificação do jogo como vermelha e com a presença de torcida mista, tanto que atuaram na segurança da partida 1.050 vigilantes privados e mais de 700 policiais militares da Polícia Militar RJ", diz trecho da nota oficial da CBF.
Quanto à CBF, cabe a ela, como organizadora oficial do jogo, a responsabilidade pelas decisões, mesmo que tenha contratado terceiros para operação. Tanto que a Fifa vai analisar o caso disciplinarmente com a CBF como ré.
O coronel Ferreira ainda justificou como necessária a força empregada pela PM na arquibancada. As imagens mostram policiais dando com cassetes em argentinos mesmo quando estes estavam sem reagir. É bem claro pela imagem que a atuação dos policiais agravou o conflito. Do outro lado do estádio, torcedores brasileiros criticaram a atuação da PM com gritos.