Confesso que há algum tempo sou fã de Fernando Diniz. Ainda do tempo em que ele era criticado por fazer seus times iniciar a jogada a partir do goleiro. Não era só teimosia dele. Era o começo de um processo, que muitos preferiam desconstruir focando só nos erros. Hoje, já é uma obrigatoriedade uma linha de zagueiros que saiba sair jogando e não só dar chutões.

Continuei admirador porque não se rendeu às críticas pobres daqueles que não queriam discutir mudanças e não aceitavam um futebol que apresentasse risco por alguém que não tinha “peso” no mercado. Mas a convicção de Diniz, por estar vendo à frente, fez muitos se curvarem e entenderem o que estava sendo proposto. Claro, Diniz também se adaptou, mas não recuou.

Diniz tem um olhar diferente para se jogar futebol. Tem uma maneira única de potencializar jogadores e enxergar perfis distintos no mesmo atleta. E soma isso a um desenho tático que continua surpreendendo.

Muito menos galático e milionário, o Fluminense já vem há duas temporadas mostrando um modelo de jogo que encanta, sendo unanimidade até entre os adversários.

O futebol brasileiro tem alguns rótulos que minimizam alguns potenciais profissionais, como o famoso “não tem título”. E Diniz sofreu muito com essa afirmação como se o reduzisse a um profissional ainda sem condições de entrar numa prateleira maior, independente do que produzia taticamente. Diminuiu, mas não acabou.

Mas os rótulos não pararam. E começou outro questionamento após o anúncio de seu nome como técnico interino simultaneamente dirigindo o Fluminense, como divisão de foco e escolha de jogadores. A resposta já está aí: é semifinalista da Libertadores, sendo o único técnico brasileiro entre os quatro times (com três times brasileiros), e a convocação para os dois primeiros compromissos teve coerência.

Diniz já é o maior legado recente do futebol brasileiro. O que de melhor aconteceu em termos de mudanças nos últimos cinco anos. Diniz trouxe, na prática, que é preciso estudar e ousar muito para ser técnico hoje. Agora vem a Seleção Brasileira, com os dois primeiros jogos, e que o olhar seja mais para o que será possível fazer e não para o placar final de duas partidas.

Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo - A opinião do colunista não representa, necessariamente, a da Folha de Londrina