A Copa do Mundo Feminina de futebol que começa esta semana já é a maior da história. E não é só pelo número de seleções (32) e pela premiação (R$ 800 milhões), mas pelo que representa, já como realidade, o futebol feminino no mundo. Não é mais um esporte masculino praticado por mulheres. É um esporte também praticado por elas.

Essa magnitude do evento é a redenção à luta de décadas para que elas pudessem se estabelecer praticando futebol, e não competindo com os homens, como era a visão inicial. O machismo sempre foi uma maneira de garantir uma “reserva de mercado”, inócua com a evolução dos tempos e, principalmente, pelo desejo feminino de liberdade de escolha.

A curadoria do Museu do Futebol, em São Paulo, pesquisa há tempos a história do futebol feminino no país. Apesar da dificuldade de arquivos, a maioria particulares, há comprovação de que as mulheres já jogavam futebol no Brasil na década de 1920. Mesmo com a proibição, elas enfrentaram um sistema ditado por homens para fazer evoluir o número de praticantes, formação de times e até campeonatos que viriam a surgir já nas décadas de 1960 e 1970 nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

Os relatos deste trabalho de pesquisa colhidos por Aira Bonfim e Luciane de Castro mostram não só a luta, mas os traumas de várias gerações de mulheres que sacrificaram a saúde mental por uma causa. A discriminação e perseguição geraram sequelas, para algumas, irreparáveis. Como exemplo mais recente, Sissi, um dos maiores nomes na história do futebol feminino brasileiro. Considerada um gênio antes de Marta, Sissi chocou uma sociedade raspando a cabeça como promessa e que virou marca de resistência à falta de liberdade. Ainda hoje a ex-jogadora tem dificuldades em falar do período e dificilmente dá entrevistas, tal foi o tempo de pressão e discriminação que viveu.

Pela história de resistência e resiliência, uma Copa do Mundo será sempre um grande evento. A partir de quinta-feira Austrália e Nova Zelândia terão o olhar do mundo, carregando muitas histórias e escrevendo um novo capítulo, porque vai muito além de futebol. Muito além de futebol de mulheres.