A responsabilidade deve acompanhar um líder. Em suas atitudes, resultados e até pensamentos. Treinamento realizado recentemente pela empresa Moinho Globo disseminou o conceito de 'accountability´, termo em inglês utilizado para se referir a um conjunto de práticas utilizadas pelos gestores para prestar contas e se responsabilizar pelas suas ações.

A palavra 'accountability' é ainda sinônimo de responsabilização, controle, fiscalização e transparência. Devido a essas características e habitualmente utilizado na gestão pública, as práticas também estão sendo levadas a ambientes corporativos, especialmente em empresas com alta produtividade e com uma cultura de integridade e eficiência.

Assim, o conceito está muito mais relacionado ao compromisso com resultados e com o planejamento estratégico, do que a busca de culpados quando algo não dá certo. A leitura do livro “O Princípio de Oz” norteou a capacitação que durou cerca de dois meses. Publicado em 2004, originalmente em inglês (“The Oz Principle”), o livro, “O Princípio de Oz”, dos autores, Roger Connors, Tom Smith e Craig Hickman, busca ser um guia simples para solucionar problemas nos negócios e na vida pessoal.

Na obra, é possível compreender que líderes e liderados devem ter propriedade e responsabilidade sobre as atividades desempenhadas, de modo a evitar o jogo da culpa ou perder tempo com situações que levam à vitimização, posicionamentos capazes de distanciar cada vez a equipe dos resultados esperados.

A escolha do livro para trabalhar o 'accountability ' foi motivada por uma necessidade de alinhar o posicionamento da diretoria da empresa - que já conhecia o material da capacitação, com o dos gerentes. Com todos centrados na mesma proposta, o próximo passo é elaborar planos de ação para levar o conceito para todos os colaboradores.

TREINAMENTO E PRÁTICA

Focado na implementação deste conceito junto a seus líderes, o Moinho Globo – indústria moageira sediada em Sertanópolis, a 40 km de Londrina – que emprega 230 colaboradores. Para a capacitação, o conteúdo do livro foi dividido em três partes, sendo cada uma delas discutida durante encontros que ocorreram mensalmente, iniciando em junho. De forma híbrida, participaram 22 gerentes - regionais e comerciais - que ganharam o livro da empresa.

A metodologia usada para promover as discussões foi o “Método da Cumbuca”, que consiste no sorteio realizado no início de cada reunião. Dessa forma, todos os participantes deveriam estar preparados para uma possível apresentação do conteúdo previsto para cada encontro. A condução do treinamento, entretanto, não se deu de forma individual, mas sim, com a participação de toda a equipe, que foi ativa nas discussões e debates.

Do ponto de vista da presidente do Moinho Globo, Paloma Venturelli, o propósito fica evidente. “O que é muito rico nesse método, é que além de estarmos trabalhando um tema fundamental para a empresa, também crescemos enquanto indivíduos, já que o debate nos aproxima em busca de um mesmo propósito. E as discussões se tornam ainda mais ricas quando cada um compartilha as suas experiências”, argumenta.

O gerente industrial Cláudio Gonçalves, ressaltou que a leitura de "O Princípio de Oz" foi muito importante. "Identifiquei vários pontos para melhorar minha conduta como gestor. De forma clara e com exemplos reais, o livro torna fácil o entendimento e facilita a aplicação do conceito de 'accountability' no nosso dia a dia dentro da empresa”, diz

A gerente de Garantia da Qualidade, Mirella Felizardo, também fez considerações sobre a capacitação: “O Princípio de Oz explica o 'accountability' na prática, o que não é uma tarefa fácil, mas necessária, para que nós líderes possamos reconhecer a realidade e avaliar situações, antes não tão expressivas, mas que após a leitura nos trouxeram um olhar diferente diante delas”, entende.

