Até agora há 180 vagas confirmadas para o Time Brasil nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. A Olimpíada estava marcada para o período de 24 de julho a 9 de agosto do ano passado, mas a pandemia de Covid-19 mudou isso e os jogos foram adiados para começarem no dia 23 de julho deste ano e estão previstos para encerrarem no dia oito de agosto. Em junho do ano passado o COB lançou o Guia para a Prática de Esportes Olímpicos no Cenário da COVID-19. O documento foi elaborado por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, treinadores e consultores seguindo as determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde e observando exemplos e parâmetros bem-sucedidos adotados por entidades esportivas internacionais até o presente momento.

Imagem ilustrativa da imagem O desafio brasileiro de ir aos Jogos Olímpicos em um cenário pandêmico
| Foto: iStock

O Brasil terá nove bases de aclimatação no Japão: Chiba, Enoshima, Hamamatsu, Sagamihara, Miyagase, Saitama, Ota, Koto e Chuo e todos os atletas chegarão ao país no mínimo 15 dias antes de competir. A FOLHA conversou com o vice-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e chefe da Missão Brasileira nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Marco La Porta, para saber como está a preparação da delegação para esta edição dos jogos, que terá protocolos de biossegurança com rigores jamais vistos.

Como ficou a preparação dos atletas com essa questão da pandemia?

A preparação sofreu algumas adaptações. No passado, nós tivemos a Missão Europa para que os atletas pudessem prosseguir no treinamento e retornar com segurança e este ano a gente está vendo por cada modalidade. A situação na Europa não ficou boa, então eles estão treinando no Brasil. Têm alguns que estão treinando no exterior normalmente, mas a maioria está seguindo as recomendações. Não tem nenhum atleta que não tem conseguido treinar adequadamente.

O senhor mencionou essa preparação na Europa. Geralmente os atletas escolhem uma base antes do evento para se preparar. Às vezes ela fica no país sede e outras vezes fica países vizinhos. Com a pandemia bagunçou um pouco essa questão de reservar espaços ou hotéis?

Vai depender muito do calendário internacional de cada modalidade. Tem modalidade que já retornou ao calendário normal e tem modalidade que ainda está esperando. Há muita competição sendo adiada ainda. Eu acho que vai começar a normalizar a partir de abril ou maio. A gente costuma dizer que o Comitê Olímpico vê uma semana de cada vez, porque a gente nunca sabe como estará a situação na semana seguinte. A gente quer realmente antecipar, para poder fazer as marcações necessárias.

E se os jogos forem adiados novamente por conta da pandemia?

Não vai ser. Essa hipótese está totalmente descartada. A gente tem conversado com o COI (Comitê Olímpico Internacional) e com o Comitê Organizador dos Jogos e essa hipótese de ser adiado não existe mais.

A reportagem da Folha conversou com o vice-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e chefe da Missão Brasileira nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Marco La Porta, para saber como está a preparação da delegação para esta edição dos jogos.
A reportagem da Folha conversou com o vice-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e chefe da Missão Brasileira nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Marco La Porta, para saber como está a preparação da delegação para esta edição dos jogos. | Foto: Miriam Jeske/COB

E em relação à questão da vacinação. Há possibilidade dos atletas passarem na frente dos grupos prioritários para a Olimpíada?

Se depender do Comitê Olímpico do Brasil, não. A gente já recebeu uma definição do Comitê Olímpico Internacional que a vacina não será obrigatória para os Jogos. Então a gente entende que no COB será seguido o plano de imunização do Governo. Não vamos pedir prioridade para os atletas. Há uma pandemia mundial e é uma coisa muito mais grave. Há pessoas muito mais necessitadas de serem vacinadas que os atletas. A gente vai esperar o Governo e seguir o plano de imunização normalmente sem pedir para furar fila.

Sem essa obrigatoriedade, embora o Japão tenha a contaminação mais controlada que o Brasil, ainda há risco de contaminação por lá, visto que a Vila Olímpica vai congregar atletas de diversas partes do planeta. Como evitar que isso atrapalhe o Brasil na competição?

Esse é um cuidado que a gente tem conversado muito. É óbvio que você não tem condições de controlar. A gente tenta diminuir o risco do atleta ser contaminado, o que nessa reta final inviabilizaria a participação dele nos jogos. A gente tem um protocolo que a gente testou na nossa Missão Europa no ano passado, que deu muito certo. A gente tenta ao máximo proteger o atleta, tomar as medidas sanitárias e fazer as recomendações para eles evitarem aglomerações, evitarem sair e ficarem muito focados no centro de treinamento e tomarem as medidas necessárias. Mas a gente sabe que pode ocorrer um problema. É mitigar os riscos. O próprio Comitê Organizador dos Jogos já está baixando uma série de medidas para diminuir o risco, seja diminuindo o número de dias que o atleta ficará na vila, seja proibindo deslocamentos para fora da vila. Então é como se fosse uma bolha, para que todos fiquem protegidos.

O senhor mencionou o protocolo de segurança. Fale um pouco dele.

Começa com a testagem antes da viagem. O atleta faz o exame 72 horas antes da viagem. Dando negativo ele viaja normalmente e quando chega no destino ele é isolado e faz o teste novamente. E aí só sai do isolamento se o resultado for negativo de novo. O resultado sai no máximo em 24 horas e aí começa o treinamento. Toda semana ele vai ser testado. A partir do momento que por acaso tiver um caso positivo, a gente isola quem teve contato com ele e testa todo mundo e gente vai controlando caso tenha algum problema. Em paralelo, todas aquelas medidas de álcool em gel, uso de máscaras a gente torna obrigatório o tempo inteiro, com exceção no treinamento. E o tempo inteiro se higienizando com gel. A gente fez isso em Portugal e funcionou muito bem.

