SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dos três adversários que o Brasil enfrentará na primeira fase da Copa do Mundo no Qatar, a Sérvia é o que tem mais chances de impor dificuldades ao time de Tite. Famosa por apresentar um futebol técnico, com um elenco formado por atletas que atuam em grandes clubes da Europa, a nação vem se preparando para resgatar a alcunha de "brasileiros do Leste Europeu", como já foram chamados no passado.

O apelido é antigo, conquistado ainda quando os sérvios faziam parte da extinta Iugoslávia, que, apesar de nunca ter conquistado um Mundial, costumava ser apontada como uma das prováveis surpresas devido à qualidade de seus jogadores.

Essa característica também está presente no elenco sérvio, que conquistou sua vaga no Mundial sendo o líder de seu grupo nas Eliminatórias, deixando para trás Portugal —que foi para a repescagem. Um feito possível devido ao talento de nomes como Dusan Vlahovic, 22, atacante pelo qual a Juventus pagou 81 milhões de euros (R$ 415 milhões), o mais caro da última janela de transferências.

O jovem centroavante representa a nova geração de um time treinado para apresentar um futebol ofensivo e de vigor físico, como eram as equipes da Iugoslávia.

Na Copa do Qatar, Brasil e Sérvia vão se encontrar pela sexta vez em Mundiais, sendo a segunda de forma consecutiva. Ao lado de Suíça e Camarões, as duas equipes formam o Grupo G.

O confronto será logo na primeira rodada, no dia 24 de novembro, no estádio Lusail, palco que vai receber ainda a final da competição, no dia 18 de dezembro.

Na primeira edição da Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai, a equipe da região dos Bálcãs, na parte sudeste da Europa, também foi a adversária dos brasileiros na rodada inaugural. Na ocasião, ainda como integrante da extinta Iugoslávia, venceu por 2 a 1.

Foi um resultado importante, que ajudou os europeus a avançarem para a fase seguinte, enquanto o Brasil acabou eliminado.

Sob a bandeira iugoslava, houve mais três encontros com os brasileiros em Copas (1950, 1954 e 1974), com uma vitória da equipe canarinho por 2 a 0 no Mundial sediado em terras brasileiras, e dois empates nas demais edições.

O equilíbrio fazia jus à alcunha que ganharam pela capacidade técnica de seus jogadores. Os melhores resultados dos "brasileiros do Leste Europeu" foram o ouro olímpico, em 1960, dois vices da Eurocopa (1960 e 1968) e um quarto lugar no Mundial de 1962, no Chile.

A Iugoslávia, contudo, não resistiu à queda do Muro de Berlim, em 1989, marco da decadência do socialismo.

Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia se declararam independentes, traçando um caminho que seria seguido pela Bósnia-Herzegovina no ano seguinte.

Em 2003, o que havia restado da Iugoslávia passou a adotar o nome das duas repúblicas restantes, Sérvia e Montenegro, união que permaneceu até 2006, quando ambos optaram pela separação.

Para a Fifa, a seleção sérvia é a sucessora oficial da Iugolávia e da Sérvia e Montenegro e, portanto, carrega todo o histórico em Copas. Por isso, em 2018, o Brasil teve sua revanche no Mundial disputado na Rússia.

Na última rodada do Grupo E, o time comandado por Tite venceu por 2 a 0, resultado que, além de garantir os brasileiros nas oitavas de final, eliminou o adversário —a Suíça ficou com a segunda vaga.

A despeito dessa derrota, Dragan Stojkovic, 57, ficou feliz de ver a Sérvia cair na chave do Brasil na Copa do Mundo no Qatar. Pelo menos, foi isso que o técnico sérvio tentou demonstrar logo após o sorteio que definiu os grupos da competição, no último dia 1º.

"Vai ser uma partida muito desafiadora, mas eu gosto de jogar contra grandes times", afirmou o treinador. "Eu fico feliz de jogar contra o Brasil, porque sou alguém que ama muito o futebol técnico. É o que desejo fazer com a Sérvia, jogar um futebol bonito, oferecer divertimento às pessoas", disse.

Stojkovic também foi jogador, um meio-campista com muita técnica. Disputou duas Copas e vestiu a 10 da Iugoslávia no Mundial de 1990, na Itália. Marcou dois gols e deu duas assistências.

No elenco que ele comanda atualmente, o dono da camisa 10 é Dusan Tadic, 33, do Ajax, da Holanda, time que ele ajudou na conquista de duas ligas nacionais, em 2018/19 e 2020/21, ampliando o domínio no futebol holandês, com 35 taças do torneio.

Nas Eliminatórias europeias, Tadic também foi decisivo para a classificação da Sérvia à Copa do Mundo. Foi ele quem abriu o caminho para a vitória sobre Portugal, por 2 a 1, na última rodada, em Lisboa, quando a equipe sérvia ficou com a vaga direta do Grupo A.

Na disputa da chave, que tinha ainda Irlanda, Luxemburgo e Azerbaijão, outro grande nome foi o atacante Aleksandar Mitrovic, 27. Ele foi o artilheiro do grupo, com 8 gols, dois a mais do que Cristiano Ronaldo, autor de 6. E foi ele que fechou a conta no confronto direto, no estádio da Luz, já nos acréscimos.

Na classificação geral, Mitrovic só fez menos gols do que o polonês Robert Lewandowski (9), além do inglês Harry Kane e do holandês Memphis Depay, ambos com 12.

Tadic e Mitrovic também estiveram em campo no confronto entre Brasil e Sérvia na Copa de 2018, na Rússia.

Dragan Stojkovic ainda não fechou a lista dos atletas que vai levar para o Qatar, mas é certo que o elenco será formado por muitos remanescentes do último Mundial, como Milinkovic-Savic, da Lazio, e Aleksandar Mitrovic, do Fulham. São eles que darão suporte a jovens como Vlahovic, que deverá estrear em Mundiais.

A presença dos jogadores sérvios em grandes clubes da Europa não é surpresa. O atual elenco da seleção não conta com nenhum jogador que atue nos times da Sérvia, cujo futebol local não vive seus momentos de maior glória.

No passado, o Estrela Vermelha, maior clube do país, conquistou a Copa dos Campeões da Europa, precursora da atual Champions League, na temporada 1990/91. Atualmente, a liga sérvia, porém, é apenas a 11ª no ranking da Uefa.

SÉRVIA

Continente: Europa

Capital: Belgrado

Área: 77.474 km²

População: 7 milhões

Principais conquistas no futebol: ouro nos Jogos Olímpicos de 1960*, 4º lugar nas Copas de 1930 e 1962*, vice campeã das Eurocopas de 1960 e 1968*.

Maior artilheiro: Aleksandar Mitrovic (44 gols)

*Como parte da antiga Iugoslávia