Belo Horizonte/Rio de Janeiro - Dizendo-se traído pela diretoria do Atlético Mineiro, o empresário Roberto Tibúrcio denunciou uma prática de ''mala preta'' por parte da diretoria do time no Campeonato Brasileiro de 2004. Tibúrcio, procurador do atacante Quirino, disse que foi o operador do pagamento de ''incentivo'' financeiro para atletas de Cruzeiro, Corinthians, Coritiba e Ponte Preta, que na penúltima e última rodada do Brasileirão de 2004 enfrentariam adversários diretos do Galo na luta contra o rebaixamento para a Série B.
Tibúrcio garante que tem como provar a mala preta. Ele disse que para os supostos pagamentos usou cheques pessoais, do Banco Rural, e transferências eletrônicas de depósitos. A denúncia do empresário foi feita na noite da última quarta-feira, em entrevista à Rádio Itatiaia, poucas horas depois de o Atlético negar o envio da documentação que permitiria a transferência de Quirino para o Real Sociedad. A negociação emperrou, o prazo de inscrições de jogadores na Europa terminou na quarta e o futuro de Quirino é incerto.
Ontem, Tibúrcio reafirmou as denúncias. ''Foi um incentivo para que os jogadores vencessem as partidas, o que é prática normal no Brasil'', afirmou. ''Eu falo e provo''.
O empresário afirmou que se responsabilizou pela operação porque nenhum dirigente do clube mineiro se dispôs a fazê-lo. ''Não ganhei um centavo''.
O time alvinegro conseguiu escapar do descenso na última rodada, no dia 19 de dezembro (venceu o São Caetano por 3 a 0, no Mineirão), e terminou em 19º lugar, com 53 pontos. Os resultados citados por Tibúrcio que favoreceram o Atlético foram: Botafogo 1x2 Corinthians e Cruzeiro 4x0 Vitória, na penúltima rodada; Criciúma 3x3 Coritiba e Vitória 1x2 Ponte Preta, na última rodada.
''Eu não sei de onde vinha (o dinheiro supostamente repassado), mas eles (dirigentes) creditavam o valor exato na minha conta'', disse. Ele não falou no suposto valor total repassado, mas chegou a dizer que entregou um cheque de R$ 4 mil para cada um dos jogadores do Cruzeiro.
O Atlético informou que já solicitou a fita da entrevista de Tibúrcio para analisar as declarações do empresário. O presidente do clube, Ricardo Guimarães, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que desconhece a situação relatada pelo empresário e, se houve pagamento, o dinheiro não saiu dos cofres do clube.
''Se houve a negociação foi com os jogadores, não com a diretoria do Cruzeiro. Eles negam veementemente'', disse o diretor de comunicação do Cruzeiro, Valdir Barbosa.
Tribunal O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) vai requisitar a fita com a entrevista. A partir do momento em que a fita for analisada pelo STJD, o tribunal deve enquadrar o clube mineiro em algum artigo do Capítulo II do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que trata de corrupção, concussão e prevaricação.
O Atlético, uma vez provada a denúncia, poderia ser incurso no Artigo 240 (''aliciar atleta autônomo ou pertencente a qualquer entidade desportiva''), cuja pena prevê suspensão de 60 a 180 dias e multa de R$ 50 mil a R$ 500 mil.