E a delegação já está definida ou ainda tem vagas abertas?

Nós temos hoje 180 atletas classificados. Tem muita modalidade que ainda não definiu como será a classificação final em virtude da pandemia. A gente estima que a nossa delegação ficará entre 270 e 300 atletas. A gente espera conquistar mais cem vagas, mas depende dessa definição do calendário. Tem muita modalidade, como o atletismo e a natação, que a classificação é por índice. O atleta que já tem o índice teoricamente já estaria classificado, mas tem que esperar terminar o final do período de qualificação olímpica. Se ele tem o índice, mas se vier outro e fizer um índice melhor que o dele, esse outro tem a prioridade. Por isso a gente não tem esse número ainda fechado.

Será uma edição atípica. Eu acredito que seja sem público também. Como será o diálogo e acompanhamento psicológico do atleta?

É uma preocupação que a gente teve desde o início da pandemia. A preparação mental do atleta, o acompanhamento. Acho que o período mais crítico já passou, porque era aquele período que eles não estavam conseguindo treinar. E aí criaram uma ansiedade muito grande. Agora com o treinamento é outro tipo de ansiedade que a gente controla. É a ansiedade deles quererem competir. De chegar logo a data dos jogos. A gente tem toda uma equipe de psicólogos do comitê olímpico. Os atletas também têm seus psicólogos específicos. Eles trabalham constantemente e fazem reuniões virtuais e algumas presenciais com atletas para poder ter esse acompanhamento e identificar um problema ou outro.

Qual a expectativa do COB para esta edição. A meta de medalhas é igual ou superior à obtida no Brasil?

No ano passado, antes de começar a pandemia a gente não tinha dúvidas que a gente faria uma participação superior a do Rio pelos resultados que os atletas estavam obtendo em 2019, pela preparação que estava sendo feita. Como passamos praticamente um ano sem competição, a gente perde um pouco o referencial, porque você não sabe como está o nosso atleta ou como está o atleta adversário ou se apareceram atletas novos. Fica difícil fazer qualquer tipo de previsão. Você não tem parâmetro para definir por exemplo como será o esporte coletivo. Nenhuma seleção se reúne há quase um ano, então você não sabe como os atletas estarão preparados.

Em relação à comissão técnica? Como serão os cuidados que eles terão que tomar?

A comissão técnica têm que seguir o mesmo protocolo que os atletas, até porque eles têm contato direto com eles e não podem colocar em risco os atletas. A gente tem esse controle e tem conversado com cada comissão técnica dos atletas que já estão classificados ou dos que estão tentando a vaga para recomendar essa questão das medidas de segurança, as medidas sanitárias. Esse contato com as comissões técnicas é muito próximo.

E em relação à família, cuja presença é um componente forte para o suporte emocional aos atletas. Mudou alguma coisa?

Não têm tido a presença dos familiares nas competições, porque elas estão sendo realizadas sem público. Muito provavelmente não será permitida a ida de familiares para o Japão. A gente não tem como autorizar a ida de familiares para Tóquio e nem para as competições. Essa parte entra naquilo que você perguntou sobre a preparação mental. Alguns atletas têm um cuidado com os pais por essa questão da Covid. Então isso realmente influencia um pouco neles, porque não podem ter contato com os pais. A gente tem essa preocupação e disponibiliza psicólogos para eles.

E existe a possibilidade de criar salas virtuais para que torcedores deem apoio para atletas?

Por enquanto não, porque a gente está aguardando a definição de como vai ser o público no Japão. A gente não tem gerência sobre as arenas. A gente não tem como colocar a torcida virtual para os atletas. A gente tem alguns programas que o comitê olímpico desenvolve, como o de embaixadores olímpicos, em que a gente convida campeões olímpicos e medalhistas que já pararam e os coloca para falar com os atletas. Antes a gente fazia isso presencialmente, mas agora a gente vai fazer virtualmente, antes das competições.

Então na Vila Olímpica não tem possibilidade de colocar o público em contato com os atletas virtualmente?

Muito difícil fazer isso. Lá vai ser um ambiente controlado. E tudo é gestão do comitê organizador. A gente só ocupa os quadros.

E o quadro de médicos, preparadores físicos, enfermeiros e fisioterapeutas?

Apenas reforçamos a nossa equipe com infectologistas. Para ter este acompanhamento de atletas que porventura tenham tido Covid ou porventura também possam estabelecer protocolos de mais segurança. A gente trouxe para nossa equipe infectologistas, que têm ajudado. Fisioterapia e outros médicos não teve aumento do quadro.

O Brasil terá o mesmo número de atletas da edição passada?

É uma comparação ruim de fazer, porque no Rio de Janeiro nós tínhamos as vagas automáticas. Todos estavam praticamente classificados. Foram mais de 400 atletas que disputaram os jogos. Esse número dificilmente você vai conseguir alcançar se a competição não for no país sede, como o hóquei sobre a grama, que não se classificou. Esportes coletivos que tiveram vaga assegurada por ser o país sede, em Tóquio não terão essa vaga assegurada.

Onde o Brasil é mais favorito para conquistar medalhas?

Nos esportes que são os carros-chefes. O vôlei, a vela, o judô que sempre trazem medalhas. Agora também temos duas modalidades novas que é o skate o surf, que o Brasil tem atletas muito fortes e devem ajudar bastante no quadro de medalhas.