É comum dizer e ouvir que “o tempo tá passando rápido demais”. Particularmente, não penso assim. Talvez, as mudanças e cobranças comportamentais têm sido mais frequentes e sucessivas, que nos remetem a entendimentos com maior velocidade sem muito tempo para aceitar essas mesmas mudanças. O tempo do tempo continua sendo o mesmo, mas as transformações não.

E vivendo conflitos desse “novo tempo”, somos obrigados a ter opinião e posicionamento diante das novas obrigações enquanto sociedade. E nem sempre todos acompanham, o que é natural; pois a mudança não tem o mesmo “tempo” de vigência para todos.

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) foi muito cobrada por demorar a se posicionar sobre as condenações e desdobramentos das prisões de Daniel Alves e Robson de Souza, o Robinho. A entidade máxima do futebol brasileiro, que teve há pouco tempo presidente afastado (Rogério Caboclo) por denúncia de assédio, também está aprendendo com as mudanças e achando seu caminho.

A CBF tinha que se posicionar? Jogadores têm que se posicionar? E os clubes? Nós temos que nos posicionar? Quem tem que emitir opinião? Há muita cobrança numa época em que “todos” são quase obrigados a ter uma opinião ou declarar uma posição, como se tivessem veredictos fortemente embasados. E ninguém tem. Porque o assédio é cultural, está aí há séculos e agora é preciso entender que não pode existir mais, mas isso gera conflitos numa sociedade que ainda é machista.

A mudança de cultura leva tempo. Pode levar gerações. Então, é preciso entender que haverá falhas, mas o mais importante é entender que os exemplos, que foram punidos, são apenas dois casos em centenas que acontecem todos os dias de formas diferentes nesta mesma sociedade. Pais precisam ensinar seus “meninos” que o homem não pode tudo. Nunca pôde, mas fazia; mas agora será punido. Entidades e clubes precisam “educar’ os jovens atletas que, mesmo tendo muito dinheiro, não poderão fazer tudo.

Daniel Alves e Robinho foram punidos. Outros tantos não foram. Independentemente de ter opinião sobre os casos, é entender que não é mais do jeito que sempre foi, e as mulheres não se calarão mais do jeito que sempre foi, porque não é mais absurdo denunciar para viver um “tempo” diferente