Com a pandemia, aumentaram os casos de transtornos de ansiedade, depressivos e até síndrome de Burnout, entre outros
Com a pandemia, aumentaram os casos de transtornos de ansiedade, depressivos e até síndrome de Burnout, entre outros | Foto: iStock

Um trabalhador produtivo, focado, criativo e presente. Esse é o perfil ideal do profissional, seja ele o empregado ou empregador. Se o mercado naturalmente já exige tudo isso e a competitividade impõe um ritmo intenso - atualização, qualificação, interesse, rendimento, currículo diferenciado - a pandemia trouxe novos desafios a todos. De acordo com a psicóloga Luciana Aparecida Zanella Gusmão, o número de licenciamentos do trabalho para tratamento da saúde emocional aumentou muito desde o início da pandemia provocada pela covid-19. "A pandemia explicitou nossa vulnerabilidade biológica, nossa necessidade de sociabilidade, afeto e todas as nossas dificuldades para se adaptar às mudanças e desafios impostos", esclarece. "Tal realidade tem sido a causa do aumento significativo no número de licença por problemas psicológicos, como transtornos depressivos, transtornos de ansiedade, síndrome de Burnout, entre outros", acrescenta.

A psicóloga aponta que a saúde emocional representa um promissor investimento para as empresas. Especializada em Análise do Comportamento e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná- UFPR - a profissional apresenta dados relevantes. "Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% da população brasileira sofre de depressão, o que equivale a 12 milhões de pessoas e o Brasil é o país com maior taxa de pessoas com transtorno de ansiedade no mundo – 9,3% da população, ou seja, 19 milhões de brasileiros. É muita gente e muitos em idade produtiva", enfatiza.

Atuante em grupo de estudos de profissionais de saúde focados no desenvolvimento de ações para a cultura da saúde, a psicóloga alerta que a pandemia explicitou aspectos humanos que passavam despercebidos. "Isso já vinha sendo codificado pelo INSS e, com a pandemia, houve uma verdadeira explosão", reflete. Luciana ainda revela que diante do atual cenário, o tema saúde emocional, mais conhecido como saúde mental, vem chamando a atenção dos profissionais de saúde ocupacional e também dos empresários, que têm sentido o impacto do adoecimento emocional de seus colaboradores pois, muitos destes, provam que adoeceram em função de condições do próprio contexto de trabalho, abrindo uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e gerando ônus à empresa.

Com a pandemia da covid-19, a psicóloga explica que ocorreu aumento significativo dos transtornos de ansiedade, transtornos depressivos e transtornos relacionados a traumas e estressores. "Isso porque o medo de se contaminar tornou-se muito presente e tem levado às seguintes possibilidades e desdobramentos: desenvolver a doença, necessitar ficar em isolamento total dentro da sua própria casa ou vir a necessitar de hospitalização, tratamento de terapia intensiva e correr o risco de morte. Ou apenas transmitir a outras pessoas que poderão desenvolver a doença e vir a falecer. Aliado a isso, o medo de vivenciarmos a morte de um ente querido também tem estado presente entre nós."

Programas de prevenção são menos onerosos

Na prática, a pandemia trouxe, também, muita preocupação com questões financeiras, sociais, educacionais e profissionais. As muitas incertezas, pouca controlabilidade e a preocupação com o futuro compõem o cenário propício para o adoecimento emocional", entende. No contexto de trabalho, do ponto de vista da saúde ocupacional, a pandemia provocou uma série de mudanças que ocorreram de forma brusca e intensa afetando a rotina de empresários, gestores e colaboradores: "diminuiu o convívio diário com colegas, surgiu a necessidade de aprender rapidamente novas práticas profissionais, veio a necessidade de ter que se adequar a um ambiente improvisado em função do home office, apareceram os desafios de organizar o tempo para o trabalho, para atender às demandas da casa, da família, dos filhos", enumera.

