TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) - Entre os Jogos do Rio-2016 e a estreia em Tóquio, o handebol brasileiro viveu crise política, esteve nas páginas do noticiário policial e perdeu receitas milionárias com a debandada de patrocinadores.

Manoel Luiz de Oliveira presidia a Confederação Brasileira de Handebol (CBHd) desde 1989 e, em 2018, foi afastado por determinação judicial, sob acusação de irregularidades em convênios firmados entre a entidade e o Ministério do Esporte --atualmente, pasta subordinada ao Ministério da Cidadania.

Parceiros desde 2012 e 2013, respectivamente, o Banco do Brasil e os Correios deixaram de patrocinar o esporte, uma perda de quase R$ 15 milhões por ano. O vice de Oliveira, Ricardo Souza assumiu a presidência e, em vez de solucionar os problemas, abalou ainda mais a imagem do esporte.

Souza foi acusado de assédio moral e sexual contra uma funcionária da confederação durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. Ainda assim, permaneceu no cargo até que, em outubro do ano passado, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) avisou que, enquanto não elegesse outro presidente, deixaria de apoiar os projetos da entidade --cabe ao COB receber as verbas oriundas das loterias (Lei Agnelo/Piva) da Caixa Econômica Federal e distribuir às confederações segundo critérios administrativos e esportivos.

Neste ano, a CBHd deverá ter direito a R$ 3,6 milhões, principal fonte de recursos da confederação hoje.

Em meio à queda de braço entre COB e Souza, a seleção ficou de fora de um período de treinamentos da delegação brasileira, no ano passado, em Portugal. A chamada missão Europa era uma maneira de manter atletas em atividade num país em que a pandemia passava por um momento de arrefecimento.

Acuado, Souza renunciou em dezembro e, em fevereiro deste ano, o pernambucano Felipe Rego Barros foi eleito para presidir à CBHd. "Temos uma dívida, hoje, acima de R$ 11 milhões. A nossa única receita hoje é a do COB [recursos da loteria], para gerenciarmos infraestrutura de todas as seleções, passagens aéreas, diárias, hospedagem e salários das comissões técnicas", afirma o cartola, conhecido como Casão.

Em busca de verbas, a nova diretoria fez um acordo com uma marca de uniforme esportivo e colocou no ar, em maio, um site para vendas online. Também passou a investir em produção de conteúdo nas redes sociais para interagir com torcedores e veicular produtos oficiais. "Estamos trabalhando a imagem do handebol. A logomarca é nova, porque a manchete era sempre negativa", afirma Casão.

Entre as medidas, a atleta ou integrante da comissão técnica que tiver sido convocada até nove meses antes do início de uma gestação receberá as diárias que teria direito durante o período de gravidez e por mais um ano, com acréscimo de um bônus de 50%. Quem adotar uma criança também terá o direito, e nesse caso será levado em conta os nove meses anteriores à obtenção da guarda.

Após o retorno da jogadora em quadra, caso ela não passe mais a ser convocada, a comissão técnica deverá emitir um parecer com justificativas por motivos técnicos.

Também ficou determinado que a licença maternidade, para funcionárias e diretoras remuneradas da CBHd, será de seis meses, e não mais de quatro meses, conforme a lei.

Em Tóquio, as seleções tentarão, ao menos, passar da fase de classificação --há seis seleções em cada uma das duas chaves, e as seis melhores colocadas no geral avançam para as quartas de final.

Campeã mundial em 2013, a equipe feminina não conseguiu renovar o time e terminou em 17º lugar nos Mundiais de 2017 e 2019 --a vaga na Olimpíada veio por meio da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. No Grupo B, o Brasil terá pela frente a Rússia, atual campeã olímpica, a França, campeã europeia em 2018, e a Espanha, vice-campeã mundial em 2019, além de Suécia e Hungria.

Já o time masculino, que no Mundial no Egito, em janeiro, teve o seu pior desempenho nos últimos cinco anos (18º colocado), terá pela frente, na fase de grupos, as potências europeias Alemanha, Espanha, França e Noruega, além da Argentina, campeã no Pan-Americano de Lima.

"Fizemos boas campanhas, ganhamos um Mundial inédito, mas os nossos times foram mal trabalhados. Não houve continuidade e faltou estruturar melhor a modalidade", diz Casão.