Nos refeitórios corporativos, a velha regra do prato saudável é o que também determina uma refeição completa para o trabalhador
Nos refeitórios corporativos, a velha regra do prato saudável é o que também determina uma refeição completa para o trabalhador | Foto: Divulgação


Quarto mês de 2018 começa. E se dentre as metas da virada foram elencados objetivos como emagrecer, parar de fumar ou fazer exercícios, saiba que todos eles podem alavancar pontos na empregabilidade de cada pessoa que não só promete, mas consegue rever e melhorar seus hábitos de vida. A maioria parece não conseguir alcançar tais metas. E a multiplicação de estudos mostrando o crescimento de trabalhadores com sobrepeso, obesidade e doenças relacionadas a isso indica que da parte de quem contrata tais números estão sendo monitorados.
"Pelas NRs (Normas Regulamentadoras) que tratam da saúde no trabalho, os profissionais de saúde devem relatar a condição daquele trabalhador tanto no admissional, quanto ao preencher o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), o que evidencia a importância de dedicar atenção a tudo que promova uma boa condição de funcionamento do organismo", alerta o coordenador da ABRH-PR (Associação Brasileira de Recursos Humanos - seccional Paraná), Edu Trevisan, responsável pelo grupo de trabalho de QSMS (Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde) da ABRH-PR.
Fisioterapeuta especializado em Ergonomia, Trevisan esclarece que a responsabilidade de saber equalizar a rotina de trabalho com uma vida em equilíbrio é do trabalhador, embora a empresa possa ser uma grande aliada na promoção de saúde e qualidade de vida dos colaboradores. "Assim como o uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) precisa de ambos para ser efetivo, o zelo pela qualidade de vida também. Cada trabalhador deveria entender que todo o preparo e profissionalismo são comprometidos quando se sente dor ou se adquire uma doença por negligenciar ao extremo a saúde, muitas vezes, em função de compromissos profissionais. Saber se gerenciar é uma qualidade que cabe a cada profissional", defende.
Da parte das empresas, Trevisan observa o quanto o fator cultural ainda compromete a tomada de decisão para "fomentar e proporcionar" qualidade de vida aos trabalhadores. "A NR 7 deixa claro que o posto de trabalho tem que se adaptar ao trabalhador, por exemplo. Mas na prática não é raro ver pessoas que não possuem a altura ou o peso padrão se adaptando e passando a desenvolver problemas de postura, etc. Além de afetar a performance no trabalho, gera mais custos com afastamentos e uso dos convênios médicos. Fora os casos em que isso evolui para uma lesão permanente, virando um passivo trabalhista e onerando a Previdência", constata.

Mesmo em um cenário de crise, Trevisan explica que quando é o trabalho que não favorece a qualidade de vida, cabe também ao profissional buscar ampliar seu leque de opções. "Conhecimento é poder e a reciclagem de conhecimento precisa ser permanente. É isso que abre as oportunidades para poder escolher o que gosta. Esse fator, embora abstrato, impacta diretamente na qualidade de vida", orienta.

Questão de peso

Dados do Perfil Epidemiológico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT's) em Trabalhadores da Indústria do SESI (Serviço Social da Indústria) há anos dão conta de que mais da metade dos empregados estão acima do peso ideal e 26,3% sofrem de hipertensão. Na mesma toada, há três anos, a empresa administradora de restaurantes corporativos Exal (Excelência em Alimentação), em consulta com mais de 500 trabalhadores de indústrias do Paraná e São Paulo, também registrou no último ano que 52% dos colaboradores estão com sobrepeso ou obesos.

"E esse percentual vem em uma crescente nos últimos três anos, tal qual o que ocorre com a população adulta no mundo", informa a nutricionista e coordenadora de Qualidade da Exal, Sarielly Saurin. Ela conta que junto ao excesso de peso, o grupo avaliado também apresenta as consequências diretas disso. Dos 500 integrantes do grupo que voluntariamente se submeteu à avaliação da Exal em 2017, 20% possui pressão alta e 35% apresenta circunferência abdominal acima do ideal (acima de 88 cm para mulheres e 102 para homens). "Quando passamos a munir as pessoas de informações, seja no buffet colocando no display o valor calórico das porções, ou na mesa com displays comunicando sobre a função de determinados alimentos, percebemos que o comportamento começa a mudar. Isso somado às campanhas e ações que chamam atenção para a prática de exercícios físicos, inclusive como antídoto para o estresse do trabalho. Isso aos poucos vai sendo assimilado, tanto que estamos percebendo uma redução considerável no número de fumantes", comenta.

Segundo a nutricionista, em relação a investimentos para uma alimentação mais saudável nos refeitórios corporativos, o custo não muda. "O que é determinante para uma refeição completa e saudável para o trabalhador é aquela velha regra de metade do prato com salada e a outra metade com uma proteína e um carboidrato. No mais, todo mundo no fundo sabe que é o combustível que você dá para o organismo que garante o desempenho. Não tem como trabalhar na potência máxima depois de comer uma feijoada", pondera.