A dificuldade de adaptação às novas condições é uma realidade e tem gerado sofrimento emocional: "uns estão sentindo os efeitos negativos do home office, estão sentindo-se improdutivos e sofrendo com a solidão. Outros estão preferindo o trabalho em home office, gostando muito da economia de tempo de deslocamento, do conforto e da segurança de trabalhar em casa", comenta. Coube às empresas, agir. "Tanto para empresas públicas como privadas, um novo paradigma se apresentou e o foco na qualidade do trabalho assumiu mais importância do que a quantidade de horas trabalhadas, o que ainda era/é tradicional para muitas empresas". Um novo olhar e uma nova compreensão dos processos de trabalho e acerca dos seus colaboradores estão se fazendo presentes. O foco se tornou o potencial dos colaboradores e os líderes estão sendo desafiados a praticar uma nova forma de liderança.

"É cada vez mais evidente a relação da qualidade emocional com a produtividade", diz a  psicóloga Luciana Aparecida Zanella Gusmão
"É cada vez mais evidente a relação da qualidade emocional com a produtividade", diz a psicóloga Luciana Aparecida Zanella Gusmão | Foto: Divulgação

Segundo a psicóloga, a tendência é que os programas de saúde, até então focados no controle de doenças, passem a priorizar a prevenção de ocorrência de doenças, dentre as quais as mentais ou emocionais. Pois, se as empresas deixarem para agir quando as patologias já estiverem presentes, principalmente as relacionadas aos transtornos emocionais, terão uma significativa redução na produtividade e prejuízos consideráveis com o licenciamento para tratamento de saúde de seus colaboradores."Para as empresas que junto com um colaborador existe um pai ou uma mãe com as demandas dos seus filhos; ou um cuidador de pais idosos, ou uma pessoa sozinha e que sem o trabalho está sentindo solidão, enfim trouxe à tona que cada colaborador tem suas necessidades e limitações", pondera.

Assim, contar com a prestação de serviços do profissional de psicologia na sua empresa, voltado exclusivamente à implantação de programas e projetos de promoção de saúde emocional tem sido um ótimo investimento, pois tem garantido a implantação de uma cultura de saúde na empresa e garantido que você conte com o potencial do seu colaborador.

Colaboradores acolhidos rendem mais

A empresária e presidente da empresa especializada em limpeza e conservação Central Limp, Vera Lucia Ramos Antunes, despertou para a necessidade de que a pandemia estava exigindo mais de seus colaboradores e que como gestora, deveria rever conceitos. Há 23 anos no mercado, 140 de seus colaboradores atuam no HU (Hospital Universitário de Londrina), que tornou-se o hospital de referência para o tratamento da covid-19 em toda a região metropolitana de Londrina. No Brasil, são 720 colaboradores, sendo que o total que atua em clínicas e hospitais voltados para atender infectados pelo vírus, 200.

Vera recorda que no início houve muito medo. "Muitos pediram demissão e decidimos montar um comitê de gestão de crise. Então contratamos uma psicóloga e um enfermeira especializada em hotelaria". O principal objetivo da empresa foi demonstrar cuidado, interesse pelos trabalhadores e o resultado foi o aumento da confiança. "Sentiram-se valorizados, desenvolveram um sentimento de pertencimento e diante de todos os protocolos adotados diante de um vírus letal, entenderam que a limpeza, a higienização e o trabalho deles é tão importante como o dos médicos, pesquisadores, enfermeiros, pois também estão na linha de frente", conta. Vera considera uma responsabilidade muito grande a assumida por sua empresa. "É um momento de reconstrução e por conta da covid-19, passaram a serem mais valorizados, o adicional de insalubridade dobrou e nossos cuidados com eles também". Todo esse conjunto, segundo a empresária, reduziu a rotatividade e por isso considera que o apoio da psicologia foi fundamental para a saúde mental e produtividade de sua equipe.