A ética e os técnicos de futebol
Quando o técnico “abandona” um time para seguir em outro ainda com contrato em vigência está errado? É falta de ética?
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 20 de junho de 2022
Quando o técnico “abandona” um time para seguir em outro ainda com contrato em vigência está errado? É falta de ética?
Julio Oliveira
É consenso de que não há função mais vulnerável neste país do que técnico de um time de futebol. Qualquer trabalhador mantém seu posto pelo envolvimento, dedicação, experiência adquirida, comprometimento e resultados. Para técnicos de futebol só vale o último como garantia de manutenção do cargo. E mais nada.
A diferença para os trabalhadores comuns dentro do sistema de CLT é que estes profissionais se “protegem” pelos contratos. Não são garantia de vida longa, mas são atestado de ressarcimento. A justificativa em se garantirem com os contratos é exatamente pela vulnerabilidade que a cultura do resultado criou em cima da função. Um time que vai mal não pode mandar todo mundo embora. Então, dispensa o técnico.
Cobra-se dos clubes um comportamento diferente. Mais paciência ou mais profissionalismo pode ser parâmetro razoável, mas quando há pressão externa não há ética nem filosofia de trabalho. E, assim, a cultura deste comportamento vai se repetindo com pouca discussão.
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Mas ultimamente tem-se cobrado também a conduta do outro lado: quando o técnico “abandona” um time para seguir em outro ainda com contrato em vigência. Está errado? É falta de ética? Como julgar um profissional que vive num sistema viciado e que ele não pode ter direito à própria escolha?
Não dá pra definir o certo ou o errado se a cultura está pronta e o sistema apenas segue: se o time vai mal dispensa o técnico; se o técnico recebe uma proposta mais interessante, aceita e vai embora. É como se fosse “se você faz eu também posso fazer”.
Acredito que a cultura seja mais impactante na influência das decisões do que encontrar responsáveis diretos. Somos resultado do meio, e o meio ainda é apenas de resultados e não de trabalho.
O escocês Alex Ferguson dirigiu o Manchester United por 27 anos. Precisou de três anos para conquistar a primeira Copa da Inglaterra e sete para o primeiro título nacional. O Flamengo nos últimos três anos dispensou quatro técnicos e desembolsou
R$ 21 milhões em indenizações. E agora contratou Dorival Júnior, que “deixou” o Ceará pelo convite rubro-negro. Ah, procurado, Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza, disse não. Os exemplos e as escolhas estão aí.
São necessárias gerações para mudar uma cultura comportamental ou que surjam atitudes revolucionárias de um setor para termos ajustes mais expressivos. E quem vai contribuir primeiro para este círculo vicioso: times ou técnicos? Enquanto um agir em função da atitude do outro jamais vamos evoluir.
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