Ouagadougou, 10 (AE) - Os brasileiros tiveram altos e baixos na quinta etapa do Dacar-Cairo, entre Bobo Dioulasso e Ouagadougou, em Burkina Faso. Enquanto André Azevedo fez o melhor tempo com seu caminhão Tatra e subiu da quinta para a segunda posição, Juca Bala levou um tombo com sua moto KTM. Não se machucou, mas perdeu tempo para consertá-la e fez apenas o 80o tempo. Os demais mantiveram a média.
O rali cruza amanhã a fronteira com o Níger e segue para Niamey, após 733 quilômetros em que as dunas finalmente vão começar a aparecer, para alívio dos pilotos, que não vêem graça nas pistas rápidas e cheias de pedras que têm enfrentado. O rio Níger estará no caminho.
Além de deixar o caminhão de André Azevedo em segundo (em primeiro, está um dos russos da Kamaz), a vitória de hoje teve um significado especial para seu piloto, o checo Tomas Tomecek. Ele agora está à frente de seu concorrente e inimigo, o compatriota Karel Loprais, atual campeão, que também corre de Tatra. A vantagem não chega a dois minutos, mas dentro das circunstâncias é motivo de comemoração.
O caminhão de Tomecek é particular, não tem apoio e terá de resistir com as peças que tem até o Cairo. É o primo pobre. Já o concorrente é de fábrica, mais potente, tem outro caminhão só para apoiá-lo e poderá ser reformulado em Agadez, no dia de descanso. Tomecek era navegador de Loprais até 96, quando teve de prestar serviço civil. Depois, decidiu fazer o que sempre quis: ser piloto. Até hoje, os dois não se falam.
"Quero aprender com ele, mas não quero fazer nada junto", conta Tomecek, que tem 29 anos: "Eles têm raiva de mim porque sou o primeiro concorrente do mesmo país." Por educação, os dois trocam elogios, e Tomecek lembra que Loprais, de 50 anos, poderia ser seu pai. Mas se depender do cinquentão Loprais, os dois não vão se falar tão cedo: "Ele tem que vir falar comigo porque é 25 anos mais novo. Eu sou um astro." Enquanto isso, seus companheiros de equipe tomavam uma garrada de Ballantines no gargalo. Eram 9h30, hora de partir.
"O dia foi péssimo, tomei um puta tombo", contou o decepcionado Juca Bala mostrando o parapeito de sua moto solto no chão. Ao acelerar na saída de uma curva, a KTM saiu de traseira e a roda de trás acabou pegando numa pedra. Após tomar uma bronca do piloto Kléver Kolberg por ter caído na parte fácil do rali, Juca admitiu que já começava a se sentir confiante demais. Ele é contratado da equipe BR Lubrax, comandada por Kléver e por André Azevedo.
Na queda, a boca do radiador estourou e Juca contou com a ajuda dos nativos para consertá-la. Em troca, deu um pedaço de sua barra energética, que não foi rejeitada como o salame de ontem. 28o na classificação geral, Juca está em oitavo na categoria maratona e admite que será muito difícil ganhá-la, como pretendia. Em primeiro está o português Paulo Marques, com quase 2h18min de vantagem sobre o brasileiro.
O vencedor de hoje foi o austríaco Heinz Kinigardner (KTM), mas o espanhol Joan Roma, que ficou em segundo, continua na liderança, com 23 minutos de vantagem sobre o atual campeão, o francês Richard Sainct (BMW) - uma vantagem que já lhe dá esperança de ganhar o Dacar pela primeira vez. E também um gostinho especial.
Nunca um espanhol ganhou a prova de moto. Foram 15 títulos para a França, quatro para a Itália e dois para a Bélgica. Não seria nada mal quebrar esse tabu deixando para trás um francês, numa prova de organização francesa. Roma, que não terminou o Dacar nas quatro tentativas anteriores, conta que está administrando a vantagem e poupando a moto: "Os outros é que têm de correr atrás." Nos carros, a vitória hoje foi de Jean-Louis Schlesser, segundo no geral com seu bugue. O líder ainda é o japonês Kenjiro Shinozuka, de Mitsubishi.
Outros resultados brasileiros: Kléver Kolberg - 21o e 22o no geral (quarto na maratona); Arnoldo Silveira - 62o e 54o no geral (quinto nos estreantes); Cacá Clauset - 71o e 81o no geral; Reinaldo Varella - 76o e 67o no geral; Roberto Macedo - 94o e 111o. O acampamento de Ouagadougou recebeu hoje uma série de visitantes locais, que pediram autógrafos até para jornalistas.
E no jantar, foi oferecido um churrasco, feito no chão, em duas valas de 12 metros de comprimento.