Brasil reverencia carrasco da Copa de 50
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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Sílvio Barsetti<br> Agência Estado
Rio - Com um leve sorriso e pose de quem fez a maior travessura nos 59 anos de história do estádio, um senhor de andar vagaroso aguçou a curiosidade de dezenas de turistas ao deixar ontem a marca de seus pés na Calçada da Fama do Maracanã. Foi tudo muito rápido, mas a cerimônia emocionou Alcides Edgardo Ghiggia, de 83 anos. Até hoje, o ex-atacante uruguaio ainda guarda na memória detalhes do jogo e do gol que selou a vitória de virada do Uruguai sobre o Brasil, por 2 a 1, na final da Copa do Mundo de 1950. ''Foi o maior momento da minha vida, de muito choro de pura alegria'', relembrou.
Calar quase 200 mil torcedores presentes no Maracanã, naquela histórica final da Copa de 1950, rendeu ao ex-atacante uruguaio a alcunha de maior carrasco do futebol brasileiro. Ele sempre rejeitou o rótulo, mas seu nome ficou para a história. Nesta terça-feira, Ghiggia foi imortalizado no estádio em que ficou famoso, e agradeceu as autoridades do Rio pela homenagem.
Ghiggia passou a ser o centésimo homenageado na Calçada da Fama do Maracanã. E também passou a ser o sexto estrangeiro nesse seleto grupo, ao lado do português Eusébio, do sérvio Petkovic, do alemão Beckenbauer, do paraguaio Romerito e do chileno Figueroa. ''Nunca pensei que receberia homenagem no Maracanã. Estou emocionado, feliz com o que está acontecendo. Muito obrigado. Viva o Brasil!'', afirmou o uruguaio.
Ghiggia calçava tênis branco, vestia calça jeans e uma camisa verde. Sua passagem pelo Maracanã estava programada havia mais de um mês: viajou ao Rio para conceder entrevista a uma emissora de TV da Europa. A Secretaria de Esportes do Estado aproveitou a oportunidade e fez o convite ao único jogador vivo entre os titulares daquele time uruguaio da Copa de 50.
Da seleção brasileira, derrotada em casa naquele jogo que ficou conhecido como Maracanazo, somente Nilton Santos e Nena mantêm acesas algumas lembranças do maior fracasso do futebol nacional. Em outubro, o Brasil perdeu o último titular que participou da decisão de 50 no Maracanã: o ex-zagueiro Juvenal Amarijo.
Em meio a turistas, muitos dos quais adolescentes, Ghiggia sentou-se numa cadeira no hall de entrada do Maracanã para que um funcionário do estádio pudesse tirar o molde de seus pés. As pessoas, em geral, não sabiam de quem se tratava.
Com a revelação, prevaleceu um sentimento de indiferença no local, pelo menos entre os jovens. Os mais velhos aplaudiram o uruguaio, embora sem muito entusiasmo. Ele agradeceu com acenos. Parecia naquele instante querer se desculpar de alguma coisa. Ninguém exigiu isso. Nem poderia. O Uruguai venceu o Brasil dentro de campo, com méritos. E aquele gol de Ghiggia entrou para a história.
''Ter o Ghiggia na Calçada da Fama do estádio é um resgate da memória, passamos a informação para quem não conhece a história e fazemos uma justa homenagem a um jogador que é reconhecido mundialmente pelo que fez no Maracanã. Se havia algo mal resolvido, entre Brasil e Ghiggia, creio que agora está definitivamente apagado'', disse a secretária de Turismo, Esporte e Lazer do Rio, Marcia Lins, presente na homenagem.