Em 2020 o home office, ou trabalho remoto, se tornou uma alternativa frente à pandemia do novo coronavírus. Em um curto espaço de tempo muitos brasileiros tiveram que adaptar suas casas para funcionarem também como escritórios. Antes da covid-19, o formato remoto de trabalho já fazia parte da vida de algumas pessoas, e era considerado uma tendência de mercado acelerada pela pandemia, fazendo o número de trabalhadores home office dobrar.

Rebeca Lins, gestora de Gestão e Gente da Belagrícola: "A nossa política de home office é optativa e fica disponível para adesão de 1 a 10 de cada mês"
Rebeca Lins, gestora de Gestão e Gente da Belagrícola: "A nossa política de home office é optativa e fica disponível para adesão de 1 a 10 de cada mês" | Foto: Cláudio Nonaca/ Divulgação

Em Londrina, a empresa Belagrícola, uma das maiores empresas do setor do agronegócio no país, é uma das grandes corporações que já aderiram ao home office de maneira híbrida, quando o funcionário trabalha algumas vezes por semana em casa e outras no escritório. O modelo de trabalho já era considerado pela empresa mesmo antes da pandemia, como conta a diretora de Gente e Gestão, Rebeca Lins: “Nós já tínhamos uma tendência a essa configuração, mas ela ainda não tinha sido implementada pelo mindset (mentalidade) das pessoas. Eu acho que nós caminharíamos de forma mais lenta, mas com a pandemia as pessoas já vêm adaptadas a essa realidade.”

Para saber a opinião dos funcionários a empresa realizou uma pesquisa que tinha por objetivo medir o nível de satisfação no ambiente de trabalho, constatando o interesse da maior parte dos colaboradores em adotar o sistema híbrido. A porcentagem dos colaboradores da Belagrícola que desejaram continuar com o sistema presencial após a pandemia foi de apenas 5%. “Em todos esses casos a sede continua aberta, o trabalho remoto é optativo, salvo em casos de legislação maior de restrições pela pandemia, é completamente optativo, é negociável entre gestor e colaborador. A nossa política de home office foi lançada no início do ano e fica disponível para adesão do dia 1 ao dia 10 de cada mês, já que as situações particulares podem mudar,” comenta a diretora de Gente e Gestão.

AS EMPRESAS

Ulisses Tasqueti, advogado: "As partes devem entrar em acordo para saber de quem será a responsabilidade pelos meios de trabalho, como computador, internet e telefone, que, em regra, são fornecidos pelo empregador"
Ulisses Tasqueti, advogado: "As partes devem entrar em acordo para saber de quem será a responsabilidade pelos meios de trabalho, como computador, internet e telefone, que, em regra, são fornecidos pelo empregador" | Foto: Divulgação

Para o empregador, o regime home office tem poucas diferenças jurídicas em relação ao modo de trabalho presencial. De acordo com o advogado Ulisses Tasqueti, as obrigações do trabalhador como assiduidade, eficiência e cumprimento de metas não mudam. “As exigências para o empregador, além de um aditivo contratual, dizem respeito à estrutura necessária para o trabalho em home office. As partes devem entrar em acordo de quem será a responsabilidade pelos meios de trabalho, como computador, internet e telefone, que, em regra, são fornecidos pelo empregador. A empresa também pode optar por indenizar o empregado, se este já tiver os meios de trabalho e os colocar à disposição,” explica o advogado.

Situações em que o funcionário não tenha a infraestrutura necessária para o trabalho remoto ele pode exigir legalmente que o empregador providencie o que for necessário. Essas questões precisam ser previstas no acordo contratual de migração do regime presencial para o home office. Na Belagrícola, questões trabalhistas, regras e de infraestrutura foram estabelecidas já na Política de Home Office da empresa. Os colaboradores que fizerem a opção pelo modelo híbrido, trabalhando home office pelo menos duas vezes por semana, receberão uma ajuda de custo para despesas com energia e internet, os que quiserem também receberão uma cadeira ergonômica, notebook, fone de mesa e, se necessário, fone e celular. A empresa também adotou o programa “Viva Mais”, em que os colaboradores têm apoio psicológico, nutricional e físico.

