RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - A assembleia geral da CBF realizada nesta quinta-feira (24) concretizou o rito para tornar oficial e com efeito a segunda punição imposta pela Comissão de Ética do Futebol Brasileiro a Rogério Caboclo, presidente afastado da entidade.

Com o voto de 26 das 27 federações estaduais —a Federação Paraense de Futebol (FPF) esteve ausente—, veio a confirmação da sanção de 20 meses de afastamento, que, somada à primeira, de 21 meses, totaliza 41 meses de gancho para o dirigente.

Ele foi denunciado no primeiro processo por assédio sexual e moral contra uma funcionária. Posteriormente, veio a denúncia de assédio moral, movida pelo diretor de tecnologia da informação da CBF, Fernando França. Caboclo nega que tenha cometido assédio nos dois casos.

Somadas, as duas penas extrapolam o tempo de mandato para o qual Rogério Caboclo foi eleito, em 2018. O período no poder deveria ir até abril de 2023. Com isso, a diretoria da CBF entende que há vacância definitiva no cargo e deve iniciar nas próximas semanas os trâmites para convocar uma eleição.

Enquanto os dirigentes se reuniam, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou uma intervenção na entidade, dizendo que o diretor mais velho tome posse para ajustar o estatuto da entidade. De todo modo, enquanto não há intimação da decisão na CBF, Ednaldo Rodrigues segue no poder.

O entendimento sobre vacância definitiva, embora Caboclo possa recorrer da decisão da CBMA (Comissão de Ética à Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem), se escora no artigo 130 do estatuto da CBF. O texto diz que "a interposição de recurso não suspende os efeitos da decisão recorrida".

"Chega a ser risível o que está escrito, os fatos narrados em relação ao diretor Fernando França. Caboclo é absolutamente inocente. A decisão é recorrível ao CBMA, que é o órgão que vai rever essa decisão absurda tomada hoje", disse Marcelo Jucá, advogado de Caboclo e que teve 10 minutos para fazer a defesa do cliente na assembleia.

Antes da assembleia, o cenário já era desfavorável para Caboclo politicamente. Diferentemente da primeira assembleia, realizada em setembro, não chegou a haver uma mobilização do dirigente às vésperas do encontro na tentativa de escapar da confirmação por parte das federações.

Na primeira denúncia, a funcionária da CBF relatou que, em conversa com Caboclo na sede, o dirigente chegou a perguntá-la: "Você se masturba?".

Em carta enviada aos dirigentes estaduais na véspera da reunião anterior, ele falou que "pediu desculpas à denunciante pelas palavras infelizes e grosseiras". Caboclo também admitiu: "Excedi-me em alguns momentos, reconheço, mas nunca busquei qualquer vantagem ou favorecimento, nunca a toquei ou a convidei para sair ou insinuei algo nesse sentido".

Em relação às acusações de Fernando França, Caboclo afirma que "não cometeu assédio moral contra quem quer que seja". Ele acrescentou que "as peças do processo são claras em demonstrar que não há provas das acusações parcas, superficiais e plantadas feitas pelo diretor em questão da confederação".

À luz do estatuto, a saída de Caboclo deve ser sucedida pela entrada do vice-presidente mais velho no poder —no papel, o Coronel Nunes. Mas o dirigente paraense está internado em São Paulo e tem passado por problemas de saúde nos últimos meses.

Como ele está licenciado, o próximo da fila seria Antonio Aquino Lopes, de 75 anos, Vice-presidente que também preside a FFAC (Federação de Futebol do Acre). Aquino abriu mão. Por isso, Ednaldo Rodrigues, de 68 anos, segue à frente da entidade.