Médicos também devem se preocupar com a experiência do cliente
Consultor afirma que a competitividade elevada exige do médico, além da resolutividade técnica, a chamada entrega de valor
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segunda-feira, 28 de outubro de 2024
Consultor afirma que a competitividade elevada exige do médico, além da resolutividade técnica, a chamada entrega de valor
Guto Rocha/ Especial para a FOLHA
O mercado de trabalho recebe por ano cerca de 40 mil novos médicos. Esse número expressivo de profissionais disputando vagas e pacientes/clientes coloca já na largada da corrida por um lugar ao sol uma série de desafios. Um dos maiores, e para os quais os cursos de Medicina ainda não dedicam a devida atenção, é a competividade e a entrega de valor para esse mercado.
Esse cenário foi apresentado pelo especialista em Inteligência de Mercado e Elaboração de Proposta de Valor para o Mercado, Renato da Rocha Neto, que falou à uma plateia formada por médicos e enfermeiros durante o 1º Simpósio de Cirurgia Robótica e Urologia, promovido na última segunda-feira (21) pelo Hospital Evangélico de Londrina.
Rocha destaca que essa competitividade deve se intensificar ainda mais nos próximos anos. Ele afirma que as projeções da Associação Médica Brasileira apontam que, nos próximos 10 anos, o número de médicos atuando no Brasil chegue a um milhão de profissionais. Segundo dados apresentados pelo consultor, em 2010, eram 310,8 mil médicos atendendo. Já em 2023, esse número saltou para 562,2 mil profissionais de Medicina. “E quando a gente olha para a diferença entre aqueles médicos que estão saindo do mercado (por aposentadoria, morte ou outra decisão) e o número de novos profissionais que entram todos os anos, percebe que a tendência é de que o número cresça cada vez mais. A Associação Médica prevê que esse número dobre nos próximos 10 anos”, diz.
Diante desses indicadores, o consultor, que é Diretor de Projeto da Litz Estratégia e Marketing, observa que “o médico precisa se preocupar cada vez mais com a competitividade e com sua entrega de valor.” Isso quer dizer, segundo o consultor, que o profissional deve estar atento ao que o torna diferente dos demais, o que ele faz para que o serviço que presta seja reconhecido. “Aí cabe a ele olhar para toda sua jornada de entrega de serviço, desde a maneira como o médico é presente no processo de seleção de paciente, como ele é referenciado nos espaços de busca, como o nome dele é lembrado pelos clientes”, diz.
NÃO BASTA A DIVULGAÇÃO
Rocha enfatiza, no entanto, que o médico que está chegando agora ao mercado, mas também aquele que está há algum tempo, não pode se preocupar apenas com a divulgação do seu trabalho. “Ele pode estar presente no ambiente digital de maneira efetiva, mas precisa se preocupar com toda a sequência da entrega do seu serviço”, orienta.
Isso vai desde o atendimento cordial que o cliente espera da secretária, até as experiências que o paciente/cliente vai vivenciar no ambiente físico. “Não basta mais apenas a resolutividade, junto dela é preciso cordialidade no atendimento. Mas também estar atento com o pós-atendimento. É necessário olhar para essa jornada como um todo, buscar excelência em cada etapa dessa entrega, afinal o mercado está cada vez mais competitivo”, pontua.
O consultor observa que a Medicina ainda mantém o prestígio que a faz ser uma profissão muito procurada pelos jovens. Basta ver a concorrência elevada por uma vaga nos vestibulares para os cursos de Medicina, que está sempre na primeira posição entre os cursos mais disputados. “Os indicadores mostram que a Medicina ainda é uma profissão que tem um resultado financeiro que a coloca entre os melhores resultados do País”, comenta.
Rocha afirma que apesar de ser uma profissão que permite uma sustenbilidade financeira e profissional, o médico precisa “começar a refletir um pouco mais sobre a maneira como ele é reconhecido e como posiciona seus serviços em um mercado cada vez mais competitivo.”
O consultor chama a atenção para a necessidade de uma mudança de mentalidade no que diz respeito à formação do médico. “Muitas vezes esses profissionais são formados para serem técnicos, mas não são formados para se relacionar com o mercado. Há pouco curso de gestão, de entendimento de consumo e de relação com o consumidor (paciente/cliente). A resolutividade do paciente é importante, mas também é preciso cuidar da entrega associada aos sentimentos do cliente”, salienta.