O meio-campo Celsinho, do Londrina Esporte Clube, se manifestou a respeito do novo comunicado oficial emitido pelo Brusque na sexta-feira (3) sobre o caso de injúria racial que ele sofreu. Sobre “o afastamento do envolvido por prazo indeterminado das atividades do clube até a integral e devida apuração dos fatos” determinado pelo Brusque, Celsinho afirma que o tal envolvido já deveria ter sido punido no mesmo dia. “ Acho justo que esse criminoso seja afastado, mas na minha opinião ele já deveria ter sido retirado do estádio naquele mesmo dia.”

Celsinho afirma que o gesto inspirado no movimento Black Lives Matter mostram a força e a importância para comprar a luta contra os preconceitos.
Celsinho afirma que o gesto inspirado no movimento Black Lives Matter mostram a força e a importância para comprar a luta contra os preconceitos. | Foto: Ricardo Chicarelli/Londrina Esporte Clube

Sobre a afirmação de que o clube providenciará “Instalação de câmeras de monitoramento com captação de áudio na Arquibancada Coberta do Estádio Augusto Bauer”, ele afirmou que isso pode auxiliar na identificação de outros casos. “Essas medidas que o Brusque vem tomando só vêm ajudar para que esses atos aí não venham acontecer novamente, mas não é só isso. Nós precisamos ter mais cuidado”, apontou.

“O primeiro comunicado que o Brusque emitiu é um absurdo. Me tirar de vítima para uma posição de oportunista foi um golpe muito baixo para tentar me calar, mas não deu certo. Não deu certo, porque depois que a repercussão veio à tona e que todo mundo opinou e relatou que não era justo, é óbvio que eles voltaram atrás, mas aquela primeira nota é de uma cabeça minúscula. Ela mostra, de fato, o pensamento, não digo de todos, mas o pensamento de algumas das pessoas que compactuam com o criminoso.”

“Eu vou lutar, eu vou brigar e eu vou ter voz sempre. Foi uma nota muito injusta essa primeira nota tentando me silenciar e até mesmo tentando me colocar como oportunista nisso tudo”, declarou.

Foi a terceira ofensa racial sofrida pelo jogador. Ele já havia sido insultado por radialistas de Goiânia e de Belém do Pará, em julho, e agora, no mês de agosto, em Brusque. Sobre o fato de ter recebido três ofensas raciais em um período tão curto, ele afirmou que é constrangedor. “Te afeta psicologicamente e emocionalmente. Você não consegue ter dimensão, tampouco consegue entender o que de fato está acontecendo no momento. Nós sabemos que existe o racismo no meio da nossa sociedade, mas enquanto a gente não passa na pele, não tem como ter essa dimensão, mas de fato acontece. E é triste você ser chamado de algo que você não imagina no meio de seu trabalho. É muito constrangedor.”

Ele reclamou que a sua família foi a mais afetada em todas essas situações. “Isso é o pior sentimento, é o pior lado das situações. Eu, particularmente, tenho forças para suportar e aguentar, para tocar em frente, para tentar entender o que de fato esses criminosos fazem, mas a minha família não. O meu filho é um menino de 14 anos, que da forma dele já procura lutar contra esse tipo de preconceito. E ele receber isso é muito forte, é muito pesado. Isso aí é o lado que mais me afeta, esse lado familiar.”

Ele relatou que já tinha registrado o BO (Boletim de ocorrência) e na sexta-feira (3) ele foi ao Ministério Público Estadual. “A doutora Susana de Lacerda pegou os meus três casos. Eu fui lá para esclarecer os episódios e para ela ouvir de mim o que de fato aconteceu nos três casos. O depoimento foi realizado em cima do que ocorreu de fato tanto no primeiro caso, em Goiânia, como da segunda ocasião, em Belém, ambos com radialistas. Agora, com o terceiro caso de Brusque, fiz mais um esclarecimento, para deixar às claras e para que ela ouvisse da minha boca tudo pelo que passei.”, declarou.

Celsinho afirmou que nunca teve qualquer tipo de ofensa racial como essa. “Eu sofri mais preconceito pelas pessoas imaginarem algo a seu respeito, por desvalorizarem, por achar que eu não tinha condições financeiras. Coisas desse tipo, mas injúria racial assim nunca tive esse problema antes desses episódios.”

Sobre o fato de algumas pessoas terem comentado que o fato era “mimimi”, como se fosse uma reclamação infundada, e que antigamente as pessoas colocavam apelidos nos negros e não havia esse tipo de manifestação, Celsinho afirmou que de fato isso é verdade. “Antigamente, quando você tinha inúmeros apelidos e te chamavam de inúmeros nomes, você não ligava porque não tinha dimensão do crime, do erro que a pessoa estava cometendo. Se o apelido vinha de um amigo ou de um parente, não interessa, é errado. Até mesmo eu, se algum dia recebi um apelido que de uma maneira me agredisse e que passasse dos limites, eu deveria ter protestado. Mas antigamente a mentalidade era outra. Hoje em dia nós não podemos mais ter esse tipo de pensamento. Nós não podemos deixar que essas coisas aconteçam, ou a tendência é que isso vá para pior”, declarou.

O atleta afirmou que o racismo existe desde sempre na sociedade e no meio do futebol. “O que acontece agora é que as pessoas que recebem essas ofensas estão tendo coragem, denunciando e mostrando a cara. Isso é bom e é importante, mas para isso ganhar força, a justiça precisa ser feita. As punições precisam acontecer. Eu enxergo dessa maneira. Eu vejo que as pessoas estão expondo mais, mas para que isso tenha solução nós precisamos que de fato as punições sejam dadas severamente.”

“Eu não sei te precisar qual a instituição que deva tomar a atitude mais severas, se é a CBF ou STJD ou a Justiça comum, mas eu posso te garantir que nós estamos correndo atrás. Nós vamos buscar a punição mais pesada possível para essas pessoas que cometeram isso aí para que não venha acontecer novamente, independentemente se a ofensa é coletiva ou individual, as medidas têm que ser tomadas.”

Segundo ele, todos os clubes deveriam pensar em fazer uma reunião e se colocarem numa situação de acordo e procurarem uma melhoria não só para o futebol, mas para toda a sociedade, adotando tudo o que seja contra esse ato de crime de preconceito, tanto racial, tanto de sexo ou qualquer outro tipo de preconceito e colocar isso em seus estatutos. “Deveria ser implantado em todas as equipes. Isso é relevante e importante para o futebol.”, destacou.