A cor do preto
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 29 de maio de 2023
Por Julio Oliveira
O esporte sempre teve linguagem própria, na aproximação, cultura, ensinamentos, doutrinas e comunicação. Esporte sempre foi competição, mas começa com disciplina para quem pratica e também para quem acompanha. Não é só torcer. É criar um relacionamento que dura a vida toda e, consequentemente, influenciar-se por tudo aquilo que vem indiretamente desta relação.
Seja no basquete, tênis, vôlei, boxe, futebol ou natação, haverá uma intensidade nesta troca que será marcada por emoções intensas e variáveis ao longo da vida de cada um. Há quem goste muito e quem goste pouco, mas não há quem não se identifique com alguma modalidade e não se emocione em algum momento da vida.
Para o atleta, a busca da auto-superação vem antes do adversário, porque toda luta é primeiramente contra si mesmo. Determinação e muitas privações ao longo de uma carreira para chegar às conquistas grandiosas. Ser vencedor é ser, primeiro, solitário em marcas e números individuais para brilhar para um todo.
Do outro lado está o torcedor, espectador, fã ou só admiradores que esperam sempre o sim.
Sim de ouro, sim de primeiro lugar, sim do melhor e sim de vitória. Dependendo desta intensidade de relacionamento podem aceitar o “não” com tristeza ou rebeldia agressiva, como manifestação para justificar não ter sua felicidade alcançada.
Mas há também os que só querem destruir, diminuir e inferiorizar aquele que é grande, mas é rival, que está do outro lado, que é adversário. Porque, muitas vezes, torcer e vibrar contra também satisfaz aos de coração curto e compaixão pequena. Então, agride e ataca. E para ter certeza de sucesso nesta causa procura sempre uma ferida aberta para apontar o dedo.
O esporte ensina pela vitória e derrota, e também na luta de grandes causas, que influenciam toda uma geração e fica para a história. Mas quando não se aceita perder, o caminho mais curto está na agressão e discriminação.
Vinícius Jr. é o melhor jogador de um dos maiores clubes do mundo. É o melhor da Espanha na atualidade, mas carrega uma ferida histórica que sempre será alvo daqueles de coração insensível quando quiserem atingi-lo: a cor da pele.
Julio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo
A opinião do colunista não representa, necessariamente, a da Folha de Londrina