Jamais uma convocação será unanimidade para uma Seleção Brasileira de Futebol. Por gosto, preferências, achismo ou só por clubismo as opiniões sempre vão divergir. E, tudo bem. Mas nosso momento protagonista está tão em baixa que as discussões são leves quanto a este ou aquele nome presente ou ausente. Não conseguimos mais escalar um time prontamente. Não temos uma Seleção formada.

A maioria dos comentários após a primeira lista de Dorival Júnior segue analisando nomes. E, particularmente, não acredito ser o mais importante agora. Não dá pra falar de nomes se não temos mais um estilo de jogo. Qual é a “cara” do futebol brasileiro hoje? Qual é a nossa principal característica ou virtude no futebol atual? Estamos sem identificação.

O Brasil se acostumou com gênios: os camisas 10. E também em outras posições, mas o armador sempre foi o talento diferenciado do nosso criativo e brilhante futebol. O mundo evoluiu taticamente e se uniformizou utilizando jogadores de lado (ou antigos ponteiros) e meio-campistas para povoar o centro de campo. E o Brasil, exportando desde cedo seus talentos, viu suas joias se padronizarem a formatos que ainda não conseguimos nos encaixar. E viramos coadjuvantes.

A missão de Dorival Júnior é dura. Não passa apenas por formar uma Seleção e a tornar competitiva novamente, mas restabelecer uma identidade brasileira, que possa ir às raízes sem perder os conceitos que foram agregados. E isso vai levar tempo. Tite sofreu com o segundo ciclo de Copa do Mundo e Fernando Diniz não teve tempo pra nada.

A identidade brasileira diante do futebol sempre foi diferente do resto do mundo, por isso somos pentacampeões. Mas todos os nossos jogadores estão no centro “enlatado” das formas táticas e padrões. Mais do que convocar jogadores, a nova comissão técnica precisa direcionar para qual caminho vamos seguir: se vamos voltar a priorizar talentos e o futebol intuitivo ou se encaixar a este padrão universal?

Para este ou aquele caminho escolhido, ainda levará tempo para o Brasil voltar a ser o Brasil.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina