SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Vencedor da prova dos 400 metros com barreiras, Alison 'Piu' dos Santos se tornou nesta terça-feira (19), nos Estados Unidos, o primeiro corredor brasileiro a ser campeão do Mundial de Atletismo. Mais um resultado histórico para o atleta de apenas 22 anos que já acumula um bronze olímpico —em Tóquio— e empilha recordes sul-americanos em sua ainda precoce carreira profissional.

Piu nasceu na pista de atletismo de São Joaquim da Barra, cidade a 380km de São Paulo. Esse foi o apelido que Alison Bremdon Alves dos Santos recebeu quando começou a treinar, com 14 anos. "O atletismo não gosta de coisa pronta, quer inventar. E aí inventaram o Piu. Como não gostei do apelido, pegou mais rápido", lembra em entrevista ao UOL Esporte.

Entre amigos, familiares e até no judô, esporte que praticava antes do atletismo, Piu sempre foi conhecido como Teco. O apelido foi dado pelos avós, com quem Alison viveu até os 8 anos.

E foi na casa dos avós que Alison sofreu o acidente doméstico que causou as queimaduras que atingiram parte do seu corpo. Ele tinha apenas 10 meses de idade quando engatinhou até uma panela de óleo quente, que caiu sobre ele.

O acidente causou queimaduras de terceiro grau, e Alison comemorou seu aniversário de um ano ainda internado no Hospital do Câncer de Barretos. Por muito tempo, ele só usava boné, com o objetivo de esconder as cicatrizes que marcam até hoje seu corpo, sendo as mais visíveis na parte superior da cabeça e em parte da testa, áreas em que perdeu os cabelos.

NASCE UMA ESTRELA

Nascido em 3 de junho de 2000, Piu foi medalhista brasileiro em 2014, 2015 e em 2016. Em 2017, participaria de sua primeira grande competição: o Mundial sub-18, em Nairóbi (Quênia). Não foi bem em sua prova individual, mas fez parte da equipe que venceu o revezamento 4x400m misto.

Seu nome começou a chamar atenção, e entre as várias propostas recebidas, Alison foi para o Pinheiros treinar com Felipe Siqueira, no fim de 2017. Em 2018, correu os 400m com barreiras pela primeira vez abaixo dos 50 segundos na conquista da medalha de bronze no Mundial sub-20 em Tampere (Finlândia) com 49s78.

Mas foi na temporada seguinte que Alison se consolidou como uma estrela em ascensão. Em 2019, bateu sete vezes o recorde brasileiro e sul-americano sub-20, terminando o ano como líder do ranking mundial. Foi campeão dos Jogos Pan-Americanos de Lima e, ainda juvenil, foi finalista do Mundial (adulto) de Doha — ficou em 7º lugar, com o tempo de 48s28, índice para a Olimpíada de Tóquio.

Depois de um 2020 quase inexistente por conta do cavid-19, chegou o ano em que deixaria o seu nome marcado na história dos Jogos Olímpicos. No dia 3 de agosto, no Estádio Olímpico de Tóquio, Alison foi o terceiro colocado de uma prova extremamente forte, com o norueguês Karsten Warholm levando ouro e o americano Rai Benjamin ficando com a prata -Benjamin, curiosamente, voltou a ficar com a prata na prova desta terça.

BUSCA PELO RECORDE MUNDIAL

Pelo resultado desta terça-feira, Piu agora também é recordista do campeonato mundial, com 46s29. A marca é a terceira melhor de todos os tempos, e aproxima o brasileiro dos dois primeiros da lista: o norueguês Karstem Warholm, com 45s94, e o americano Rai Benjamin, com 46s17, ambas marcas feitas na final olímpica do ano passado, quando Piu foi terceiro com 46s82.

"Eu e o meu treinador, o Felipe (Siqueira), e a gente sempre conversou de fazer história. A gente quer ser uma lenda. Daqui 30 anos vão falar de 400m com barreiras e vão falar de Alison dos Santos. Tem que começar cedo. Não dá para esperar 2024, 2028", comentou Piu após a prova.

Em menos de um ano, Piu, que já vinha em uma enorme crescente, melhorou 53 centésimos de segundo seu recorde pessoal/brasileiro/sul-americano. Agora, está a apenas 35 centésimos do recorde mundial de Warholm.

"Em algum momento 46 era distante. 45 foi e já não é mais. A pergunta não é mais se é possível, é quando. Se o Warholm pode, então eu o Benjamin, todo mundo pode correr", completou Piu.