O TRABALHADOR

Juliana Felis, assistente de comunicação:  "No começo eu achava o home office muito bom, mas com o passar do tempo fui sentindo falta do ambiente de trabalho"
Juliana Felis, assistente de comunicação: "No começo eu achava o home office muito bom, mas com o passar do tempo fui sentindo falta do ambiente de trabalho" | Foto: Divulgação

A assistente de comunicação Juliana Felis, teve as duas experiências de trabalho durante a pandemia, home office e presencial: “No começo eu achava o home office muito bom, porque a gente acaba ganhando muito tempo, em cada tempo livre eu conseguia aproveitar cuidando de mim de alguma forma, foi uma experiência bem legal. Mas com o passar do tempo, eu fui sentindo falta do ambiente em si, de estar próxima das pessoas e no meu caso, da produtividade. Eu prefiro o regime presencial por causa da produtividade e da interação com as pessoas, mas acho interessante a autonomia que a modalidade híbrida pode proporcionar.”

A falta das relações sociais e do contato com as pessoas, é algo que os trabalhadores sentiram no home office e que as empresas também estão atentas, já que a interação também traz criatividade e inspiração para o dia a dia no trabalho. Espera-se que esta questão seja solucionada com o sistema híbrido, valorizando ainda mais as relações sociais dos colaboradores e transformando por completo escritórios e prédios corporativos que terão suas estruturas físicas adaptadas para que os funcionários possam interagir mais uns com os outros quando estiverem trabalhando presencialmente, eliminando, por exemplo, os escritórios fechados e individuais.

ANÁLISES E TENDÊNCIAS

Abraham Shapiro, consultor e mentor de  gestores: "Eu apostaria num modelo híbrido, mas com a maior parte do tempo no escritório pela interação física"
Abraham Shapiro, consultor e mentor de gestores: "Eu apostaria num modelo híbrido, mas com a maior parte do tempo no escritório pela interação física" | Foto: Divulgação

O home office tem demonstrado ser um solucionador de equações trabalhistas que não encontravam soluções antes da pandemia, mas também tem demonstrado muitas outras nuances que precisam ser consideradas, como pontua o consultor e mentor de gestores e líderes e colunista da Folha de Londrina, Abraham Shapiro. “Se fôssemos fazer uma análise eu apostaria sim em um modelo híbrido, mas com a maior parte do tempo no escritório. Existe um anseio das pessoas retornarem para os escritórios, a razão para isso, é a interação física e também por causa da inspiração.”

Tendência, alternativa ou realidade, o home office funciona apenas para uma parcela dos trabalhadores brasileiros. Como comenta Shapiro, “O perfil do trabalhador home office é em sua grande maioria de pessoas que tiveram acesso à educação e que por consequência alcançaram posições mais administrativas e menos operacionais e em muitos casos, sem nenhum prejuízo da função,” conclui Shapiro.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019 cerca 46,6% da população de 25 anos ou mais de idade estava concentrada nos níveis de instrução até o ensino fundamental completo ou equivalente; 27,4% tinham o ensino médio completo ou equivalente e apenas 17,4%, o ensino superior completo.

Mesmo para a parcela de trabalhadores que se enquadram no modo de trabalho home office, o sistema impõe algumas questões como conflitos no ambiente familiar que se torna o mesmo ambiente de trabalho e lazer. “É importante que não caiamos no anseio de fazer previsões, acredito que as tendências vão se mostrar a partir de novos parâmetros. Caberá aos RH’s perceber quem são as pessoas, como essas pessoas estão rendendo e de que forma nós podemos fazer com que essas pessoas se sintam melhores e se tornem mais produtivas", conclui Shapiro.

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