A saudade, todos sabemos, é um sentimento universal. Acomete crianças, jovens, adultos, idosos, pobres e ricos. Até o craque, que sentiu saudades do que nem viveu. Dizem, porém, que só a nossa brava e bela língua portuguesa é que tem uma definição para saudade, verbete sem tradução, por exemplo, no inglês. Algumas músicas do nosso vasto cancioneiro também têm definições precisas de saudade. Umas, prosaicas, como a de Cuitelinho: "a tua saudade corta como aço de navaia/o coração fica aflito, bate uma, a outra faia/e os olhos se enchem d'água que até a vista se atrapaia". Outras, doídas, caso de Pedaço de Mim, do Chico Buarque: "a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu".

Somos saudosos. Temos saudades de quem já se foi, de quem não e de quem está por ir. Remexendo a memória, bate aquela saudade de tempos nem tão distantes assim em que Londrina tinha times de ponta no basquete, no futsal, no vôlei, no handebol. Quem pôde ir ao Moringão ver um time inteiro, ou melhor, uma cidade toda jogar contra Oscar sabe do que estou falando. E olha que eu nem concordava muito com a birra criada em cima do melhor basqueteiro do país em todos os tempos - eu mesmo ia lá para vê-lo de perto. No futsal, não peguei a fase áurea dos anos 70, quando Londrina tinha jogadores de excelência, mas vi grandes gerações que vieram depois, salonista que fui na infância. Vale registrar a resistência, pra não dizer persistência, da modalidade feminina, que a despeito de cenários financeiros sombrios ainda é capaz de disputar a liga nacional.

No vôlei, há coisa de dez, quinze anos, fizemos bonito na Superliga Masculina, e há bem menos tempo as meninas também deram o ar da graça. O que houve que o desinteresse por esse esporte sumiu por aqui? E no handebol, poxa vida, até campeã nacional a cidade foi. Tempos em que trocamos os pés pelas mãos com gosto. O Moringão, testemunha de toda essa época boa, tá aí, renovado - embora já com problemas no piso, que vergonha, meu Deus -, mas temo que não abrigue mais as emoções que os esportes trazem.

Ah sim, saudade de bons públicos do Londrina no estádio do Café. Saudade de jogos no VGD. Da camisa listrada com o número vermelho às costas, do meião azul celeste. Da Portuguesinha do Amarildo. Sigamos.

PONTO DE INTERROGAÇÃO

A vitória sobre o Vitória na segunda-feira despertou nos otimistas aquele sentimento de "ainda dá". O Londrina fez um jogo coletivo eficiente, algo raro nesta temporada, e, que benção, não rendeu só meio tempo, não permitiu empate e virada. Como tirar do verdadeiro torcedor alviceleste a esperança de que neste returno as coisas serão bem diferentes? Vivemos disso, afinal, de esperança. Amanhã, contra o Criciúma do Tencati, uma oportunidade de esse time mostrar se vale a fé dessa gente em dias melhores. E nem falo de resultado. Há derrotas dignas, afinal. Falo de postura.