SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Grande aposta do vôlei brasileiro, escalada para sua primeira Olimpíada aos 17 anos, Ana Cristina rejeitou jogar o Mundial de Vôlei alegando que gostaria de ficar mais tempo treinando no seu clube, o Fenerbahçe, da Turquia. O pedido de dispensa, feito por intermédio do empresário Eduardo Fonseca, caiu como uma bomba na seleção.

Diferente de Julia Bergmann, outra ponteira, que desde o início da temporada internacional avisou que não iria jogar ao Mundial, entre setembro e outubro, porque pretendia se dedicar ao último ano de graduação na Georgia Tech, universidade norte-americana, Ana Cristina nunca falou com a comissão sobre ser dispensada.

Ao fim da Liga das Nações, as jogadoras da seleção receberam duas semanas de folga, com a condição de não abandonarem a preparação física. Ana Cristina informou que treinaria em São Caetano do Sul (SP), onde foi revelada, mas não apareceu para fazer nenhuma atividade no ginásio do clube local.

No fim da semana passada, a razão foi explicada em ligação telefônica de Fonseca a Zé Roberto: ela não aceitaria uma convocação para o Mundial. De acordo com o empresário, a jogadora estava ao seu lado, com um dos fones no ouvido. Mas a reportagem apurou que ela não falou com o treinador da seleção.

A justificativa oficial é que Ana Cristina deseja se dedicar aos treinamentos com o clube dela, o Fenerbahçe, um dos clubes mais fortes e ricos do vôlei mundial. Ela foi contratada há um ano, com acordo de quatro temporadas, mas jogou pouco no primeiro ano, quando tinha somente 17 anos, algo natural para uma atleta tão jovem.

À Confederação Brasileira de Vôlei, o empresário de Ana Cristina alegou que ela deseja se preparar para estar melhor tecnicamente visando futuras de sua carreira no clube e na seleção. Ainda segundo o agente, no entender da jogadora, isso não aconteceria com ela permanecendo na seleção, treinando e jogando ao lado de Macris, levantadora da seleção e que foi contratada pelo Fener para ser titular, ou mostrando seu talento em um Mundial.

Ana Cristina estava incomodada por ter jogado pouco na Liga da Nações, mas tinha tudo para ganhar mais espaço na seleção, uma vez que Julia Bergmann, titular na fase final da VNL, não vai ao Mundial. Além disso, Aninha (como é chamada na seleção) deixou boa impressão na final do torneio, quando foi escalada no último set e marcou seis pontos, mostrando que queria jogo e que cresce em partidas decisivas.

Apesar de Zé Roberto e a confederação saberem do pedido de dispensa desde o fim da semana passada, Ana Cristina foi convocada na segunda-feira (1º) porque estava no planejamento da comissão técnica, diferente de Julia Bergmann, por exemplo.

O pedido de dispensa foi formalizado nesta terça-feira (2), deixando o grupo com 15 jogadoras, das quais 14 serão inscritas no Mundial. Não há perspectiva de convocação de um novo nome —na seleção masculina, os problemas na posição de oposto fizeram Wallace abrir mão da aposentadoria da seleção para jogar o Mundial masculino.

Para esta temporada, Zé Roberto perdeu Fê Garay (afastada para se dedicar a uma gravidez), Natália (se aposentou da seleção), Tandara (suspensa por doping), Maira (pediu dispensa por razões pessoais), Gabi Candido (pediu dispensa por uma paralisia na face) e Julia Bergmann (pediu dispensa para concluir a faculdade). Todas jogam na mesma posição que a Ana Cristina.

Com apenas 18 anos, Ana Cristina tem uma longa carreira pela frente, mas com a forma como se deu o pedido de corte, seu futuro na seleção fica comprometido.