Não, não vou falar, ou melhor, escrever, sobre o jogo de ontem - ao qual assisti. É que fiz a coluna antes de a bola rolar no Café. Hoje meu assunto é outro, embora afim. Um cara que o torcedor alviceleste, acho, deve guardar com carinho em sua memória afetiva. Cláudio Tencati. Que completou 100 jogos pelo Criciúma na vitória tranquila sobre o Londrina, sábado passado, e segue em voo de cruzeiro na tentativa de reconduzir o tigre catarinense à elite do futebol nacional após dez anos da última participação na Série A, em 2014.

Nós que conhecemos o trabalho do Tencati (e do auxiliar, Aléssio), dada a sua longevidade de repercussão nacional por aqui, não deveríamos nos surpreender caso ele consiga de fato o acesso. Até porque por dois anos seguidos, em 2016 e 2017, bateu na trave com o próprio Tubarão. E ainda teve, também em 2017, a conquista da finada Primeira Liga.

Nesta Série B, o Criciúma jamais ficou longe do G4, quando não dentro dele, como agora, em que é o quarto colocado. E nas vezes em que assisti a um ou outro jogo da equipe o comentário nas transmissões pelo Premiere foi geralmente o mesmo, embora dito por analistas diferentes: times do Tencati são sempre organizados. Goste-se ou não.

Tudo bem, quando pousou em outros clubes, todos rubro-negros - Atlético-GO, Vitória e Brasil-RS -, o treinador paranaense foi mal sucedido. Mesmo sua segunda passagem por aqui, em 2019, ano da queda para a Série C, durou nove jogos apenas. E aí acho que a explicação está no fato de ele ter chegado no meio dos campeonatos, sem que pudesse ter iniciado as temporadas com o mínimo de planejamento, com tempo para montar seu elenco.

No Criciúma, Tencati também chegou com o trabalho já em pleno andamento, mas com uma diferença importante. Quando assumiu o time, em outubro de 2021, na reta final da Série C, o acesso para a Série B estava encaminhado por seu antecessor, Paulo Baier. Vaga garantida, Tencati foi mantido para que tivesse tempo e condições suficientes de preparar o Criciúma em sua principal missão em 2022: retornar à primeira divisão do Campeonato Catarinense. Tarefa cumprida com título, em campanha concomitante à disputa da Série B, em que o tigre terminou em oitavo lugar, uma posição acima do Londrina.

Este ano de 2023 tem sido ainda melhor para o nosso treinador. Campeão catarinense e vivíssimo na disputa pelo acesso à Série A. Sem nenhum constrangimento, admito aqui, publicamente, que torço sim pelo sucesso do "Kasparov". Nos seis anos em que dirigiu o Londrina (2011 a 2017), Tencati teve sua capacidade questionada constantemente. Nas entrevistas, o "tencatês" era até até motivo de deboche. Mas a verdade é que à exceção de algum jogo aqui, outro ali - afinal, estamos falando de seis temporadas, amigo - nas mãos dele o Londrina pouco foi pequeno.

Seria muito legal se, ao final desta Série B doída pra nós, o Tubarão conseguisse o milagre da fuga do rebaixamento, e o Cláudio Tencati, a glória que ele buscou por aqui e por um desses caprichos do futebol não atingiu.