Uma característica abordada pelo gerente geral da empresa, Enio Tavares, foi a da autorresponsabilidade. "Aprofundamos e debatemos os pontos que norteiam nossa atuação nos resultados e objetivos. A alta performance passa por eliminar o senso de vitimismo e assumir a responsabilidade na condução dos resultados durante jornada, pois somos os principais agentes", ensina.

A gerente de Recursos Humanos da empresa, Gisele Ré, entende o treinamento como a adesão da empresa à cultura do protagonismo. "Ser flexível, estar aberto a novos conceitos, a aprender coisas novas é sem dúvida nenhuma, uma das competências mais apreciadas pelas empresas, independente do cargo que ocupa, pois estamos vivendo em um mundo volátil, onde nada é acabado, tudo é questionado", pensa.

Gisele Ré, gerente de RH do Moinho Globo: "O treinamento é também uma adesão da empresa à cultura do protagonismo"
Gisele Ré, gerente de RH do Moinho Globo: "O treinamento é também uma adesão da empresa à cultura do protagonismo" | Foto: Divulgacao

MAIS VALOR AO TRABALHO

Psicóloga, há mais de 20 anos com atuação na área de Recursos Humanos, Marcele Karasinski é fundadora da Academia de Si, que atua com programas de aprendizagem e desenvolvimento de 'soft skills' - habilidades como inteligência emocional e tomada rápida de decisões, fundamentais para a vida profissional e pessoal.

Com experiência em treinamento e desenvolvimento de pessoas em empresas multinacionais e nacionais dos segmentos de agronegócio, indústria automotiva e tecnologia, Karasinski é docente para cursos de graduação e pós-graduação em disciplinas voltadas para RH e Gestão de Pessoas (UP, PUCPR e Unicesumar).

Ela considera que estar aberto a novos conceitos é também uma característica positiva e que todo trabalhador deve ter, independentemente da vaga que ocupa. "Uma das competências mais exigidas no momento é a capacidade de aprender a aprender. Isso envolve ser curioso e buscar informações, conhecimentos e experiências sobre diferentes temas e se relacionar com pessoas que pensem diferente ou tenham outras referências", observa.

A psicóloga esclarece que é preciso abandonar alguns preconceitos, paradigmas, pois se abrir a novas ideias e perspectivas faz com que esse profissional seja capaz de absorver e se adaptar com agilidade às mudanças cada vez maiores e mais rápidas dos cenários em que vivemos. "Precisamos aproveitar todas as oportunidades informais de aprendizado que temos no dia a dia e não apenas depender do ensino formal. Algumas alternativas são: processos de mentoria, participar de eventos, grupos e comunidades temáticas, conduzir projetos, empreender, ensinar alguém, fazer trabalhos voluntários, ouvir podcasts, clube do livro, grupos de estudos", sugere.

Após um treinamento como realizado pela empresa Moinho Globo, uma das formas de potencializar o aprendizado é já desenhar um treinamento que contemple momentos de prática em sala de aula, segundo Karasinski. "Alguns estudos apontam que apenas 15% das pessoas que saem de um treinamento colocam em prática o que absorveram e tem sucesso na aprendizagem, tornando aquele conhecimento parte do seu repertório de habilidades."

Marcele Karasinski , psicóloga: "Uma das formas de potencializar o aprendizado é já desenhar um treinamento que contemple momentos de prática"
Marcele Karasinski , psicóloga: "Uma das formas de potencializar o aprendizado é já desenhar um treinamento que contemple momentos de prática" | Foto: Marimabfotografia/ Divulgação

Entretanto, outros 85% tentam e desistem ou nem tentam colocar em prática. Nesse processo é importante que o que foi aprendido seja percebido pelo colaborador como algo que traz valor ao seu trabalho e performance. "É importante também que os líderes atuem no sentido de apoiar a aplicação, tirar dúvidas ou direcionar para um especialista e valorizar aqueles que estão colocando em prática e trazendo resultados para a companhia".

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